Claudia Abreu ganha no streaming bom papel que não recebia na Globo
Em um dos episódios de "Sutura", série brasileira disponível na Prime Video desde a última sexta-feira (22), a esposa de um paciente atendido pela médica Maya (Lara Tremourox) diz que o marido vai ficar feliz quando souber que o corpo dele fez uma gambiarra para sobreviver. A metáfora da personagem explica bem o conceito de "Sutura", que tem como grande motor da trama um centro cirúrgico improvisado e clandestino no necrotério de um hospital de luxo. Sob comando da prestigiada cirurgiã, Adriana Mancini (Claudia Abreu), e com o auxílio do residente Ícaro (Humberto Morais), o local serve de pronto-socorro para atender emergências de todos os tipos que envolvem criminosos e foragidos da lei.
Por si só, a premissa de "Sutura" já se diferencia bastante de séries médicas consagradas, como "Grey's Anatomy" e "E.R", que tem forte influência do melodrama. Criada pelo roteirista Fábio Montanari, que escreveu séries como "Pico da Neblina" (HBO) e "Só Se For Por Amor" (Netflix), "Sutura" é um sopro de originalidade no audiovisual brasileiro. Apostando numa mistura de thriller e drama hospitalar, a série consegue agradar os fãs dos dois gêneros e entrega uma trama tensa, que prende o espectador e ainda traz à tona questões sociais sem soar panfletário.
A história bem estruturada de "Sutura" se torna ainda mais vibrante graças ao elenco muito bem escolhido. Apesar de relativamente novo, o paulistano Humberto Morais domina completamente seu personagem, Ícaro, um médico recém-formado vindo da periferia que é quase um corpo estranho no hospital de primeira linha onde ele faz residência e onde pessoas como ele dificilmente têm a chance de serem atendidas.
À vontade em cena, Humberto tem uma troca cênica impecável com a veterana Cláudia Abreu, que dá vida a Doutora Mancini, uma médica veterana que não poupa esforços para esconder que enfrenta problemas motores que a impedem de trabalhar. Afastada das salas de cirurgia e com questões relacionadas à saúde mental, Doutora Mancini se joga de cabeça nas operações clandestinas feitas em bandidos para sentir-se viva novamente e, a cada atendimento que faz, ela se envereda mais e mais no mundo do crime pelas mãos de R.C (a excelente e sempre eficiente Yara de Novaes).
Uma das melhores intérpretes de sua geração ao lado de Adriana Esteves, Claudia Abreu encontra em "Sutura" uma personagem digna de seus recursos artísticos. Após passar quase 40 anos na Globo, a atriz não recebia um bom papel na emissora desde que viveu a espalhafatosa Chayene na novela "Cheias de Charme" (2012). Com Dra Mancini, Claudia Abreu tem nas mãos uma mulher contraditória, com muitas camadas e um tanto enigmática. Resultado: ela entrega uma performance memorável e visceral, algo similar ao trabalho que ela realizou no ótimo, mas pouco visto longa-metragem "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança".
Assistir a Claudia Abreu contracenando em "Sutura" com Claudia Missura, Leopoldo Pacheco, Gabriel Braga Nunes, Yara de Novaes e Rejane Faria é a prova incontestável que milhões de seguidores nunca poderão substituir profissionais talentosos. "Sutura" só é uma série pulsante porque combina um ótimo roteiro com um elenco e uma equipe de direção que estão preparados para valorizar uma boa história.
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