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"Batman": Novo trailer atesta infinita capacidade de reinvenção do herói
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A jornada de alguns heróis tem começo, meio e fim. "Logan" encerrou a versão de Hugh Jackman para o Wolverine. Daniel Craig despediu-se de James Bond em "Sem Tempo Para Morrer". Nas mãos de Christian Bale, o Batman pendurou a capa em "O Cavaleiro das Trevas Ressurge".
O bacana com personagens icônicos da cultura pop, porém, é sua constante capacidade de reinvenção. A morte significa nada além de uma releitura futura nas mãos de outra equipe criativa. O próprio Homem-Morcego voltou como Ben Affleck nos filmes bancados por Zack Snyder.
Essa troca de guarda é o que mantém os heróis vivos. É justamente o que o novo trailer de "Batman" traz de mais empolgante. Nas mãos de Matt Reeves, a nova aventura do Cavaleiro das Trevas traz todos os elementos que constroem o personagem. Ainda assim, ele surge de uma maneira estranhamente inédita.
Criado por Bob Kane e Bill Finger há mais de 80 anos, o Batman talvez seja o super-herói das histórias em quadrinhos com mais lastro para reinterpretações. Nos próprios gibis ele já surgiu em futuros distópicos, singrando os mares como um pirata e até enfrentando Jack, o estripador, em histórias com o selo Elseworlds.
No cinema ele já foi pop (quando a série com Adam West ganhou versão para a tela grande), já foi gótico (na visão grandiosa de Tim Burton), cômico (as duas galhofas de Joel Schumacher), realista (dirigido por Christopher Nolan, mas pode encher de aspas o tal realismo) e calejado por sua guerra contra o crime (Ben Affleck fez um Homem-Morcego grisalho).
Ao assumir o projeto iniciado justamente pelo próprio Affleck, Matt Reeves parece ter encontrado um equilíbrio curioso. A nova prévia, apresentada ao mundo hoje em preparação para o lançamento em março do ano que vem, sugere a intensidade urbana da visão de Nolan, sem abrir mão da fantasia sombria dos filmes de Burton.
De certa forma, é como uma versão em carne e osso da série animada dos anos 1990, com vilões exóticos (boa sorte em reconhecer Colin Farrell), femme fatales (olá, Zoë Kravitz!), capangas fantasiados e uma polícia nem um pouco disposta a segurar os dedos no gatilho ao encarar o Batman. Tudo embalado num pacote sexy e sofisticado, que não dispensa nem o espetáculo e nem os demônios interiores do herói.
A grande surpresa ainda é Robert Pattinson no papel de Bruce Wayne. Uma das escolhas mais inspiradas na tradução de um gibi para o cinema, o ator inglês passou anos longe das engrenagens dos blockbusters, desde que a série "Crepúsculo" o tornou um astro global, e lapidou seu talento no cinema independente com autores como David Cronenberg, Robert Eggers e James Gray.
"Batman" é uma escolha consciente de se colocar mais uma vez sob os holofotes. Pattinson, porém, é seguro de seu talento o bastante para não se contaminar com a atenção que "Batman" traz, concentrando-se em emprestar seriedade e verossimilhança ao Homem-Morcego.
"Fãs", aqueles chatos que acreditam ser donos dos personagens, são refratários a todo tipo de mudança, de nova direção, de caminhos alternativos. A cultura pop, porém, prova que uma propriedade intelectual só consegue se manter relevante ao longo de décadas quando ela é reinventada e reinterpretada.
O mundo sugerido por Matt Reeves em "Batman" mostra que o diretor entende esse conceito à perfeição. Não deve ser fácil pegar um dos personagens de ficção mais conhecidos em todo o mundo e, sem tirar o que o faz tão reconhecível, adicionar seu próprio tempero. Algo me diz que ele conseguiu.
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