Ricky Hiraoka

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Opinião

Com ar de comédia romântica, doc de Anitta é feito para repercutir na mídia

Anitta tem a característica inerente a todos os grandes artistas: ninguém é indiferente a ela. Gostem ou não de sua figura, a cantora é assunto por sua música, seus feitos ou pela vida pessoal.

Parte dessa atenção constante que Anitta recebe pode ser explicada pela maneira como ela dominou e estabeleceu a narrativa sobre sua persona. Ela sabe como manter vivo o interesse do público e cria factoides para alimentar a curiosidade a seu respeito. Não é à toa que ela é a maior estrela brasileira do show business no momento.

A nova ferramenta da artista para seguir em evidência é o documentário "Larissa: O Outro Lado de Anitta", disponível desde o dia 6 de março na Netflix. Com a proposta de revelar quem é a criadora (Larissa de Macedo Machado) por trás da criatura (Anitta), o longa é codirigido e narrado por Pedro Cantelmo, namorado de adolescência da cantora, que recebe a missão de mostrar a todos quem é Larissa.

Com uma câmera em mãos, ele acompanha Anitta em variadas situações, já que ela alega que só consegue deixar Larissa vir à tona diante de alguém com quem tem certa intimidade.

Anitta em uma das cenas do documentário "Larissa: O Outro lado de Anitta"
Anitta em uma das cenas do documentário "Larissa: O Outro lado de Anitta" Imagem: Divulgação/Netflix

Essa escolha (inteligente, vale ressaltar) traz um ar de comédia romântica ao documentário e impede que Anitta se desgaste fazendo autoelogios e tentando provar seu valor. Tudo isso é delegado a Cantelmo, que não poupa esforços para venerar e exaltar as conquistas e as qualidades de sua antiga paixão assim como tenta a todo tempo separar Anitta de Larissa.

Nesse processo, em determinado momento da narrativa, o inevitável acontece: Anitta (ou seria Larissa) e Cantelmo revivem o amor da adolescência.

O romance pode soar orgânico e até como uma versão tupiniquim de "Um Lugar Chamado Notting Hill" para a imensa maioria dos fãs da cantora, mas é difícil encarar essa relação com naturalidade. Quando Anitta faz caras e bocas para a câmera de Cantelmo ou solta revelações espontâneas sobre si, a impressão que fica é que ela está mesmo interessada em seduzir e envolver quem está assistindo ao documentário.

Tudo que a artista faz em cena parece milimetricamente calculado para repercutir na imprensa e nas redes sociais ou para revelar uma faceta de sua personalidade que ainda não teve a chance de ser tão explorada midiaticamente.

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Anitta durante a viagem ao Monte Everest
Anitta durante a viagem ao Monte Everest Imagem: Divulgação/Netflix

Ao longo de "Larissa: O Outro Lado de Anitta", Anitta, mais uma vez, domina a narrativa sobre si ao se comparar com Carmen Miranda e ao optar por mostrar um lado frágil e vulnerável. Em uma das sequências de maior valor de produção do documentário, a cantora embarca numa aventura de autoconhecimento numa viagem ao Monte Everest, onde questiona o preço que paga por ser tão famosa.

Apesar de abrir essa brecha de sua vida pessoal, Anitta impõe certos limites sobre o que deseja retratar de Larissa. Ela evita, por exemplo, abordar sua relação com religiões de matriz afrobrasileiras, um tema que sempre gera polêmica.

Após assistir "Larissa: O Outro Lado de Anitta", a sensação que temos é que seguimos sem saber exatamente quem é Larissa, mas conhecê-la não é tão importante assim. Anitta já nos gera entretenimento o bastante e talvez conhecer Larissa estrague um pouco do mito que a cantora criou em torno de si.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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