Joe Pantoliano, de 'Bad Boys': "Sempre tive sorte com diretores iniciantes"
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"Bad Boys Para Sempre" retomou a série com Will Smith e Martin Lawrence depois de um hiato de mais de quinze anos, mantendo o mesmo nível de energia cinética e basicamente a mesma estrutura de seus antecessores.
Se existe uma cola que confere unidade ao projeto, além de seus astros, ela tem nome e sobrenome: Joe Pantoliano, que traz humor e conexão emocional como o capitão de polícia com os nervos à flor da pele por ter de lidar com a dupla não muito afeita às regras.
Aos 68 anos, e com mais de cem filmes no currículo, Pantoliano construiu uma carreira sólida como o coadjuvante que eleva o material em mãos, brilhando em filmes tão distintos como "Negócio Arriscado" e "Os Goonies", "Império do Sol" e "Fuga à Meia-Noite", "O Fugitivo" e "Matrix", além de brilhar em "The Sopranos".
Até ver "Bad Boys Para Sempre", eu não havia percebido o quanto é bacana ver o ator em cena, injetando seu sotaque forte de Nova Jersey em cada personagem, emprestando um pouco de sua personalidade para dar vida a papeis tão diversos, ao mesmo tempo tão seus.
Nosso papo aconteceu quando o mundo já estava em quarentena, aquartelado em decorrência da pandemia do coronavírus. Levemente contido no começo do papo, Joe aos poucos se soltou para ir da reunião com a turma em "Bad Boys Para Sempre" à sua paixão pela Hollywood clássica.
Como foi voltar ao mundo de "Bad Boys" com Will Smith e Martin Lawrence?
Foi uma dádiva, divertidíssimo. Eu fiquei muito feliz em estar lá!
Quando você rodou "Bad Boys II", isso há mais de uma década, você chegou a pensar que seria a última vez que faria o papel?
Com certeza. Eles não tinham pensado sequer na primeira sequência, então eu achava muito difícil que houvesse mais uma reunião.
Qual seu método para escolher seus papéis? O que um roteiro precisa ter de tão interessante que você pensa "Eu preciso fazer isso"?
Olha, depende muito, depende de cada projeto. Sempre espero que seja um bom trabalho em um bom filme, e às vezes a gente lê algo que parece tão diferente e tão interessante, mas no fim terminamos perdidos! Outras vezes é pura sorte e somos abençoados pelos deuses criativos. No caso de "Bad Boys" tudo gira em torno da química. É por isso que os dois primeiros foram bem-sucedidos, as pessoas responderam a isso! Já esse terceiro filme trouxe outras coisas na fórmula. Algumas reviravoltas na trama foram mais surpreendentes, o público se divertiu, as cenas de ação são incríveis! É o meu favorito dos três.
Como foi não ter Michael Bay como diretor dessa vez? Ele esteve no set, certo?
Não, ele foi uma única vez para gravar uma ponta, mas não teve nenhum envolvimento como diretor. Mas os garotos (os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah) são ótimos em seu trabalho.
Você tem mais de uma centena de créditos como ator, em algum filmes que fazem parte do tecido da cultura pop. Existe algum papel que as pessoas te reconhecem mais?
Depende com quem a gente conversa. Cada público responde a um filme e a personagens diferentes. "Amnésia" é um filme mais cerebral, então sempre são universitários que lembram do filme e de meu personagem, ou as pessoas que estavam na faculdade quando o filme saiu vinte anos atrás. A comunidade afro-americana responde melhor a "Matrix" e "Bad Boys". Onde eu moro, na área tri-estatal da Costa Leste dos Estados Unidos, anos atrás a lembrança era "The Sopranos"... Mas depende mesmo da geografia! (risos)
Seus personagens aparecem em filmes dos mais variados gêneros. Existe algum estilo em particular que o atrai mais?
Eu adoro fazer comédias. Em minha carreira eu sempre me inspirei em atores como Lou Costello e Harpo Marx. Os grandes comediantes, como Peter Sellers e Buster Keaton. Mas no fim das contas é sempre o personagem. Se ele é interessante, se eu enxergo um modo de transformar o que está no papel em alguém real. E tudo isso se desenha depois que eu converso com o diretor, entender qual sua visão. Eu sempre tive muita sorte, principalmente com diretores iniciantes que sabiam exatamente o que queria e o que estavam fazendo.
E você trabalhou com muitos diretores iniciantes, como as irmãs Wachowski, e "Amnésia" foi praticamente o primeiro filme de Christopher Nolan...
Chris Nolan, as Wachowski em "Ligadas pelo Desejo". Fiz "A Sombra de Um Ídolo", que foi o primeiro filme de Taylor Hackford. "The Final Terror", praticamente a estreia de Andrew Davis... E o próprio Michael Bay!
Que tipo de colaboração um cineasta iniciante busca ao trabalhar contigo? Como é essa troca?
Não é exatamente uma troca. Um diretor te escolhe, pede para que você faça parte da mesma jornada e sempre esperam que você contribua com alguma coisa. Esperam algo original e interessante e ninguém quer desapontar ninguém. E não é uma relação assim tão cerebral... Eles dizem 'ação', eles dizem 'corta', e entre um e outro espero que eles gostem de algo, 'Foi ótimo, vamos fazer mais uma', seguimos em frente e no fim eles montam o quebra-cabeças. É menos papo e mais ação!
Você mesmo dirigiu um filme há alguns anos (o drama "Just Like Mona", de 2003). Como foi a sua experiência como diretor estreante?
Foi um trabalhão! (risos) Mas foi também uma lição em humildade, mas eu adorei fazer... Eu adoro fazer filmes, gosto de tudo, adoro fazer parte disso!
Que tipo de filme chama sua atenção como fã de cinema?
Eu gosto dos clássicos. Vejo muitos filmes antigos... Eu não sei se vocês tem esse canal no Brasil, Turner Movie Classics? Eles fazem homenagens a cineastas, mostras de cinema noir... Billy Wilder, Robert Wise, William Wyler, os grandes cineastas! E eu gosto de ver esses filmes bem antigos, adoro histórias em preto e branco. Tenho visto muita coisa de Peter Bogdanovich, um cineasta brilhante que fez"A Última Sessão de Cinema". E as pessoas precisam assistir a qualquer coisa com o nome de Preston Sturges!
Você sente que as novas gerações não prestam tanta atenção quanto deveriam a filmes antigos?
Sabe, eu também não! (risos) Eu preciso admitir, eu passei boa parte de minha carreira em Hollywood na Warner. Fiz muitos filmes para a Warner. E eu trabalhei no estúdio quando era garoto sem prestar atenção na história de quem caminhou por aquelas calçadas. Humphrey Bogart, Katherine Hepburn... Eles tinham um sistema de trabalho como a Motown. Naquela época todo mundo tinha um contrato com o estúdio. Os atores trabalhavam uns com os outros como se fossem acionistas em uma empresa, e faziam nove, dez, quinze filmes juntos. Só mudavam os personagens. Eu adoraria ter passado por essa experiência, esse tipo de camaradagem. E só consegui fazer algo parecido em filmes com sequências, como "O Fugitivo" e "Bad Boys".
Como você enxerga e estrutura da indústria do cinema quando o mundo puder respirar depois da pandemia e do isolamento?
Olha... Eu sequer tenho certeza se de fato tudo isso vai passar. Ao menos por um bom tempo. Talvez o modo de fazer filmes seja outro. Eu participei de uma sitcom que teve a produção interrompida, e agora eles estão fazendo uma série de entrevistas com o elenco e com quem fez participações... O "Saturday Night Live" tem sido apresentado com cada convidado e cada membro do elenco em suas casas. As coisas mudam... Eu não posso sequer imaginar como as coisas serão em dez anos. Eu não conseguia imaginar como as coisas seriam no set de "Bad Boys Para Sempre"! (risos)
Joe, obrigado e foi um prazer!
Obrigado, Roberto. E fala para o pessoal no Brasil que eu adoro vocês! Se cuida.
"Bad Boys Para Sempre" já está disponível para aluguel e compra digital em streaming
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