Cid Moreira dificilmente teria espaço no jornalismo de hoje
Um dos mais famosos e mais longevos âncoras do Jornal Nacional, Cid Moreira, que faleceu na última quinta-feira (3), faz parte do imaginário do brasileiro. Quem não o acompanhou entre o fim dos anos 1960 e meados da década de 1990 como um dos titulares do telejornal mais visto da TV brasileira, certamente foi impactado por sua voz potente, que narrava quadros e reportagens do Fantástico, como as apresentações do mágico Mister M.
Muitas vezes apontado como um dos rostos do jornalismo televisivo, um perfil como o de Cid Moreira dificilmente encontraria espaço na apresentação dos noticiários nos dias de hoje. O ex-âncora do Jornal Nacional fez carreira nos telejornais numa época em que uma boa voz contava mais do que a experiência com o fazer jornalístico para estar à frente de uma bancada.
Na última década, ganhou força entre as emissoras a contratação de profissionais experientes, que passaram por grandes redações de veículos impressos e que sabem apurar e fazer fontes, dois elementos básicos para o sucesso de qualquer repórter. Nomes como Renata Lo Prete, Natuza Nery e Andreia Sadi, que hoje brilham nos canais do Grupo Globo, e Débora Bergamasco, da CNN, tiveram uma longa e bem-sucedida carreira na imprensa escrita antes de se transferirem para a TV.
A mudança no perfil dos âncoras de telejornais acompanha a evolução do modo como se consome notícia desde que o acesso à internet foi democratizado. Hoje, um apresentador de telejornal não pode apenas ser um leitor de teleprompter, ele precisa saber repercutir o fato que está noticiando e, em algumas ocasiões, acrescentar informações que apurou por conta própria.
O talento de Cid Moreira com sua voz inconfundível, hoje em dia, seria mais apropriado para programas que tivessem em seu DNA o entretenimento, um segmento que sobrevive e se estabelece ancorado no carisma dos apresentadores e, carisma, Cid Moreira tinha de sobra.
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