'The Mandalorian': O futuro de 'Star Wars' NÃO está no cinema!
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"Baby Yoda." Duas palavras bastaram para recolocar Star Wars em seu lugar de direito na vanguarda da cultura pop. Quando o encerramento da saga espacial no cinema foi arranhado pela performance pífia de "A Ascensão Skywalker" em 2019, parecia que a marca voltaria ao estaleiro indefinidamente. Quem diria que tudo que ela precisava era da ação de um guerreiro solitário.
Essa é, claro, uma boa definição para o protagonista de "The Mandalorian", que chega agora ao Brasil com a estreia da plataforma de streaming Disney+. Mas o termo se adequa mais a Jon Favreau, que tomou para si a tarefa de redefinir Star Wars para o futuro próximo. Vale ressaltar, com a ajuda de alguns amigos.
Voltando um pouco no tempo, a ideia de uma série de TV ambientada no universo de Star Wars não é nova. Quando terminou de dirigir a nova trilogia da série, que mostrou o surgimento e a queda do vilão Darth Vader entre 1999 e 2005, George Lucas já mirava a TV como caminho natural para continuar a exploração de sua criação.
O timing, porém, não ajudou. Lucas encomendou a seu time uma história que desfraldava o submundo de seu universo. Longe da nobreza dos Jedi, ele queria mostrar criminosos, mercenários, traficantes e anti-heróis. A escória por trás do brilho que ele ajudara a transformar em vocabulário pop.
Mas os custos para a televisão do novo século pareciam astronômicos, especialmente pelo compromisso de Lucas em injetar nesse novo capítulo os mesmos valores de produção mostrados no cinema. Mais de cinquenta episódios foram escritos, com a própria Lucasfilm bancando a conta. A empreitada, porém, falhou em achar uma casa nos canais abertos ou na TV a cabo. A ideia foi para a gaveta e lá ficou.
Com a compra da empresa pela Disney, e Lucas finalmente longe do controle criativo da marca que ajudou a mudar o mundo pop, Star Wars foi renascer no cinema. "O Despertar da Força" foi um sucesso absurdo, mas os fãs capitularam com os controversos "Os Últimos Jedi" e, especialmente, com "A Ascensão Skywalker". Parecia que a "galáxia muito distante" entraria em um período de hibernação semelhante ao ocorrido após "O Retorno de Jedi".
Jon Favreau, por sua vez, tinha uma ideia. O diretor que ajudou a alavancar o Universo Cinematográfico Marvel com "Homem de Ferro", e que depois explorou novas tecnologias para o audiovisual com "Mogli" e "O Rei Leão", enxergou uma história dentro do mundo de Star Wars que não entrava em choque com nada apresentado em nove filmes. A Disney, nova dona da bola, enxergou as possibilidades do streaming e topou.
E tudo que Favreau criou foi um western. "The Mandalorian" é faroeste clássico, com um herói solitário desbravando territórios desconhecidos, ganhando o bastante ao vender suas habilidades como guerreiro para manter a mente longe do destino malfadado de seu povo. Um western afinado com a atmosfera de Star Wars.
É uma história clássica de qualquer período pós-guerra. A trama acontece depois de "O Retorno de Jedi". O Império foi derrotado com a morte de Palpatine e de seu braço direito, Darth Vader. Luke Skywalker recuperou a chama dos Jedi e a galáxia parecia rumar para uma nova era de paz e prosperidade.
Mas uma guerra tem consequências. Soldados e oficiais do Império espalhados por todo o universo de repente se viram sem liderança. Como acontece em cenários assim, muitos tornam-se déspotas em seu próprio quintal; outros ambicionam um retorno ao poder. E um vácuo no poder significa somente que outras forças tentarão cobrir essa lacuna.
É nessa narrativa que surge Din Djarin, o guerreiro mandalore interpretado por Pedro Pascal. Reduzido a um mercenário - o melhor entre eles - ele tem como missão resgatar um item para um cliente misterioso (interpretado pelo diretor Werner Herzog) que usa stormtroopers como guarda-costas. O tal item é uma criatura viva, uma criança que demonstra familiaridade com a Força. O "Baby Yoda".
Quando "The Mandalorian" estreou no Disney+ nos Estados Unidos, em novembro do ano passado, a reação dos fãs foi absurda. Pela ambientação, pelo clima de "futuro sujo" adotado por George Lucas desde o "Guerra nas Estrelas" original, pela personalidade fora da lei de seu protagonista. Mas a figura do Baby Yoda elevou a série a fenômeno pop.
Até porque o nome da criatura sequer é esse - ele só é referido como "The Child", ou "A Criança". Não adiantou. Foi como Baby Yoda que o público passou a chamá-lo, e foi por ele que o departamento de produtos licenciados da Lucasfilm, um braço da Disney, começou a se mexer pesado. Logo a iconografia de Star Wars ganhou um símbolo novo e poderoso.
De nada adiantaria, claro, se "The Mandalorian" não fosse uma série muito acima da média. Os episódios curtos compactavam força narrativa. Jon Favreau, ao lado do produtor Dave Filoni, veterano da Lucasfilm ao comandar a série animada "The Clone Wars", cuidaram do desenvolvimento criativo da série.
Com episódios dirigidos por talentos como Rick Famuyiwa e Deborah Chow, além da atriz Bryce Dallas Howard (em sua estreia atrás das câmeras) e de Taika Waititi, "The Mandalorian" não economizou na ação, ao mesmo tempo em que explorou nas entrelinhas temas como paternidade, destino, política e a natureza do bem e do mal. Como resultado, a série garfou sete dos quinze prêmio Emmy na cerimônia realizada em setembro passado.
Visualmente é onde a coisa pega. Favreau trabalhou com uma nova tecnologia que permite a construção de cenários virtuais tridimensionais. O já comum "fundo verde", geralmente substituído por extensões digitais em filmes e séries, foi trocado por uma gigantesca parede de LED que recria cenários foto realistas em ambientes de realidade virtual, com iluminação personalizada para cada cena, capazes de acompanhar o movimento das câmeras.
Ou seja, os atores no estúdio interagem com exatamente aquilo que está em cena: de florestas a cavernas, de desertos ao interior de edifícios. É tecnologia virtual aliada à fotografia real com ambientes digitais, renderizados no set para que os atores saibam exatamente onde estão trabalhando. "Os atores não vão até a locação", disse Favreau. "A locação que agora vem até os atores."
O resultado é tão assombroso quanto revolucionário. A redução de custos é acompanhada de um salto em qualidade, proporcionando a reprodução de qualquer ambiente virtual em um estúdio gigantesco (23 metros de diâmetro e quase 8 de altura), cercado por uma enorme parede circular de LED, que permite a filmagem em todos os ângulos e de todas as formas. A aplicação dessa tecnologia para o cinema sinaliza uma nova forma de perceber o cinema e de criar qualquer mundo em cena.
Tudo isso embalando uma série poderosa e emocionante, que acrescenta mais peças no já extenso mosaico do universo de Star Wars, estendido ao longo dos filmes, de animações, livros, games e histórias em quadrinhos. O sucesso de "The Mandalorian" abre espaço para novos contadores de história, apaixonados como Jon Favreau, contribuírem na mitologia iniciada há mais de quatro décadas por George Lucas.
O próximo da fila é um velho conhecido. Ewan McGregor retomará o papel do mestre Jedi Obi-Wan Kenobi em uma série para o Disney+, apagando em definitivo as linhas que dividem cinema e TV. Enquanto nada é concretizado para a inevitável volta de Star Wars ao cinema, o caminho aberto por "The Madalorian" mostra-se muito mais interessante. E vai ser muito, mas muito difícil encontrar outro pedaço pop tão encantador como o Baby Yoda. Como deve ser.
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