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'Cidade Perdida': Sandra Bullock resgata charme das boas comédias de ação
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Talvez o mundo tenha sido precipitado ao alardear o fim da comédia romântica. Claro, não temos mais a profusão de títulos bobos, descartáveis e viciantes com Kate Hudson, Jennifer Garner, Katherine Heigl e Matthew McConaughey inundando os cinemas a cada semana. Mas em Hollywood ainda pulsa um coração apaixonado.
Como evidência para o corpo de jurados, eis que Sandra Bullock dá um tempo em sua dieta de filmes sérios no streaming e retorna aos cinemas neste "Cidade Perdida".
É exatamente o tipo de projeto que cairia como uma luva em um multiplex do começo do milênio. Mas para o mundo quase-pós-pandemia, ávido por diversão ligeira, está de bom tamanho.
A trama é mais ou menos assim. Loretta Sage (Sandra Bullock) é uma autora de romances baratos e está de saco cheio do próprio sucesso. Desde a morte do marido, ela acha que sua obra não passa de exploração barata do trabalho de pesquisa real que os dois há muito fizeram juntos.
Por outro lado, Alan (Channing Tatum) não tem do que reclamar. Há anos ele surfa na fama dos livros de Loretta por ser o modelo de todas as suas capas. As fãs, sempre entusiasmadas, invariavelmente o chamam pelo nome do herói das aventuras, Dash.
Quis o destino que, ao fugir no meio da turnê de divulgação de seu trabalho mais recente, "A Cidade Perdida de D", Loretta é sequestrada pelo biliardário Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe, curtindo cada segundo), que acredita nas habilidades da escritora para decifrar um pergaminho e encontrar de fato a cidade perdida que ela sugere em seus livros. Levada para uma ilha no meio do Atlântico, ela vê suas opções diminuírem até que Dash... ou melhor, Alan, vem a seu resgate.
Faz algum sentido? Não, nenhum. Mas a tradição da screwball comedy, ou comédia maluca, é justamente partir de uma premissa absurda e não deixar a peteca cair em nenhum momento. A realidade é enfadonha, "Cidade Perdida" mostra que o mundo construído no filme é muito mais bacana.
A partir daí, sabemos exatamente o que vai acontecer. Alan tem uma queda óbvia por Loretta, que por sua vez nunca enxergou nele nada além de um modelo boboca e sem absolutamente nenhum tutano.
Perdidos na selva, os dois descobrem um lado atraente um no outro e tentam, porque o roteiro determina, encontrar o tesouro, com Fairfax usando sua fortuna para caçar a dupla e concluir seus objetivos egoístas.
"Cidade Perdida" tem a consistência de algodão doce, e o mesmo sabor. O texto extremamente derivativo é conduzido por energia pelos irmãos diretores Adam e Aaron Nee.
Sempre que o filme ameaça sucumbir sob o peso de sua própria inépcia, Bullock e Tatum elevam o charme, declamando linha após linha de diálogo constrangedor com tanta sinceridade e paixão que fica difícil não simpatizar com a empreitada toda.
Como bônus, Brad Pitt devora o cenário em uma ponta absurda como um mercenário extremamente capaz, que faz Tatum parecer uma criança no jardim de infância. Já Da'Vine Joy Randolph transforma um não-papel, o da empresária da escritora, em um personagem com o mínimo de estofo.
Longe de seu auge, a comédia romântica encontrou um nicho no streaming mas voltou a respirar em 2018 com Henry Golding e Constance Wu em "Podres de Ricos", e aliviou o sufoco com "Casal Improvável" (Seth Rogen e Charlize Theron) e, mais recentemente, com "Case Comigo" (Jennifer Lopez e Owen Wilson).
O "padrinho" de "Cidade Perdida", porém, não trazia suas credenciais apaixonadas assim tão explícitas. Em 1984, Robert Zemeckis dirigiu Kathleen Turner como uma escritora de romances baratos que se vê em uma busca ao tesouro real, auxiliada por fim pelo aventureiro interpretado por Michael Douglas.
"Tudo Por Uma Esmeralda" trazia um romance que brotava de uma aventura inusitada, com seu casal de protagonistas inicialmente não se suportando para, ao longo da jornada, descobrir que tinham muito em comum.
Até uma dança apaixonada em um vilarejo local faz parte da trama, exatamente como em "Cidade Perdida". São filmes parecidos em tom, em dinâmica, até em algumas sequências de ação. Parecidos até demais! Mas isso, claro, é problema dos advogados.
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