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5 ótimos filmes de Kenneth Branagh como diretor (e um que não vale a pena)
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Kenneth Branagh chegou em Hollywood no final dos anos 1980 e rapidamente estabeleceu uma posição dupla. Com "Henrique V", ele mostrou que Shakespeare estava em seu coração. Por outro lado, não havia nele o menor pudor para encarar uma eventual megaprodução hollywoodiana.
Fosse atrás das câmeras (ele fez o primeiro "Thor"), na frente delas (como, por exemplo, o vilão de "Tenet") ou em tarefa dupla (alguém lembra de "Frankenstein de Mary Shelley"?), Branagh se estabeleceu como uma peça valiosa no tabuleiro do cinemão.
É pura coincidência que suas duas facetas, o autor e o operário, estejam batendo cabeça no cinema. "Morte no Nilo", segunda adaptação de uma obra de Agatha Christie com direção de Branagh, entrou em cartaz agora, mesmo pronto desde 2019. Já o mezzo autobiográfico "Belfast", que concorre a sete Oscar este ano, chega aos cinemas em 10 de março.
Nada mais oportuno, portanto, do que nos lembrar de cinco momentos em que Kenneth Branagh assumiu o comando e entregou filmes de primeira - e um filme que você pode esquecer que existe! Claro, seu trabalho como ator também é extenso. Mas por ora a gente deixa isso de lado, até porque ninguém quer lembrar de seu sotaque russo bizarro em "Operação Sombra: Jack Ryan".
HENRIQUE V
(Henry V, 1989)
Kenneth Branagh interpretou o Rei da Inglaterra na montagem da Royal Shakespeare Company de 1984, com direção de Adrian Noble. Foi essa versão da peça que Branagh levou para o cinema em 1989, marcando sua estreia como diretor. Foi um arraso. Ele deixou de lado o humor e a estilização da versão dirigida por Laurence Olivier em 1944 e transformou o texto em um retrato mais brutal e realista da trajetória do monarca.
Sua visão, provavelmente a melhor adaptação de Shakespeare para o cinema de todos os tempos, pavimentou o caminho para uma abordagem mais suja e violenta da vida no começo do século 15 - a Batalha de Agincourt é um espetáculo brutal banhado a sangue! Um filmaço atemporal e um começo auspicioso para Branagh como diretor.
VOLTAR A MORRER
(Dead Again, 1991)
O sucesso de "Henrique V" escancarou as portas de Hollywood para Branagh. Seu primeiro filme em Los Angeles, porém, deixou o bardo de lado e concentrou-se em uma única missão: entreter. Para isso, o diretor desenhou um mistério neo noir com uma pitada de fantasia que, mesmo sem fazer sentido na metade do tempo, envolve de ponta a ponta.
Branagh, além de dirigir, assumiu o papel do detetive Mike Church, que investiga a identidade de uma mulher sem memória, papel de Emma Thompson. A trama volta no tempo e enrosca-se em um assassinato ocorrido quatro décadas antes, com uma série de reviravoltas mais e mais inverossímeis.
Não tem problema. "Voltar a Morrer" foi um respiro para a sobriedade do texto shakespeareano e mostrou à indústria que Branagh não tinha um único truque na manga. Foi um bom ponto de partida no cinemão em um filme deliciosamente cafona e cheio de estilo.
MUITO BARULHO POR NADA
(Much Ado About Nothing, 1993)
A volta de Branagh a Shakespeare deixou de lado a densidade e os temas complexos para abraçar o entretenimento. "Muito Barulho Por Nada" é uma comédia romântica exuberante que traz um elenco improvável, como Keanu Reeves, Michael Keaton e Robert Sean Leonard, todos dando seu melhor para não fazer feio com o texto.
A melhor inspiração para eles, claro, está em cena. É Denzel Washington, que recebe um casal de noivos e, durante a celebração da boda, armam a união da dupla Benedick (o próprio Branagh) e Beatrice (Emma Thompson), que não só desprezam o conceito de amor mas também um ao outro.
Filmado na região da Toscana, sob o Sol convidativo da Itália, "Muito Barulho Por Nada" traz Kenneth Branagh com a missão de provar que o texto de Shakespeare, além de extremamente acessível, também podia ser divertido e sem nenhum medo de ser bobo e exagerado. Missão cumprida!
HAMLET
(1996)
Não é exagero cravar que Branagh fez aqui a versão definitiva de "Hamlet", possivelmente a peça mais popular de William Shakespeare. Essa versão, épica em escopo, vibrante em seu estilo, não só uma a totalidade do texto original, baseado na montagem de Adrien Noble para a Royal Shakespeare Company, como também expande sua narrativa, executando cenas e diálogos até então implícitos ao longo da peça.
O resultado é um filme com quatro horas de duração, que nem por um segundo deixa de ser imponente e hipnotizante. Ao transportar a ação para o século 19, Branagh troca a aridez da ambientação medieval para as cores e a arquitetura da era Vitoriana. A aposta traduz-se em uma festa para os olhos, indicada em 1997 ao Oscar de melhor direção de arte e de melhor figurino, além de indicações para Patrick Doyle (trilha sonora) e para o próprio Kenneth Branagh (roteiro adaptado).
É a moldura perfeita para contar a história de Hamlet (Branagh), príncipe da Dinamarca que descobre que seu pai fora assassinado pelo atual rei Claudius (Derek Jacobi), auxiliado por sua mãe, Gertrude (Julie Christie). O elenco absurdo ainda traz Kate Winslet, Rufus Sewell, Robin Williams, Gérard Depardieu, Jack Lemmon, Billy Crystal, Charlton Heston e (ufa) Judi Dench.
CINDERELA
(Cinderella, 2015)
Aqui, Kenneth Branagh veste a camisa do "operário do blockbuster" com louvor. O conto de fadas imortal com o selo Disney o deixou mais à vontade para lidar com fantasia do que em "Thor", por exemplo. Em vez de um Deus do Trovão, aqui ele empresta seu talento para contar a história da menina que sofre nas mãos da madrasta malvada e, por intervenção de sua fada madrinha, conhece seu príncipe encantado em um baile.
Ok, a essa altura ninguém precisa ser lembrado da história de "Cinderela". Essa adaptação da animação do estúdio do Mickey traz Lily James no papel principal, cercada do talento de Cate Blanchett e Helena Bonhan Carter (e, vá lá, Richard Madden), em uma empreitada que não quis reinventar nem uma linha, apenas traduzir o desenho com atores de verdade.
Esse tradicionalismo é cercado por uma produção impecável, de cenários luxuosos e figurino caprichado. Não diria que é a melhor maneira de fazer um filme, mas "Cinderela", assim como outros mergulhos modernos no catálogo Disney, é assumidamente um produto feito não para refletir, mas para encantar. Ter Cate Blanchett como uma vilã deliciosamente exagerada é, claro, um bônus.
ARTEMIS FOWL
(2020)
"Artemis Fowl" era para ser um novo "Harry Potter", o primeiro de uma série de aventuras infanto-juvenis que levariam para o cinema a criação de Eoin Colfer. Publicado em 2001, no auge da histeria em torno do bruxo de Hogwart, e da procura por aventuras de personagens com a mesma vibe, o primeiro livro introduziu o gênio de 12 anos, líder de um império do crime, em uma aventura que mistura mistério e fantasia.
O primeiro problema do filme foi o péssimo timing. Embora o projeto estivesse caminhando desde 2001, com um roteiro pronto em 2003, "Artemis Fowl" só pegou tração em 2013, com Branagh chamado para a direção dois anos depois. O lançamento original passou de 2019 para o ano seguinte, e terminou cancelado com a pandemia, estreando na plataforma de streaming Disney+ sem nenhuma fanfarra.
Pudera. "Artemis Fowl" é uma coleção de personagens antipáticos e desinteressantes, em uma aventura que nunca decola. Branagh parece ter dirigido a coisa toda por telefone, e o estúdio não demonstrou nenhum interesse para que o personagem colasse no zeitgeist. No papel, o primeiro ciclo de histórias de Artemis Fowl consiste em oito livros. Na prática, isso se chama "oportunidade desperdiçada".
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