'Os evangélicos adoram Tieta': autora avalia volta da novela após 35 anos
Foi com certo espanto que Ana Maria Moretzsohn, uma das responsáveis pela novela "Tieta" (1989), recebeu a notícia de que a novela seria reexibida nas tardes da Globo. "Eu achei estranhíssima essa volta de "Tieta", porque a história tem assuntos polêmicos e essa novela parece o tipo de produção que a Globo não está mais interessada em realizar", avalia.
"Tieta" foi a quarta experiência de Ana Maria nas novelas. Antes, ela tinha colaborado com Walther Negrão em "Direito de Amar" (1987), escreveu "Bambolê" (1987) com Daniel Más, e foi escalada às pressas por Daniel Filho para dar um toque de feminilidade em "O Salvador da Pátria" (1989), que estava sendo considerada uma novela muito masculina.
"Queriam que eu trouxesse mais romance e passei a escrever junto com Lauro César Muniz e Alcides Nogueira", diz ela. Enquanto ainda estava envolvida em "O Salvador da Pátria", Ana Maria recebeu o convite de Aguinaldo Silva para trabalharem junto na adaptação de "Tieta". "Tive que fazer as duas novelas ao mesmo tempo", lembra.
Ana Maria se recorda que o sucesso de "Tieta" pegou todos de surpresa. "Ninguém imaginava que a novela teria a proporção que teve", conta. "Eu não conseguia ir ao cabeleireiro, porque os funcionários do salão sabiam que eu escrevia "Tieta" e me perguntavam milhões de coisas. Não eram só os atores que eram assediados."
Para ela, a repercussão de "Tieta" se deve à forma como a novela foi escrita. "Tieta era uma novela que poderia ser vista pela família inteira. As partes mais pesadas eram tão subliminares que os adultos entendiam, mas as crianças, não", analisa. "E o tom de farsa que nós adotamos ajudava a não ofender ninguém."
Ana Maria tem assistido à reprise e comenta que está surpresa por ver capítulos sendo exibidos praticamente na íntegra. "Achei que iam cortar bastante a novela, mas até agora achei a edição bem tranquila." A autora esperava uma intervenção maior em "Tieta" por notar um "encaretamento" do público por conta do aumento de número de evangélicos no país. "A Globo não quer perder esses espectadores", diz. "Se bem que os evangélicos adoram 'Tieta' por causa daquela sacanagem que fazíamos com os católicos, mostrando as beatas pecadoras."
Outra parcela do público que Ana Maria acredita que "Tieta" tem potencial de atrair são os jovens. "Tieta é uma novela que vai trazer jovens de volta para a TV aberta, porque ela é leve, fictícia, tem um mundo engraçado e diferente. O jovem gosta disso."
Ana Maria, que foi uma das responsáveis por implementar o projeto de "Malhação" e escreveu algumas temporadas da novela, lamenta que a Globo tenha acabado com o programa. "'Malhação' não era só visto por adolescentes. Pais e avós também acompanhavam e, muitas vezes, eu vi em grupos de discussão, depoimentos de adultos falando que só conseguiram tocar em certos assuntos com os filhos por causa de 'Malhação'", recorda a autora. "Sem "Malhação" também perdemos o principal produto que preparava jovens talentos para trabalhar na TV."
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