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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que nenhuma série jovem chega aos pés de 'Harry Potter'

Daniel Radcliffe em "Harry Potter e a Pedra Filosofal" - Warner
Daniel Radcliffe em 'Harry Potter e a Pedra Filosofal' Imagem: Warner

Colunista do UOL

15/04/2022 04h24

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"Animais Fantásticos: O Segredo de Dumbledore" é, na ponta do lápis, o 11º filme do "Mundo Mágico de Harry Potter", universo que abriga as criações de J.K. Rowling.

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Não é nem de longe um bom filme. Mas, como produto corporativo, pouco importa. Sua mera existência atesta a longevidade de seus personagens fantásticos como parte do tecido da cultura pop.

É um feito que não pode ser subestimado. Desde que fez sua estreia no papel em 1997, e depois no cinema em 2001, Harry Potter tornou-se sinônimo de aventura infanto juvenil, mas foi muito mais além.

Sua combinação de rito de passagem da infância para a adolescência, da luta bem definida do bem contra o mal e da existência de um mundo lúdico onde os sonhos podem se tornar reais traz nas entrelinhas temas que seguem pertinentes para diferentes gerações de fãs.

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Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson em 'Harry Potter e a Pedra Filosofal'
Imagem: Warner

O sucesso do primeiro filme, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", trouxe outro tipo de fenômeno. O fenômeno disparado pelo longa dirigido por Chris Columbus em 2001 abriu os olhos da concorrência para o vasto mercado da literatura para jovens adultos, que experimentava uma fase de ouro atrelada ao sucesso da série de Rowling.

Logo os cinemas passaram a exibir uma fileira de produções que buscavam repetir o sucesso de "A Pedra Filosofal" e suas continuações. Alguns, de fato, conseguiram. Outros ficaram apenas na promessa.

A primeira década do novo milênio trouxe outras propriedades intelectuais da literatura para o cinema. "Crepúsculo" colocou um grupo de adolescentes em meio ao conflito secular entre vampiros. "Jogos Vorazes" trouxe um elenco jovem em uma distopia brutal. As duas séries arrecadaram um punhado de bilhões de dólares.

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Robert Pattinson e Kristen Stewart na série 'Crepúsculo'
Imagem: Paris

A máquina seguiu girando com "Eragon" (que fracassou no primeiro filme), "Percy Jackson" (dois longas, migrando só agora para o streaming em forma de série) e "Artemis Fowl" (esse sequer chegou aos cinemas, evaporando direto na plataforma Disney+).

A lista continua. "Maze Runner" e "Divergente" iniciaram séries em futuros pós-apocalípticos comandados por regimes autoritários - no caso da segunda, não houve fôlego sequer para tirar do papel o filme que encerraria a série.

Agora, em pleno 2022, os estúdios seguem em busca de capturar o mesmo raio mágico em uma garrafa. Mas o fato é que, neste imenso tabuleiro de propriedades intelectuais adolescentes, a única peça que se mantém relevante é "Harry Potter".

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A segunda parte de "Harry Potter e as Relíquias da Morte" encerrou um ciclo do Wizarding World
Imagem: Warner

"Crepúsculo" foi um sucesso e um fenômeno, mas não existe absolutamente nenhuma demanda por um retorno de seus protagonistas em novos filmes. "Jogos Vorazes" fez de Jennifer Lawrence uma estrela, mas o fim da série também decretou o encerramente das atividades de seu universo. O interesse nas duas marcas, só para restringir os exemplos, é zero.

O caso da criação de J.K. Rowling é completamente diferente. Desde o primeiro momento, o estúdio responsável pelos filmes tratou a marca com muito zelo, inclusive depois do lançamento de "Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2", que encerrou o primeiro ciclo deste universo.

Houve um cuidado imenso em seu desenvolvimento para além dos filmes, e cada novo produto era pensado mil vezes antes de ser disponibilizado ao público. O que inclui até uma peça de teatro. "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada".

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O parque temático The Wizarding World of Harry Potter
Imagem: Reprodução
Produtos, por óbvio, nunca faltaram. Claro que Rowling foi a mente criativa que disparou a criação da Escola de Magia de Hogwarts e seus habitantes. Mas foi o trabalho de branding do estúdio que garantiu seu sucesso.

Todos os lançamentos com a marca "Harry Potter" obedecem não ao padrão visual descrito por Rowling em sua obra, e sim ao design desenvolvido para os filmes. Quando este universo foi batizado Wizarding World, ficou claro que o padrão seria aquele que atingiu o maior público: os filmes.

Os produtos, claro, são uma constante há duas décadas. Filmes e livros são a pontinha de um iceberg poderoso que envolve de parques temáticos (nos Estados Unidos, Japão e, em breve, na China) a passeios pelas locações e estúdios na Inglaterra, de brinquedos a toalhas, de reproduções de adereços do filme a videogames.

Confesso estar aqui ansioso pelo lançamento de "Hogwarts Legacy", um jogo de mundo aberto que explora outros personagens e eras do Wizarding World.

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'Hogwarts Legacy', que será lançado ainda em 2022, promete uma experiência imersiva única
Imagem: Warner
Talvez esse seja o segredo da longevidade de "Harry Potter" como produto pop. Duas décadas depois, seu mundo mágico permanece como algo que todos querem - e podem - fazer parte.

Colocar crianças e adolescentes como protagonistas da esmagadora maioria de seu lançamento é a chave, já que a magia encanta quem traz em seu olhar a pureza para ainda acreditar nela.

Não existe isso em vampiros adolescentes ou em guerreiros de um mundo distópico. Mas esse encanto jorra em abundância no Mundo Mágico de Harry Potter.