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Novo 'Ghostbusters' acerta em cheio com um coração movido a pura nostalgia
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"Ghostbusters - Mais Além" poderia ser um filme dos anos 1980. Traz o estilo da Amblin de aventura juvenil, com uma história que equilibra sustos e risadas, uma conexão emocional forte e personagens estilo "molecada da casa ao lado". Tem uma certa ingenuidade e a curiosidade que se traduz na habilidade de se meter em encrencas. O toque sobrenatural é a cereja do bolo.
Poderia ser, mais ainda bem que não é! O filme de Jason Reitman, uma continuação tardia de "Os Caça-Fantasmas", é um produto mergulhado no novo século. Ele é muito melhor justamente por causa disso. O que seria convenção três décadas atrás hoje é nostalgia. O que seria um clichê hoje se tornou referência. É uma história que usa seu legado como ferramenta narrativa e o passado como alicerce, e não como muleta.
Legado e família são a moldura que sustentam a história bolada por Jason, que é filho de Ivan Reitman, diretor da aventura original. É curioso observar alguém que viveu não só os bastidores da produção em 1984, mas também experimentou de perto o fenômeno que acompanhou o lançamento de "Os Caça-Fantasmas", desenhar uma trama tão distante de seu ponto de partida.
Talvez essa desconstrução fosse mesmo necessária para que o novo filme pudesse sair da sombra de seu antecessor, mesmo que o plot original ganhe sobrevida nessa releitura. Assim, os espigões de Nova York dão lugar a uma cidadezinha rural no estado de Oklahoma. É para lá que Callie (Carrie Coon), mãe solteira, precisa se mudar com seus dois filhos, o adolescente Trevor (Finn Wolfhard) e a precoce Phoebe (Mckeena Grace).
A ênfase aqui é no "precisar". Assim como os protagonistas da aventura de 1984, o trio está quebrado, sendo sua única posse a fazenda deixada pelo pai recém-falecido de Callie. A situação desconfortável (o lugar está caindo aos pedaços) passa a ser sinistra com estranhos eventos que abalam a paz na cidade. É quando Phoebe descobre que seu avô era Egon Spengler, um dos caça-fantasmas originais, e que a chegada da família pode não ter sido assim tão ao acaso.
Um dos elementos mais bacanas de "Ghostbusters - Mais Além" é que o filme não esconde os acontecimentos de seus dois antecessores (o reboot de 2016, ancorado por Kristen Wigg e Melissa McCarthy, sequer é mencionado). Ou seja, as pessoas, em especial um dos professores de Phoebe, Chad (Paul Rudd), lembra que Nova York foi atacada duas vezes por fantasmas, e que um dia as aparições simplesmente não deram mais as caras.
Essa conexão com o passado é a chave para a trama do novo filme, que conta com o fator nostalgia (olha ele aí) para que o público lembre-se de nomes e criaturas e situações apresentadas há mais de três décadas.
O que não é exatamente uma tarefa difícil. "Os Caça-Fantasmas" é um dos raros filmes que consegue capturar o raio em uma garrafa, uma conjunção perfeita de história bacana, elenco afiado e um diretor que sabia exatamente que tom imprimir. O resultado foi um filme que embala diferentes gerações, testemunho da longevidade de uma marca que manteve-se evidente, às vezes aos trancos, ao longo de diferentes mídias.
Recuperar a série para o cinema parecia questão de honra para Ivan Reitman, que depois do segundo filme, de 1989, freou o desenvolvimento de uma terceira parte quando Harold Ramis, autor do roteiro e justamente o intérprete de Egon, ficou doente e ascendeu para outro plano em 2014, aos 69 anos. Ao produzir este "Mais Além" com seu filho no comando, ele fecha um círculo e rejuvenesce a marca, finalmente revigorada como propriedade intelectual.
Para isso, Jason Reitman, que escreveu o roteiro a quatro mãos com Gil Kenan (diretor de "A Casa Monstro"), confeccionou uma aventura com a cara de seu tempo. É curioso que "Stranger Things", série que se alimenta justamente do clima fantástico criado nos anos 1980 por "Os Caça-Fantasmas", seja por sua vez a influencia no tom e no equilíbrio de emoção, sustos e humor no novo filme - Finn Wolfhard não está no elenco ao acaso.
O show, porém, é mesmo de Mckeena Grace. Phoebe herdou não apenas a personalidade estoica do avô, como também sua habilidade natural para ciência e a sagacidade para entender, afinal, o que está acontecendo no meio de Oklahoma e como isso se conecta com eventos ocorridos em Nova York décadas antes. O roteiro espelha, portanto, pontos da trama do filme de 1984, não só como alavanca narrativa, mas também para nos lembrar que cachorros demoníacos são um barato.
Existe em "Ghostbusters - Mais Além" uma ou outra barriga. Alguns personagens aceitam rápido demais que fantasmas e outras aparições fazem parte do cotidiano, e alguns personagens, em especial Lucky (Celeste O'Connor), a filha do chefe de polícia, que se beneficiaria de algumas cenas a mais para desenrolar melhor sua personalidade e seu papel na trama.
São soluços mínimos, compensados pelo tsunami emocional de um filme que, no papel, tinha tudo para não sair do lugar. Assim como seu pai em 1984, Jason Reitman encabeçou uma ação entre amigos e conseguiu, com "Ghostbusters - Mais Além", uma continuação digna para um dos filmes mais queridos da história do cinema. É um feito e tanto.
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