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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que só Andrew Garfield pode salvar o universo do Homem-Aranha no cinema

Andrew Garfield em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" - Sony
Andrew Garfield em 'Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa' Imagem: Sony

Colunista do UOL

06/04/2022 19h50

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"Morbius", um desastre em forma de filme, acentuou um problema corporativo que, inevitavelmente, tornou-se uma complicação criativa. A solução para consertar a bagunça está na cara: Andrew Garfield de volta como o Homem-Aranha.

Ah, antes de mais nada, o texto a seguir está coalhado de SPOILERS de "Morbius" e de outros filmes da Marvel. Siga por sua conta e risco!

Ainda aqui? Beleza, vamos lá.

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O trio de Aranhas em 'Sem Volta Para Casa'
Imagem: Sony

Tirando a brilhante animação "Homem-Aranha no Aranhaverso", o Homem-Aranha teve três encarnações no cinema até hoje (engole o choro, fãs de Nicholas Hammond!).

Tobey Maguire fez três filmes com Sam Raimi. Andrew Garfield encabeçou mais dois com Marc Webb. Quando a Marvel assumiu a produção, Tom Holland entrou em cena.

Fãs satisfeitos, filmes bacanas, rios de dinheiro nas bilheterias. A Sony, ainda dona dos direitos cinematográficos do universo do herói, percebeu então um loop para faturar uns trocados com seus? vilões!

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O simbionte alienígena em 'Venom: Tempo de Carnificina'
Imagem: Sony

Daí a coisa começou a complicar. "Venom" trouxe Tom Hardy como o simbionte alienígena em um filme que, a princípio, foi assumido como parte do universo cinematográfico Marvel.

O segundo filme, "Tempo de Carnificina", jogou essa noção pela janela ao trazer uma cena pós-créditos que mostrava Venom saltando para outro universo e vendo, pela primeira vez, o Homem-Aranha - pela TV, a versão de Tom Holland.

"Morbius" entornou o caldo. O texto deixa claro que a aventura com Jared Leto se passa no mesmo mundo habitado por Venom. Ou seja, um mundo sem Homem-Aranha.

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Jared Leto em 'Morbius'
Imagem: Sony

A cena pós-créditos, porém, traz para este mundo, via "fenda cósmica no céu", o Abutre - ou melhor, Adrian Toomes, interpretado por Michael Keaton em "Homem-Aranha: De Volta ao Lar".

Para complicar, uma segunda cena pós (sim, é moeda corrente) mostra Toomes se encontrando com Morbius, ventilando o nome do Homem-Aranha e sugerindo que eles fizessem uma equipe.

Nada disso faz sentido por mil motivos, o principal deles sendo narrativo. Não há nenhuma razão para Toomes procurar Morbius, muito menos sugerir uma aliança. Eles não têm, afinal, absolutamente nada em comum.

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Adrian Toomes (Michael Keaton), o Abutre, saltou de um universo para outro
Imagem: Sony

Isso é facilmente corrigível graças a "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa". A terceira aventura de Tom Holland como o herói também resgatou o Cabeça de Teia de outras realidades, colocando Tobey Maguire e Andrew Garfield na mistura.

Por conta da pseudo ciência da fantasia, a coisa funcionou. Descobrimos, por exemplo, que o Aranha versão Maguire acertou os ponteiros com sua Mary Jane. Descobrimos também que o Aranha versão Garfield atravessou um período sombrio depois da morte de Gwen Stacy.

"O Espetacular Homem-Aranha", lançado em 2012, foi a tentativa da Sony em reacender o interesse no herói e, seguindo o exemplo da Marvel, alimentar um universo próprio.

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Andrew Garfield em 'O Espetacular Homem-Aranha'
Imagem: Sony

Andrew Garfield é, talvez, o melhor ator a interpretar Peter Parker e seu alter ego. Ele ficou preso, porém, em dois filmes muito preocupados em sugerir uma história maior, um universo, do que resolver suas próprias tramas.

Quando "O Espetacular Homem-Aranha 2" foi lançado em 2014, ninguém estava clamando por produções paralelas com personagens do entorno do herói. A Marvel entrou em cena, Tom Holland foi brincar com os Vingadores e Andrew Garfield ficou a ver navios.

"Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" mudou o jogo mais uma vez. A tal "fenda cósmica no céu" surgia no clímax do filme, devolvendo heróis e vilões desgarrados para seus respectivos mundos.

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Peter Parker (Tom Holland) e o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) começam a bagunca do multiverso
Imagem: Sony

Mas e se algo deu errado no processo? E se um dos Aranhas terminasse em um novo mundo, um lugar que também agregasse outros desgarrados, como Adrian Toomes?

Essa conexão entre os vilões, de Morbius a Venom ao Abutre, passando inclusive por filmes ainda não lançados pela Sony como "Kraven" e "Madame Teia", precisa ser um Homem-Aranha. E esse Aranha precisa ser Andrew Garfield.

De todos os pontos de vista, corporativo e criativo, seria a solução perfeita. O conceito de multiverso foi plantado no público que nunca abriu um gibi na vida, e o sucesso de "Sem Volta Para Casa" espalhou a palavra.

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'Batman' mostrou que é ok um herói aparecer em vários filmes com atores distintos
Imagem: Warner

A concorrência, por sua vez, mostrou ser perfeitamente possível produzir um novo "Batman" sem apagar suas versões anteriores - o filme com Robert Pattinson convive numa boa com o retorno de Michael Keaton como o Homem-Morcego em "The Flash".

Por mais que a memória afetiva com Tobey Maguire seja imensa, seus filmes tiveram um arco dramático completo, uma história com começo, meio e fim ao longo de três aventuras.

Andrew Garfield, por sua vez, teve sua carreira como escalador de paredes cortada no meio, sem nenhuma resolução, com mil pontas soltas.

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Aguardando ansiosamente por 'O Espetacular Homem-Aranha 3'... certo?
Imagem: Sony

Ao trazer este Homem-Aranha em uma mistura que inclui Venom, Morbius e tantos outros vilões que nunca deram as caras no cinema, o estúdio pode amarrar sua cronologia e estabelecer uma linha de filmes paralela ao universo da Marvel. Ao mesmo tempo traz um motivo narrativo para que os cars malvados se unam. Traz um inimigo em comum.

A Sony ganha, assim, seu "Sexteto Sinistro" com um conceito sólido. Filmes aleatórios como "Venom" e "Morbius" ganham novo significado. E Andrew Garfield, que nunca esteve tão em alta em sua carreira, ganha a chance de redimir sua versão do herói. "O Espetacular Homem-Aranha 3". Soa bem: façam acontecer!