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Zack Snyder lança Army of the Dead: "A DC não quer saber de minhas ideias"
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Zack Snyder teve um ano cheio. Em 2020, quando o mundo parou devido à pandemia do coronavírus, o diretor debruçou-se sobre trabalho. Um deles foi retomar "Liga da Justiça", superprodução da qual ele se afastou por motivos pessoais, e viu um filme em retalhos, amarrado por Joss Whedon, ser pulverizado em 2017. O outro foi finalizar um projeto com sua assinatura, a mistura de ação, terror e comédia "Army of the Dead".
Não é difícil dizer que o cineasta de 55 anos conseguiu a proverbial volta por cima. O período de luto depois da morte de sua filha foi superado com dedicação ao trabalho. "Liga da Justiça de Zack Snyder" reconstruiu o filme segundo sua visão original e chegou em março à plataforma de streaming HBO Max. Os fãs adoraram (já eu, nem tanto).
"Army of the Dead" amargava um longo periodo de desenvolvimento na Warner, que nunca tirou o filme da gaveta, até a Netflix comprar o projeto e acelerar sua execução. A trama acompanha um grupo paramilitar que precisa entrar em uma Las Vegas infestada por zumbis para resgatar US$ 200 milhões de um cofre. Moleza. As filmagens aconteceram no segundo semestre de 2019 e Zack entrega o filme como um universo em que outras histórias podem ser contadas. Como manda a cartilha do cinema/streaming moderno.
Foi às vésperas da estreia do filme na Netflix que eu conversei com Zack Snyder. Não foi nosso primeiro papo - ainda na extinta revista SET eu acompanhei várias etapas da produção de "Watchmen", e reencontrei o diretor com a mesma energia e paixão por filmes.
No papo a seguir ele fala sobre os bastidores de "Army of the Dead", como é criar um produto original em um cenário tomado por propriedades intelectuais, e porque ele dificilmente vai retornar ao universo que ajudou a desenvolver com os personagens da DC. Sai o Superman, entra o Zumbi Alfa. É a vida.
Foi muito divertido transformar Las Vegas no refúgio dos zumbis?
Preciso ser honesto, foi incrivelmente divertido! Fazer esse filme provavelmente foi, ao lado de "Watchmen", a experiência mais agradável que eu já tive. "Army of the Dead" me possibilitou um reencontro catártico com o cinema, e eu adorei cada segundo em que trabalhei nele.
Tem muita coisa acontecendo no mundo de "Army of the Dead" além do que podemos ver no filme. Desde os créditos de abertura até as possibilidades abertas com o conceito de zumbis inteligentes. A ideia de sugerir um universo maior e expandir a história já existia desde o começo?
Com certeza! O filme termina com um gancho porque obviamente é esse tipo de filme (risos). Então a gente bate na madeira e vê o que acontece! E eu adorei a ideia de explorar a origem dos zumbis na série animada ("Army of the Dead: Lost Vegas", que estreia na Netflix ainda esse ano) ambientada antes dos eventos do filme. Desenvolver essa história como animação me pareceu a maneira mais divertida, sem falar na economia de US$ 300 milhões que custaria para filmar de verdade (risos). E ainda tem o filme dirigido por Matthias (Schweighöfer, que interpreta o arrombador de cofres Ludwig Dieter), uma história que eu desenvolvi com (o roteirista) Shay Hatten para entender algumas referências que usamos em "Army of the Dead". Matthias fez um trabalho espetacular e é uma adição bem engraçada a este mundo.
Desde "300" você desenvolveu um estilo visual único, com a câmera lenta sublinhando a ação e um esquema de cores sempre exuberante. Por outro lado, me parece que "Army of the Dead" traz uma assinatura visual que espelha "Madrugada dos Mortos". Como você escolheu o modo de contar essa história?
Acho que o estilo visual é muito orgânico. Na verdade eu acho que esteticamente se aproxima de "O Homem de Aço", em que eu usei muita câmera na mão. Eu queria que "Army of the Dead" parecesse mais natural, minha influência inicial foram trabalhos de fotojornalismo. Mas quando a gente avança nas filmagens meio que ele assume uma forma única, com as soluções do dia a dia apontando os caminhos ao longo da produção.
E você também assinou a direção de fotografia, o que não fazia desde que rodou seus curtas no começo de sua carreira.
Ser meu próprio diretor de fotografia foi divertido! Quando você roda uma superprodução de super-heróis, por exemplo, você fica muito longe dos atores. Não tem como ficar perto, já que o lugar do diretor é ao lados dos monitores, dentro de uma tenda. Não dá para ficar gritando de longe, qualquer instrução significa parar tudo e caminhar até o set. Dessa vez eu estava no centro da ação, operando câmeras e luz. Eu meio que bani cadeiras do set (risos), eu não queria ninguém sentado porque eu não me sentaria! E foi diferente criar essa atmosfera de filme independente com equipe pequena, mantendo a proximidade com os atores. Estar com a câmera no meio da cena cria uma intimidade com o elenco, o que deixou toda a experiência ainda melhor.
Obviamente o filme traz criaturas feitas por computador, não acho que você tenha achado um tigre zumbi...
(interrompendo) A gente procurou! (risos)
Mas os zumbis me parecem feitos com maquiagem tradicional.
Exato, a gente usou efeitos de maquiagem com os zumbis. Eu queria capturar a ação fisicamente, todos os dias. E Dave Bautista é muito robusto, então achei que seria mais bacana capturar suas reações com os zumbis sem apelar sempre para a pós produção.
Eu acredito que você não tenha destruído Las Vegas...
Tentamos! (risos)
Como foi achar esse equilíbrio entre efeitos digitais e efeitos práticos?
Bom, eu já tive meus problemas em filmes com um volume considerável de efeitos. Desde o começo, porém, eu disse a Marcus (Taormina, supervisor de efeitos visuais) que a gente terminaria gastando muito dinheiro em pós produção porque eu queria algo grandioso. Mas eu queria também que esse processo fosse tão orgânico quando as filmagens com os atores. Então desenvolvemos uma linguagem própria que me permitiu continuar rodando em um ritmo constante, mesmo com a adição dos efeitos especiais. Nossos cenarios eram cercados de telas verdes, e eu sou bom em entender e explicar como funciona esse espaço virtual. Por exemplo, se temos um cenário com telas verdes e alguns carros, eu apontava aos atores onde estaria a Estátua da Liberdade, ou o hotel MGM Grand. Mesmo que tudo pareça o mesmo a eles, eu conseguia orientá-los quando a gente passava a outra parte do roteiro. A gente mudava os carros de lugar, só que em minha cabeça já era um cenário totalmente diferente. Esse processo para mim é fácil, e esse alinhamento da parte física das filmagens com a virtual fez com que a escala do filme fosse gigante.
"Army of the Dead" é uma produção Netflix. Desde o ano passado, a pandemia fez com que o streaming fosse às vezes a única opção de entretenimento para muita gente em todo o mundo. Com o crescimento das plataformas de streaming, a experiência de ver um filme no cinema pode sobreviver ao mundo pós pandemia?
Ah, com certeza! Olha o próprio exemplo de "Army of the Dead". Eu fiz esse filme de uma forma muito específica para a Netflix, planejado para a experiência de assistir em casa. Tentei combinar a intimidade da televisão com a escala de um blockbuster. Daí, o que a Netflix faz? Há duas semanas eles me avisaram que também lançariam o filme no cinema nos Estados Unidos! (risos) Eu disse, beleza! E essa é a discussão acontecendo nesse momento. A Netflix é grande o bastante para ceder seus filmes para o cinema sem machucar seu modelo de assinaturas. Então eles podem fazer o caminho inverso e apoiar os cinemas, fazendo com que as experiências se completem. E é aí que eu enxergo o futuro.
O streaming também te deu a chance de finalizar "Liga da Justiça" até além do modo que você havia planejado originalmente. James Gunn está produzindo "Pacificador" como um spin off de "O Esquadrão Suicida" para a HBO Max. Existe alguma chance de você voltar à DC e expandir o universo que você criou em streaming?
Bom... O problema é que a Warner deixou bem explícito seu desejo de não continuar nada que eu criei. Claro, sem mencionar que eles seguem com a Mulher-Maravilha que eu trouxe para o cinema, ou Jason Momoa como Aquaman, ou mesmo a fundação para "The Flash". São personagens e atores que se tornaram populares, mas eles foram incisivos em seguir sem minhas ideias ou minha supervisão. Infelizmente esse é o caso. Eu adoro os personagens, mas eles não são meus, então eu não tenho nenhum controle sobre eles.
Por outro lado, você é um dos poucos diretores criando histórias originais em grande escala, como "Army of the Dead". Nesse ponto de vista, ainda é divertido lidar com os brinquedos alheios?
Olha, eu nem sei. O projeto que eu estou desenvolvendo agora é grande como "Army", em outro gênero, e é uma história que eu criei. Talvez seja mais divertido agora criar meus próprios brinquedos.
Em um cenário dominado por marcas e propriedades intelectuais, está ficando mais difícil levar uma ideia original a executivos de grandes estúdios?
Sim e não! A verdade é que o desejo de criar e ser proprietário de produtos originais é uma faca que corta para os dois lados. Sim, é mais difícil bater nas portas com algo que não foi testado. Por outro lado, se eles sentirem que você tem algo viável, se te enxergarem como alguém capaz de executar essa ideia, as coisas podem voar. Eu ofereci "Army of the Dead", um universo completo. Isso para eles tem valor. Sem falar que não havia nenhum problema com direitos autorais, eles não tinha de comprar um livro, ou uma série em quadrinhos. Se abraçam a coisa, fica até mais fácil, porque começa e termina comigo. Se alguém tiver qualquer dúvida sobre o que acontece nesse mundo é só perguntar.
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