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Scarlett Johansson despede-se da Marvel em grande estilo com 'Viúva Negra'
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"Viúva Negra" é um filme agridoce. Se por um lado é saboroso finalmente ver Scarlett Johansson defender a personagem em uma aventura própria caprichada, por outro é uma despedida dolorida e definitiva, já que sabemos seu destino trágico dentro do Universo Cinematográfico Marvel.
Em vez de alimentar a mágoa, porém, o melhor é encarar "Viúva Negra" como uma celebração. Que é, de várias maneiras, o espírito do novo filme. A aventura não só reafirma Natasha Romanoff como a heroína mais sensacional que o estúdio gerou, como também assegura a continuidade de legado ao celebrar o poder feminino, como o tema que envolve o filme e, na prática, em sua execução.
Convocar a diretora Cate Shortland, dos festejados "Lore" e "A Síndrome de Berlim", acenou que o novo filme teria mais foco na relação complexa de seus protagonistas do que em ser puramente um espetáculo pirotécnico. Sob sua lente, o escopo imponente de aventuras como "Thor: Ragnarok" e "Vingadores: Ultimato" dá espaço a uma aventura em que os riscos não envolvem destruição global, e sim a redenção do espírito de sua protagonista.
Não é estranho, portanto, quando "Viúva Negra" começa quando Natasha é uma criança, aproveitando uma vida suburbana no interior dos Estados Unidos com sua "família" - na verdade, agentes russos vivendo sob disfarce na América.
Uma emergência os força a abandonar a ilusão, com Natasha (vivida no prólogo por Ever Anderson, filha de Milla Jovovich) e sua irmã postiça, Yelena, separadas de seus "pais", Alexei e Melina (interpretados por David Harbour e Rachel Weisz). As garotas são enviadas para a Sala Vermelha russa, onde serão treinadas como assassinas em nome do governo.
Esse passado morde Natasha nos calcanhares quando a reencontramos. A ação se passa imediatamente depois dos eventos de "Capitão América: Guerra Civil", com a Viúva Negra caçada pelas forças de Thaddeus Ross (William Hurt). Para uma assassina e espiã, porém, não é difícil se desligar do sistema e buscar uma vida oculta enquanto a poeira assenta.
Mas logo Natasha encara a vida que um dia deixou para trás, quando é perseguida por um supersoldado de origem misteriosa, o Treinador (ah, os fãs dos quadrinhos certamente vão encher a paciência aqui...), com pistas que promovem seu reencontro com Yelena Belova, já defendida pela excepcional Florence Pugh.
A trama de "Viúva Negra" é uma variação da fórmula de boa parte do cinema de ação moderno. Natasha descobre por Yelena que a Sala Vermelha jamais foi desativada, e que sua deserção para a S.H.I.E.L.D. fez com que seu diretor implantasse um mecanismo de controle mais eficiente em suas agentes.
Para quebrar o ciclo, a dupla precisa reunir a "família". Alexei, o supersoldado batizado Guardião Vermelho, é um fanfarrão com a mente travada nos anos 1990 que encontra-se em uma mega prisão russa, vangloriando-se de um passado de conflitos com sua contraparte ianque, o Capitão América - confrontos que claramente nunca existiram. Já Melina, igualmente letal como uma das primeiras Viúvas Negras, encontrou um refúgio aparentemente idílico, mas essencial para o sucesso da nova missão.
Todo bom filme parte de um tema que permeia as entrelinhas de sua trama principal. No caso de "Viúva Negra", a história é uma alegoria para o controle forçado exercido por homens em posição de poder sobre mulheres que muitas vezes não tem consciência de seus atos. Essa ideia é costurada com inteligência em um texto que não economiza na ação e que abre espaço para sua protagonista brilhar.
Até porque "Viúva Negra" entrega Scarlett Johansson no auge do controle de sua personagem. Poucos atores tem a chance rara de desenvolver um arco dramático completo, e Natasha Romanoff teve meia dúzia de filmes, e uma contribuição imensa de sua intérprete, para deixar de ser mero adereço (como foi em "Homem de Ferro 2") e firmar-se como uma construção narrativa completa, em especial no arrasa quarteirão "Vingadores: Ultimato".
A ação aqui vai além do acerto de contas com o passado. É a oportunidade de Natasha enfrentar o que ela considera seu maior fracasso, para depois encarar o fim do mundo iniciado em "Vingadores: Guerra Infinita".
Descobrimos, enfim, o que afinal aconteceu em Budapeste (um evento que ela e o Gavião Arqueiro de Jeremy Renner aludem desde "Os Vingadores"), e também de onde surgiram algumas "anotações em vermelho" aludidas por Loki no mesmo filme de 2012 (não, ninguém vem a São Paulo). Isso vem somado a outras referências de aventuras pregressas da Viúva que dão um tempero de continuidade ao filme - sem nunca exigir uma bula de quem busca apenas uma aventura acelerada.
Nem é preciso ressaltar, entretanto, que "Viúva Negra" ainda faz parte do grande tabuleiro Marvel no cinema, e alguns de seus personagens tem potencial imenso de retorno. É o caso de Florence Pugh. Como Yelena, ela mostra-se totalmente integrada ao "espírito" Marvel, traz carisma e verdade à personagem, e pode carregar sem hesitar o legado deixado por Scarlett Johansson - nem preciso avisar que não é aconselhável sair antes do fim dos créditos em um filme da Marvel!
Mesmo com alguns tropeços (alguns efeitos visuais pecam pela falta de esmero; mais uma vez uma produção da Marvel tem em seu clímax coisas grandes e pesadas despencando do céu), "Viúva Negra" encaixa-se à perfeição entre os grandes acertos da Marvel. O que nos faz perguntar, mais uma vez, por que a personagem demorou tanto tempo para ganhar um filme para chamar de seu.
Se é melhor tarde do que nunca, "Viúva Negra" firma-se como uma despedida grandiosa para Scarlett Johansson, que ganhou aqui sobrevida no Universo Marvel e aproveitou a chance ao máximo. É um legado que valorizou a atriz como a estrela que ela sempre foi e mostrou que, mesmo em um mundo de fantasia, a hora de dizer adeus pode misturar júbilo e lágrimas.
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