'Star Wars' não abandona o cinema... Mas garante seu futuro no streaming
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A culpa é de "The Mandalorian"! Minha fé em "Star Wars' foi severamente abalada depois que "A Ascensão Skywalker" encerrou a saga no cinema. Foi um golpe pesado. Depois de um recomeço auspicioso com "O Despertar da Força", e um desvio de rota ousado e surpreendente com "Os Últimos Jedi", a série empacou no pedaço de fan fiction mais despudorado do cinema moderno.
Com a decepção com o "Episódio IX", veio o vazio, um vácuo que tomou o lugar da empolgação com o plano inicial da Disney ao adquirir a LucasFilm. Parecia óbvio: explorar, com outros filmes longe da narrativa principal, o vasto universo bolado por George Lucas mais de quatro décadas atrás. O que "Rogue One" conseguiu acelerar, "Han Solo" colocou em ponto morto. Era o fim.
Então veio a plataforma Disney+ como nova caixa de brinquedos do estúdio do Mickey. Jon Favreau (diretor de "Homem de Ferro" e "Mogli, o Menino-Lobo") uniu-se a Dave Filoni (arquiteto das animações "The Clone Wars" e "Rebels") para criar "The Mandalorian", mistura de western com filmes de samurai, uma pérola que eu dissequei aqui, que se mostrou a melhor fatia de "Star Wars" desde... Quer saber, desde "O Império Contra-Ataca"!
Ontem a Disney revelou seus planos para 2021. Foi uma apresentação corporativa, para acionistas da empresa, cobrindo seus produtos com a marca Disney (duh), Pixar, Marvel e Star Wars. Eu esperava um respiro com alguns parágrafos sobre as séries "Obi-Wan Kenobi" (que trará Ewan McGregor de volta como o mestre Jedi) e "Andor" (em que Diego Luna retoma o papel de espiao da Aliança Rebelde, apresentado em "Rogue One"). Além, claro, da terceira temporada de "The Mandalorian".
Eu estava ligeiramente enganado.
Os planos para Star Wars são tão ambiciosos quanto óbvios. O sucesso de "The Mandalorian" oxigenou a marca e impulsionou a Disney a investir pesado na galáxia muito distante. Como levantamos aqui no UOL, serão dez séries para a plataforma Disney+, entre live-action e animação, com personagens novos e também velhos conhecidos, explorando novos territórios e lugares antes visitados. Todas as fases, todos os momentos. Ah, e a diretora de "Mulher-Maravilha", Patty Jenkins, vai dirigir um filme para o cinema (uau!) agendado para o fim de 2023.
O recado foi claro. Star Wars é uma fonte inesgotável de histórias, mas o modo como elas são consumidas experimentou uma mudança drástica. Nem é preciso dizer que o anúncio marcou a expansão mais radical da série desde sua concepção. A mudança de foco é clara. Contando com "O Despertar da Força", foram cinco filmes para o cinema desde que a Disney assumiu a gerência da LucasFilm, sob o comando de Kathleen Kennedy. "The Mandalorian" foi a única série.
O jogo virou radicalmente. Quando o próximo "Star Wars" enfeitar a marquise de um cinema, e será justamente o filme de Patty Jenkins, "Rogue Squadron", já teremos experimentado quase uma dúzia de novos produtos da marca. Não que o cinema esteja fora do baralho - Taika Waititi e o produtor Kevin Feige continuam trabalhando em seus projetos. Mas a Força (sim, com trocadilho) está no streaming.
O que não deixa de ser curioso. Quando George Lucas criou "Guerra nas Estrelas" (estou usando o nome de batismo aqui, respeite minha idade...), suas fontes de inspiração eram óbvias, do trabalho de Akira Kurosawa a filmes clássicos sobre a Segunda Guerra Mundial e - principalmente! - seriados cinematográficos das décadas de 1930 e 1940. O motor narrativo da história de Luke Skywalker contra o Império Galáctico era a estrutura simulada das aventuras curtas que lotavam matinês ao longo dos Estados Unidos.
"The Mandalorian" recuperou, meio que por acidente, essa inspiração original de Lucas. Não por acaso, antes de embolsar US$ 4 bilhões pela venda de sua cria, seu plano era iniciar um seriado no universo criminoso da série. "Star Wars Underground" não saiu do papel (o preço era proibitivo para a primeira década do novo século), mas seu impacto criativo pode ser sentido nos novos projetos que sairão do papel pelos próximos anos.
A partir daí, meu caro, tem para todo mundo. A própria "The Mandalorian" dispara duas séries que compatilham sua linha temporal e surgem de seus criadores. "Ahsoka" acompanha as aventuras da antiga Jedi Ahsoka Tano, interpretada por Rosario Dawson, que persegue um dos personagens mais intrigantes de Star Wars, o Grande Almirante Thrawn. Criado em 1991 pelo escritor Timothy Zahn no livro "Herdeiro do Império", ele migrou para a série "Rebels" e faz a ponte com aventuras da série até então reservadas para os fãs mais hardcore.
Já "Rangers of the New Republic" deve mostrar mais histórias da antiga rebelde Cara Dune (Gina Carano), que em "The Mandalorian" é promovida a uma espécie de xerife trabalhando com a Nova República - vale lembrar que são eventos que acontecem depois de "O Retorno de Jedi". Então é fácil imaginar que a galáxia se tornou um emaranhado de feudos após a queda do Império, e que a Nova República precisa de agentes para manter a ordem.
Expandindo o escopo em séries live action, "The Acolyte" é criação de Leslye Headland, responsável pela excepcional "Russian Doll" (está na Netflix, arrisque!), e é vendida como um thriller sobre "uma galáxia de mistérios escondidos e poderes emergentes do Lado Sombrio", ambientada cerca de um século antes da saga da família Skywalker.
Injetar gêneros diferentes no universo de fantasia da série é, por sinal, a melhor ideia para revitalizar Star Wars. "Lando", que finalmente joga os holofotes no trapaceiro interpretado no cinema por Billy Dee Williams (na trilogia original) e por Donald Glover (em "Han Solo"), pode misturar ação e comédia ao estilo "Onze Homens e Um Segredo" ou "Golpe de Mestre".
Pulando para animação, "The Bad Batch" expande o universo de "The Clone Wars" com um grupo de mercenários agindo nos primeiros dias do Império. "Star Wars: Visions" coloca o tabuleiro da série nas mãos de dez animadores japoneses, no estilo "Animatrix" e "Batman: O Cavaleiro de Gotham". Já "A Droid Story" parece mirar num público ainda com dentes de leite e traz uma nova aventura de R2-D2 e C-3P0 (Anthony Daniels JAMAIS ficará sem um contracheque).
Com essa avalanche, a empreitada de Patty Jenkins parece até flácida. Mas não se engane. A Disney sabe que a pandemia do coronavírus, com as vacinas chegando à população global, terá um ponto final. Ao contrário da Warner, que deu uma metralhada no pé e desagradou parceiros como Christopher Nolan, James Gunn e Denis Villeneuve ao lançar toda a sua agenda de filmes de 2021 paralelamente no cinema e na plataforma de streaming HBO Max (logo eu falo mais sobre isso), a Disney entende que a experiência na sala escura ainda é parte fundamental de seu DNA.
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