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Trocando sutileza por histeria, novo "Invocação do Mal" não assusta ninguém
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Quando "Invocação do Mal" chegou aos cinemas em 2013, os filmes de terror precisavam desesperadamente de um respiro. O diretor James Wan não reinventou a roda, preferindo dar-lhe um trato. Voltou seu olhar para o passado e transformou um dos temas mais batidos do gênero - o da casa mal-assombrada - em uma experiência elegante e apavorante.
Foi um sucesso, rendeu uma (ótima) continuação e gerou um "universo" em que elementos pincelados do filme ganharam filmes próprios - de "Annabelle" a "A Freira", com maior ou menor quociente de sucesso. Em Hollywood dinheiro e ideias precisam caminhar de mãos dadas, e a herança de "Invocação do Mal" provou ser bastante lucrativa.
A impressão é que o novo "Invocação do Mal - A Ordem do Diabo" saiu do papel apenas com a parte financeira em mente. O filme traz todo o pedigree de seus antecessores, já que é inspirado em uma história real, baseada nos casos investigados pelo casal Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga, sempre em grande forma). Entrega-se, porém, aos sustos fáceis, deixando sutileza e atmosfera de lado.
O motivo pode estar na troca de guarda. James Wan assume aqui um papel nos bastidores, deixando a direção para Michael Chaves. Seu trabalho anterior, "A Maldição da Chorona", espelha sua abordagem em "A Ordem do Diabo". O terror vem com a histeria do volume alto, com a trilha que quebra o silêncio sem nenhuma sutileza. Pode funcionar - e o filme traz alguns momentos inspirados -, mas é um passo para trás.
O motivo talvez seja a história escolhida. Este terceiro "Invocação do Mal" troca as ameaças sobrenaturais, que forçavam sua influência de maneira aleatória, por um inimigo de carne e osso. A trama é inspirada no julgamento de Arne Johnson, que em 1981 assassinou a facadas seu senhorio - sua defesa alegou que ele agiu sob a influência de uma entidade maligna.
A natureza dessa entidade é objeto de investigação do casal Warren, que depara-se com rituais satânicos e com o mal invocado por uma "bruxa" para prejudicar inocentes. O roteiro, entretanto, perde-se na falta de motivações e na aleatoriedade de suas soluções. Quando Lorraine precisa enfrentar o "vilão" da história no braço, sabemos que é hora de jogar a toalha.
A direção de Chaves é equivocada desde a primeira cena, que traz os Warren em meio ao exorcismo de uma criança, David Glatzel, que seu seu demônio "transferido" para Arne Johnson. Não há sutileza, e sim mesas e cadeiras voando e a entidade urrando ao revelar-se no corpo de David - por sinal, não sei por que zumbis e assombrações gritam como um T-Rex no cinema moderno.
Sem os limites da casa mal-assombrada, "Invocação do Mal" arrisca uma trama de detetive com pitadas de filme de ação que parece deslocada no universo originalmente desenhado por James Wan. Alguns bons momentos, como a recriação de um crime na floresta, que acompanhamos pelas visões de Lorraine Warren, perdem peso com cenas mais vulgares - uma sequência em um necrotério, supostamente apavorante, termina por causar risadas.
Criar um filme de terror não é tarefa fácil. O limite entre o medo e a paródia é tênue, e não basta fotografar a produção com luzes e fumaças, ou caprichar em berros guturais na edição de som. "Invocação do Mal" segue como melhor exemplo moderno de como as melhores histórias são as que trazem soluções mais simples - e, assim, mais familiares e apavorantes para quem está do lado de cá.
Ao apostar nos clichês mais escancarados, por sua vez, "A Ordem do Demônio" mostra que a fórmula do universo sobrenatural de James Wan, que soma agora oito filmes em oito anos, começa a dar sinais de cansaço. É da natureza cíclica dos filmes de terror. E também é a prova que o gênero, já em renovação com filmes como "A Bruxa" e "Hereditário", está pronto para ser mais uma vez reinventado.
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