Coragem, elenco e leveza: o que explica o sucesso da novela 'Beleza Fatal'
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Como se mede atualmente o sucesso de uma novela? Se até o início dos anos 2010 o parâmetro incontestável era o número de espectadores sintonizados nos grandes centros urbanos, hoje em dia, os critérios não são tão óbvios assim.
Com a popularização das redes sociais e o surgimento das plataformas de streaming, os fatores para determinar o êxito ou o fracasso de um projeto se ampliaram e, muitos deles, não são tão matemáticos, como o impacto de uma produção na cultura popular através da criação de memes baseados nos personagens ou o debate de temas tratados em uma novela. Outros critérios nem chegam ao conhecimento público, como aumento do número de assinantes por causa do lançamento de uma obra ou a quantidade de horas assistidas de uma produção.
Nesse cenário diverso e ainda nebuloso em que os profissionais do audiovisual estão aprendendo a navegar, "Beleza Fatal", primeira novela da Max, desponta como fruto de uma era em que o sucesso pode ser gozar de popularidade num nicho específico da sociedade e provocar conversas nas redes sociais, um ambiente dominado por uma minoria ruidosa que consegue pautar a grande imprensa ao ponto de fazer os assuntos que discutem reverberarem como se fossem temas de interesse público. Números seguem sendo muito importantes, mas já não são tão absolutos assim.
Exibida pela Max, uma plataforma que não é a mais popular do Brasil e que luta para ganhar espaço, "Beleza Fatal" conquistou um feito e tanto ao agradar público e parte da crítica especializada com um folhetim que não teve vergonha de modernizar velhos clichês da teledramaturgia. Além disso, a novela ofuscou a reta final de "Mania de Você" e disputou de igual pra igual com o BBB 25 espaço nas redes sociais e nas manchetes dos grandes portais.
Os motivos para tamanha aceitação são vários. A começar, pelos bastidores. A Max foi muito feliz ao contratar profissionais experientes que dominam a arte de fazer novelas, como o autor Silvio de Abreu e Edna Palatinik, que atuou durante anos analisando projetos de teledramaturgia na Globo. É visível que Raphael Montes foi muito bem orientado em sua primeira incursão no gênero. "Beleza Fatal" não caiu na armadilha de ser um híbrido entre série e novela, uma mistura que até hoje não se mostrou eficaz. "Beleza Fatal" tem cara de novela, trama de novela, diálogos de novela.

Raphael Montes tem grande mérito no resultado de "Beleza Fatal" por não ter tido medo de apostar numa trama rocambolesca, mas que prendia a atenção do espectador tal qual fenômenos de popularidade do streaming, como "Casa de Papel".
"Beleza Fatal" beneficiou-se de ser um projeto enxuto (40 capítulos), o que permitiu que o autor entregasse uma narrativa ágil e promovesse um entretenimento descompromissado, que não se leva à sério e que compreende que, diante de uma realidade tão dura, o melhor remédio é uma história mirabolante que serve como um antídoto aos problemas da vida.
Outro fator essencial para a repercussão de "Beleza Fatal" foi o elenco, que é recheado de rostos conhecidos do grande público. Num momento em que a Globo prioriza rostos novos, "Beleza Fatal" entregou medalhões como Camila Pitanga, Giovanna Antonelli, Caio Blat, Camila Queiroz, Henson Capri e Marcelo Serrado.
Na construção desse case de sucesso que é "Beleza Fatal" é preciso mencionar a estratégia de marketing digital que fomentou as redes sociais com materiais para fazer com que a novela se tornasse assunto e caísse nas graças dos internautas.

A Max foi muito inteligente ao usar Instagram, X (antigo Twitter) e outras plataformas para aumentar a visibilidade da novela e criar um diálogo direto com o público. Outras produções da TV aberta e de outros streamings já tentaram esse caminho, mas não foram tão bem-sucedidos quanto Max nessa empreitada.
"Beleza Fatal" chega ao fim hoje, mobilizando fãs ardorosos que estão ansiosos para acompanhar o desfecho da saga de Lola (Camila Pitanga), Sofia (Camila Queiroz) e Elvira (Giovanna Antonelli). A novela superou expectativas e provou que o brasileiro segue amando um bom folhetim.
Mais do que uma trama de sucesso, "Beleza Fatal" pode vir a ser um marco na indústria audiovisual brasileira se ela for a responsável por transformar a Max numa produtora de novelas capaz de desenvolver projetos desse gênero continuamente e fazer frente à Globo, algo que nenhuma emissora conseguiu desde a falência da TV Tupi em 1980.
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