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'Não Olhe Para Cima': Leonardo DiCaprio volta em um filme todo errado
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Era para ser o filme certo na hora certa. Mirando no absurdo do negacionismo levado a extremos, "Não Olhe Para Cima" traz cientistas encarando uma ameaça com potencial para destruir o planeta, e o governo fazendo cara de paisagem como se nada estivesse acontecendo.
Parece familiar, não? Afinal, nada melhor do que segurar um espelho escancarando o papel ridículo que alguns políticos fazem ante uma crise, e a sátira é a melhor forma de acentuar o absurdo do mundo real.
Mas não foi dessa vez. Depois dos ótimos "A Grande Aposta" e "Vice", o diretor Adam McKay erra a mão com a mistura e entrega um filme confuso, sem foco, pouco engraçado e, pior de tudo, que já nasce velho. É uma sentença de morte para qualquer comédia!
Não podemos dizer, contudo, que a turma não esta se esforçando. Um pouco demais. Talvez "Não Olhe Para Cima" traga a maior coleção de atores de altíssimo calibre tentando, e fracassando vergonhosamente, em ser engraçados.
A começar por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence. Ela é uma candidata a doutorado que descobre um corpo celeste em rota de colisão com a Terra. DiCaprio, o cientista maturado, confirma a descoberta e ambos partem, em pânico, para alertar as autoridades competentes.
Por caminhos burocráticos dolorosamente reais e tortuosos, eles chegam à presidente dos Estados Unidos (Meryl Streep), que ao lado de seu filho/chefe de gabinete (Jonah Hill) fazem pouco caso da descoberta. A dupla de cientistas tenta, então, escancarar a crise para a opinião pública em um programa de TV. Mais uma vez, são chamados de alarmistas e se tornam motivo de piada. O cometa, entretanto, está a caminho!
O elenco inteiro é estelar. Rob Morgan é um cientista que trabalha nas esferas do poder e nunca é ouvido. Cate Blanchett e Tyler Perry são apresentadores de um podcast sensacionalista preocupados com a próxima piada e não com os fatos. Mark Rylance é um bilionário mezzo Steve Jobs, mezzo Elon Musk. Timothée Chalamet é um moleque sem muita noção.
O estilo narrativo de McKay, com cortes rápidos e diálogos espertos, segue intacto, mesmo que não segure mais de duas horas de comédia. As intervenções cômicas espremidas em meio à trama, como o militar que rouba uns trocados da personagem de Lawrence, ou o affair adúltero entre DiCaprio e Blanchett, mais atrapalham do que dão tempero ao filme.
"Não Olhe Para Cima", contudo, não podia prever seu maior algoz em se tornar uma sátira bem-sucedida. É incerto cravar se o filme saiu com muito atraso ou muito cedo. Não consegue ser nem um alerta, tampouco uma reflexão. Cravado neste fim de 2021, com a pandemia seguindo firme com uma nova variante recolocando o mundo em estado de alerta, ele soa ultrapassado.
Até porque cada situação absurda sugerida por McKay é página virada sempre que ligamos o noticiário. É como se o filme gritasse "prestem atenção em mim, olha a situação absurda em que nos encontramos!", e a CNN respondesse com um, "segura aqui minha cerveja".
Para a plateia brasileira, a falta de timing é ainda mais aguda. Quando o filme finalmente abraça a fantasia para ressaltar as consequências extremas do negacionismo, aqui na Banânia o presidente e seu ministro da saúde se recusam a responder ao chamado da ciência, negam vacinas a crianças e condenam uma geração à morte. Em rede nacional. E sem nenhuma consequência. Políticos negacionistas, na realidade ou na ficção, não tem a menor graça.
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