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Novo 'Beavis and Butt-Head' lembra que nos anos 1990 era legal ser idiota
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Para quem viveu os anos 1990, nunca houve uma revolução, ou algum marco cultural. Era só a vida passando, com a cultura pop desenhando aos poucos a nostalgia do futuro.
Há três décadas o Nirvana disparava o grunge e "salvava" o rock. A turma achava bacana dançar a "Macarena". Todo mundo tinha um tamagotchi. E nada era mais legal do assistir a "Beavis e Butt-Head" na MTV.
Cá estamos, em pleno século 21. O rock respira por aparelhos e não existe outro Nirvana à vista. "Macarena"? Só se for para passar vergonha. Os tamagotchi estão todos falecidos em gavetas ao redor do mundo. Já a criação de Mike Judge retorna triunfante em "Beavis e Butt-Head Detonam o Universo".
É com grande alegria, portanto, que garanto que essas quase três décadas de evolução não atingiram a dupla. Não só na personalidade dos personagens, mas também no artesanato responsável por sua produção.
Com supervisão do próprio Judge, o novo filme ignora qualquer técnica moderna de animação. Tirando um cuidado melhor com a cor, tudo em "Detonam o Universo" é rudimentar, cru, propositalmente mal acabado. Ou seja, um alívio para quem busca um fragmento de memória afetiva.
É na história, entretanto, que está a beleza do novo filme. A ação começa em 1998, quando Beavis e Butt-Head, dois adolescentes burros feito uma porta, misóginos e totalmente alheios ao mundo ao redor, destroem uma feira de ciência no colégio.
Como "punição", eles são enviados para um campo de treinamento da NASA, para "ter uma oportunidade" e tentar aprender algo útil. Sem entrar em detalhes, eles terminam no espaço, são sugados por um buraco negro e desovados em 2022.
A trama tem um pouco de paranoia governamental, uma pitada de comentário político e um plágio descarado de um personagem da Marvel, o Vigia. Existe espaço até para uma brincadeira com o conceito de multiverso (de novo!) e com as consequências da viagem no tempo.
Mas tudo é mero pano de fundo para Beavis e Butt-head desfilarem sua ignorância, refletindo os tempos atuais de correção política e se saindo com um senso de humor ácido, ainda que menos subversivo do que era 30 anos atrás.
"Beavis e Butt-Head Detonam o Universo" é parte do movimento irrefreável do entretenimento alimentado pela nostalgia. Os anos 1990 já são alvo de uma nova geração de criadores, muitos sequer nascidos quando "Friends" estava no ar.
É natural a curiosidade em enxergar o passado com lentes contemporâneas. "De Volta Para o Futuro" mostrou, em 1985, o quanto o mundo de 1955 parecia alienígena. Bom, ano que vem "Beavis e Butt-Head" completam três décadas de sua estreia na MTV.
Existe, claro, espaço infinito para ver na dupla de adolescentes, fãs de AC/DC e Metallica, um comentário bem vindo sobre a cultura pop moderna, e o quanto mudamos nossos hábitos e percepções ao longo dos anos - se foi para melhor ou pior está aberto a discussão.
Não que Beavis e Butt-Head dessem a mínima. Tudo para eles estaria "ok" com o suprimento certo de nachos, uma TV e um sofá, e a possibilidade de, de alguma forma, transar. Tempos mais simples - e mais felizes: o filme encerra com "Children of the Grave", do Black Sabbath.
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