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Sam Raimi capricha, mas novo Doutor Estranho é Marvel no piloto automático
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A Marvel precisa recuperar seu mojo. "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", que marca o retorno de Sam Raimi à direção depois de um hiato de quase uma década, é uma experiência divertida porém confusa, que mostra um estúdio em dependência cada vez maior do monstro que ela própria criou.
Essa criatura, batizada "universo compartilhado", foi uma jogada genial para envolver sua plateia em um emaranhado de personagens e tramas que, após dez anos no forno, foi concluído de maneira brilhante em "Vingadores: Ultimato". Mas como prosseguir depois de uma aventura tão apoteótica?
"Multiverso da Loucura" começa a esboçar uma resposta, mesmo que ela seja refém do hermetismo desnecessário criado por filmes e séries que se cruzam. A nova ameaça capaz de unir os super-heróis do estúdio vem da revelação das realidades paralelas, mostradas em "Homem-Aranha - Sem Volta Para Casa".
O novo "Doutor Estranho", contudo, ainda é tímido em mergulhar nesse conceito. O que talvez seja para melhor. "Multiverso da Loucura" traz, como todo o material promocional não fez questão de esconder, rostos familiares pincelados de outros filmes, séries e desenhos animados.
Ao contrário do que ocorre em "Sem Volta Para Casa", em que três Homem-Aranha são integrados à narrativa de forma coesa, as intervenções de coadjuvantes de luxo em "Multiverso da Loucura" são breves e, vale apontar, frustrantes. Mesmo que alguns sejam de fato uma surpresa.
O centro do filme é America Chavez (Xochitl Gomez, uma graça), adolescente com o poder de viajar pelo multiverso. Sua habilidade a torna alvo de uma entidade maligna que quer absorver esse dom, matando a moça no processo.
Ao escapar de uma emboscada cósmica, auxiliada pelo Doutor Estranho de outro mundo, ela termina em "nossa" Terra e sob proteção de Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), então chorando as pitangas por conta do casamento de seu grande amor (Rachel McAdams) com outro sujeito.
Para proteger America, o Mestre das Artes Místicas procura a ajuda de Wanda Maximoff, isolada desde que se tornou a Feiticeira Escarlate ao fim da série "WandaVision". Mas ele não sabe se vai encontrar na ex-Vingadora uma aliada ou uma adversária.
O roteiro de "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", escrito por Michael Waldron (criador da série "Loki"), é de uma simplicidade espartana. É a jornada do herói lapidada para Stephen Strange, um caminho que passa por ego, a agonia da perda, o coração partido e o descontrole do poder.
O tempero do multiverso é uma fração de um quadro mais extenso que passa pela própria "Loki", por "Homem-Aranha - Sem Volta Para Casa" e que deve se expandir em "Quantumania", terceira aventura do Homem-Formiga.
O problema é que o novo "Doutor Estranho", mais do que os últimos projetos da Marvel, precisa de bula para ser compreendido. Ter "WandaVision" no repertório é obrigatório, mas a mistura aqui arranha até "Inumanos", série fracassada do estúdio que foi varrida para debaixo do tapete.
Se existe uma tábua da salvação clara e cristalina em "Multiverso da Loucura", é Sam Raimi. Em suas mãos, o novo filme não só mostra-se um dos mais bem dirigidos da Marvel, mas também prova a falta que faz uma voz autoral nestes gigantes corporativos.
Existe personalidade em cada escolha de Raimi, e a aventura pega fogo sempre que ele se solta de verdade. Uma batalha mística travada com notas musicais em uma partitura é um bom exemplo. Quando ele coloca zumbis e demônios em cena, temos Sam Raimi sem amarras, o que deixa o filme em outro patamar.
A Marvel não tem problemas em entregar projetos a cineastas que se fazem ouvir, como James Gunn e Taika Waititi. Faz sentido: se você coloca Sam Raimi na folha de pagamento, é para deixar que ele assuma o controle do show.
A máquina do universo compartilhado, porém, termina como elemento limitador, e o Raimi em "Multiverso da Loucura" está mais para "Homem-Aranha 3" do que para "Evil Dead".
O que garante, claro, um produto acima da média entre seus pares, um espetáculo para os sentidos que traduz em cinema a energia de um gibi de super-heróis. Faltou, contudo, a conexão emocional que nos deixa ansiosos pelos próximos capítulos.
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