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'Velozes 9' é tão absurdo e exaustivo que a diversão vence pelo cansaço
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Sabe quando a série "Velozes & Furiosos" tornou-se tão absurda que só faltava mandarem um carro para o espaço? Pois bem, agora não falta mais nada. O nono filme da série não só tem a cara de pau de trazer essa cena, como ela termina nem sendo seu momento mais extravagante.
Tudo, obviamente, é parte do plano. "Velozes & Furiosos", o filme original que completa vinte anos, era uma aventura derivativa, um thriller policial com uma ambientação "moderna", mas não tinha muito espaço para crescer dentro do tema de "mocinhos, bandidos e corridas urbanas".
Vin Diesel, ausente de duas continuações, retornou na quarta aventura e, como produtor, armou o palco para a mudança que veio no filme seguinte. Ambientado no Rio de Janeiro, "Velozes 5" assumiu uma nova identidade como um "Missão Impossível" com esteroides, disse adeus às leis da física e iniciou uma escalada irrefreável.
É até engraçado assistir a "Velozes & Furiosos 9" e lembrar-se de suas origens humildes. Agindo como espiões e agentes internacionais, a turma liderada por Dom Toretto assume missões cada vez mais absurdas, com os roteiristas coçando a cabeça para encontrar novas formas de superar o insuperável - como o carro pendurado nos restos de uma ponte como um pêndulo logo na cena de abertura.
Ainda assim, a série se tornou um dos maiores sucessos do cinema pop moderno. Como dono da bola, Vin Diesel encontrou a fórmula perfeita para preencher as lacunas narrativas em meio à pirotecnia. A primeira providência foi fazer de "Velozes & Furiosos" um caldeirão de representatividade, com personagens multiétnicos convivendo em total harmonia.
A segunda, e mais importante, foi costurar a saga com a importância da família como tema. Não importa a intensidade dos tiros e explosões: são os laços familiares, de sangue e de afinidade, que mantêm o equilíbrio na balança de "Velozes & Furiosos". Por mais exagerado e até piegas que esse encaixe possa parecer, a verdade é que ele funciona.
Assim, nem é tão estranho que, depois de vinte anos e oito filmes, os responsáveis pela série tenham inventado um irmão perdido para Dom Toretto. A adição de John Cena como Jakob Toretto, fora do radar desde a juventude, supre a lacuna deixada pela partida de Dwayne Johnson. Mas também traz a cola dramática que justifica a turma entrar em ação.
"Velozes 9" começa em 1989, em um flashback que mostra os irmãos Toretto testemunhando a morte de seu pai, um piloto de Nascar vitimado em um acidente em plena corrida. A culpa salta de um para o outro e Dom bane seu irmão de cena. Jakob, obviamente, usou o tempo afastado para a) nutrir imenso rancor do irmão mais velho e b) tornar-se ele mesmo um super espião com um exército particular à disposição.
Faz sentido? Nenhum. Assim como também não cola a volta de Han (Sung Kang), morto no sexto filme. E também não espere nenhuma lógica com a trama, que consiste em recuperar um dispositivo capaz de chantagear os governos do mundo (saudades quando o gatilho eram assaltos a bancos), disparando uma caçada que se estende por meia dúzia de países.
Há muito tempo a lógica não dá as caras nos filmes. Para quem já colocou carros fugindo de um submarino, um foguete improvisado em cima de um esportivo turbinado nem espanta mais. A certa altura os heróis usam um ímã gigante como arma, mas sua força de atração parece seletiva quando ativada. E nem vou começar com Vin Diesel surgindo quase como um super-herói de força hercúlea!
O diretor Justin Lin (um dos arquitetos da fórmula da série) desenhou a aventura de modo que ninguém passa muito tempo analisando suas minúcias, já que tudo se move com tanta velocidade e fúria que a mente, depois de tanto estímulo, fica amortecida e acompanha a ação por inércia.
É bacana perceber como Vin Diesel realmente trata "Velozes & Furiosos" como um negócio de família. Aqui ele recupera Jordana Brewster (como sua irmã, Mia) e até Sean e Twinkie, personagens de Lucas Black e Shad Moss (ou Lil' Bow Wow) da pouco festejada terceira parte, "Desafio em Tóquio". Helen Mirren, Kurt Russell e Charlize Theron também ajudam a ligar os pontos.
As duas horas e meia de "Velozes & Furiosos 9" são, obviamente, excessivas. As reviravoltas do texto são, obviamente, previsíveis. Mas o ataque sensorial é tão inclemente, e a conexão emocional tão incontroversa, que é fácil se entregar à diversão, nem que seja pelo cansaço. Ah, temos cena pós-créditos, sinalizando um décimo filme. Ou você acha que eles iam parar por aqui?
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