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Brutal e descerebrado, "Monster Hunter" é adaptação perfeita de video games
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Com "Monster Hunter", o diretor Paul W.S. Anderson crava sua terceira adaptação de um videogame para o cinema - bom, quarta se a gente colocar "Alien vs. Predador" na mistura. A fantasia de ficção científica protagonizada por Milla Jovovich, casada com Anderson, é também evidência que podemos perder a esperança de ver um jogo traduzido a contento para a tela grande.
Até porque é difícil, bem difícil, enxergar em "Monster Hunter" algo minimamente parecido com um filme. Não existe uma trama reconhecível. Os personagens simplesmente estão lá, ocupando espaço, entrando e saindo de cena sem que a gente saiba absolutamente nada sobre eles. A narrativa basicamente é uma cena de luta esticada, com Milla e o sempre bacana Tony Jaa trocando sopapos e gentilezas enquanto avançam um par de casas no tabuleiro. Ah, e tem uns monstros decentes.
Esse conjunto de tragédias já seria suficiente para classificar "Monster Hunter" como um desperdício de tempo e de ideias, um tijolo aleatório na longa pilha de tentativas fracassadas de espalhar propriedades intelectuais de games em outras mídias. Ainda assim, eu me sinto na obrigação de defender o filme de Anderson: quando as expectativas já estão rastejando, é impossível não sentir certo carinho pelo caos absoluto e pela total brutalidade da empreitada.
Afinal, "Monster Hunter" não nasceu de algum jogo de narrativa sofisticada, que muitas vezes traz mais emoção e conexão do que muita tragédia travestida de cinema - "The Last of Us Part II" é, entre outras coisas, uma história brilhante. Anderson entendeu exatamente qual é a do jogo, e não gastou os neurônios para jogar um perfume de coerência. A ideia é colocar Milla Jovovich no moedor, sofrendo absurdos em um mundo alienígena, penando para destruir criaturas colossais saídas de um pesadelo. E acelerar.
Ok, vamos ao... errr... plot. Milla é Nathalie Artemis, militar de operações especiais que desaparece no deserto (junto com sua equipe) ao investigar o sumiço de outro time. Eles foram, na verdade, transportados por um portal interdimensional para o Novo Mundo, terra árida e violenta, habitada por monstros gigantescos. Quando todo seu pelotão é dizimado (nem se preocupe, você mal vai lembrar o nome ou o rosto deles), ela termina unindo forças com um nativo, o Caçador (Tony Jaa), e juntos eles... Ah, deixa quieto, eles enfrentam monstros e boa.
Aparentemente, os estúdios imaginam que é justamente essa inanição narrativa que atrai o público-alvo primário de "Monster Hunter": adolescentes que querem ver uma mulher casca grossa e um artista marcial saindo no braço com criaturas executadas com a melhor tecnologia digital que o dinheiro pode comprar. Como no game, Artemis e o Caçador (e, em seguida, uma equipe de piratas liderada por Ron Perlman) adquirem armas e armaduras capazes de despachar os bichos. Como no game, esse é o máximo de desenvolvimento de personagem que temos direito. Se é sua praia, é um banquete!
Desde que "Super Mario Bros." chegou aos cinemas em 1993, dúzias de cineastas tentaram decifrar o código funcional de uma propriedade intelectual interativa no cinema. Alguns bons resultados ("Detetive Pikachu", o estranhamente decente "Sonic - O Filme", o bobão "Rampage") são eclipsados pela avalanche de porcaria ("Street Fighter", "Silent Hill", "Hitman", "Assassin's Creed", todo o resto).
O próprio Paul W.S. Anderson ganhou fama ao fazer o deliciosamente cafona "Mortal Kombat" em 1995, e depois foi responsável por minha série de filmes ruins favorita: "Resident Evil", que eu defenderei até meu último fôlego por motivos de guilty pleasure. Mas não acredito que exista nenhum mérito, a não ser econômico, em adaptar um game como filme - inclusive falei sobre isso aqui.
Não que faça diferença. "The Last of Us" está sendo desenvolvido como série pela HBO, com Pedro Pascal e Bella Hamsey à frente. O trailer absolutamente pedestre do novo "Mortal Kombat" foi recebido com furor pela bolha geek. "Monster Hunter" tem tudo para ser um sucesso por aqui. Select game.
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