'Os Quatro da Candelária' é muito mais que o sexo gay de Bruno Gagliasso
Série mais vista da Netflix desde que estreou na última quarta-feira (30), "Os Quatro da Candelária" viralizou pelas razões erradas. A produção gerou assunto nas redes sociais e mobilizou o público por causa de uma sequência em que Bruno Gagliasso vive momentos quentes com o ator Patrick Congo.
Num contexto cada vez mais conservador que vivemos, é compreensível que uma cena de sexo entre dois homens ainda seja assunto, mas repercutir apenas esse detalhe é reduzir a grandiosidade de um projeto muito executado pelos diretores Luis Lomenha e Márcia Faria.
Embora parta de um acontecimento trágico e real, a chacina de oito jovens nos arredores da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, a minissérie da Netflix está longe de ser um true crime tradicional. A produção tem o grande mérito de dar rostos, vozes e sonhos (ainda que fictícios) para pessoas que, em geral, são tratadas como estatística. Apesar de ter sido banalizado, o adjetivo humanizado cabe perfeitamente em "Os Quatro da Candelária".
A equipe de roteiristas, composta por Renata Di Carmo, Luh Maza, João Ademir, Luis Lomenha e Dodô Azevedo, consegue trazer leveza e sensibilidade para um dos mais vergonhosos crimes cometidos na história recente do Brasil.
Além da história bem elaborada, a escolha certeira do elenco é um fator essencial para a força e para visceralidade de "Os Quatro da Candelária". Andrei Marques, Patrick Congo, Samuel Silva e Wendy Queiroz defendem com muita propriedade a verdade e as nuances de cada protagonista da minissérie, que acerta ao não adotar um tom maniqueísta.
Mais do que gerar empatia, "Os Quatro da Candelária" convida o público a refletir sobre como normalizamos a violência e a exclusão social como parte de nosso cotidiano. É inevitável assistir à minissérie e não se perguntar quantos jovens tiveram vidas ceifadas por causa da truculência policial e pela falta de programas sociais efetivos que pudessem ajudar pessoas em situação de rua. Ainda que de maneira indireta, "Os Quatro da Candelária" questiona: até quando vamos aceitar viver essa anomalia que chamamos de realidade?
Deixe seu comentário