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Bagunça na DC: Se é para radicalizar, devolvam logo o Batman a Ben Affleck!
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"Batgirl" morreu sem ver a luz do dia. O filme com a personagem do universo do Batman foi a vítima mais evidente de uma reorganização fiscal, artística e estratégica promovida pelo presidente da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, para colocar ordem na casa.
A empresa nasceu da compra da WarnerMedia pela Discovery, finalizada em abril passado. Sob nova gerência, prioridades da administração anterior passaram a ser revistas pelo novo síndico. O que ninguém esperava era que a faxina tivesse consequências tão radicais quanto o engavetamento de um filme praticamente pronto.
Não que o mundo estivesse clamando por "Batgirl". Dirigido pela dupla Adil El Arbi e Bilall Fallah ("Bad Boy Para Sempre", "Ms. Marvel"), com Leslie Grace à frente, o filme custou US$ 75 milhões aos cofres da Warner, inflados para US$ 90 milhões quando os custos das medidas contra a Covid foram implementados. Nunca mirou os cinemas, sendo uma produção do streaming HBO Max.
Foi aí que os problemas começaram. A nova estratégia de Zaslav para os personagens da DC não contempla mais produtos feitos para o streaming. A escolha é colocar os heróis em filmes para o cinema, lançados com o máximo de barulho, potencializando atenção global e uma arrecadação rápida.
"Batgirl", por sua vez, foi planejado para a HBO Max, com orçamento de filme para a TV. Passar um verniz que aumentasse seu valor de produção para o cinema, além das dezenas de milhões que teriam de ser investidos em marketing, teria um custo que a empresa não está disposta a cobrir. A aventura se tornou um elefante branco no meio da sala.
Para não ficar totalmente no prejuízo, a WBD optou por colocar "Batgirl" na mesma vala de outros projetos cancelados, como a continuação de "Scoob!" e a versão live action dos Super Gêmeos, personagens do desenho animado "Superamigos".
A manobra, que considera o orçamento investido como fundo perdido, pode devolver em redução de impostos até US$ 20 milhões à empresa. O revés é que a estratégia impede que "Batgirl" seja considerado um produto comercial dentro da Warner.
O filme, praticamente finalizado, não pode ser vendido a outro estúdio, não pode ser exibido em nenhuma plataforma de streaming, não pode ser lançado em nenhuma mídia. Está morto e enterrado.
Se não havia exatamente um clamor popular por "Batgirl" - embora eu duvide que fosse um filme pior do que, digamos, o desastroso "Mulher-Maravilha 1984" -, existia ao menos a vontade de uma fatia dos fãs em rever Michael Keaton como Batman.
O ator, que disparou a febre renovada por adaptações de super-heróis dos quadrinhos em 1989 com "Batman", vestiu o traje do Cavaleiro das Trevas pela segunda vez há três décadas em "Batman - O Retorno" e pendurou a capa.
No plano traçado para os filmes da DC no cinema após o malfadado universo alinhavado por Zack Snyder, Keaton seria a figura central como um Batman mais velho, seguindo o caminho do multiverso a ser explorado em "The Flash", ainda agendado para o ano que vem.
Essa estratégia também foi para o vinagre. Em reunião com os acionistas da nova WBD, David Zaslav deixou clara sua intenção em priorizar os personagens da DC em um universo compartilhado que espelhasse o plano extremamente bem-sucedido que a Marvel vem tocando há mais de uma década. O executivo inclusive ressaltou que a DC precisa de uma figura como Kevin Feige, presidente do estúdio concorrente, para colocar ordem na casa.
O problema é que já ouvimos isso antes. Várias e várias vezes. A cada mudança de gerência na Warner, os novos executivos na ponta da empresa repetem a vontade de "consertar o universo" da DC. Sem uma liderança clara, e depois da implosão das ideias "radicais" de Zack Snyder, o que vimos foi uma cascata de filmes anunciados e depois cancelados.
A lista inclui "Justice League Dark", que passou por Guillermo Del Toro e J.J. Abrams; "Cyborg" (pobre Ray Fisher); "Novos Deuses" de Ava DuVernay; a série "Tropa dos Lanternas Verdes" para a HBO Max; e "Blackhawk", com direção de Steven Spielberg.
De concreto, até o momento, ficamos com "Adão Negro" em outubro, "Shazam! Fúria dos Deuses" em dezembro, além de "Aquaman e o Reino Perdido", "The Flash" e "Besouro Azul" para o ano que vem. Isso até segunda ordem - segura firme, Bruna Marquezine!
Chegamos, então, no problema número dois. A vontade de David Zaslav em seguir a estrutura da Marvel e criar um universo compartilhado esbarra em questões criativas que não podem ser ignoradas.
A primeira é a herança de Zack Snyder que segue em curso. Jason Momoa e Ezra Miller, escolhas do diretor, foram estabelecidos em "Batman vs. Superman", "Liga da Justiça" e na série "Pacificador" como as versões do Aquaman e do Flash nesse recorte da DC. No futuro próximo, não há planos em trocar o elenco.
O filme solo do herói da Atlântida com Momoa à frente rompeu a barreira de US$ 1 bilhão em 2018. A primeira aventura encabeçada por Miller como o homem mais rápido do mundo está agendada para junho de 2023, e vamos ver como os problemas pessoais do ator interferem em seu lançamento.
Uma das opções para a WBD é lançar o que está na linha de produção e depois fechar a lojinha para começar tudo de novo, empreendendo um reboot completo de seu universo. Outra alternativa é simplesmente usar os atores já estabelecidos e a linha narrativa do multiverso para unificar tudo sob uma nova bandeira. Confuso? Vai piorar.
"Coringa", com Joaquin Phoenix, tornou-se um sucesso de US$ 1 bilhão em 2019, e foi rodado com um orçamento inferior ao de "Batgirl". Sua continuação, batizada "Joker: Folie à Deux", já está agendada para outubro de 2024, com o diretor Todd Phillips confirmando Lady Gaga no elenco em papel ainda não anunciado. Certamente não é um filme encaixado no plano da WBD para a DC. Confuso? Vai piorar.
O novo "Batman", lançado este ano com Robert Pattinson, foi um sucesso de quase US$ 800 milhões, e o diretor Matt Reeves está desenhando sua sequência. Mesmo sem absolutamente nenhuma relação com o catálogo mais amplo da DC, o filme seria um bom ponto de partida para um novo universo compartilhado, a exemplo de "Homem de Ferro" com a Marvel em 2008.
Nesse bololô, como fica Michael Keaton, que ressurgirá em "The Flash" como Batman? Como fica Ben Affleck, que reprisa mais uma vez o papel de Bruce Wayne no próximo "Aquaman"? São as cenas dos próximos capítulos da DC no cinema, que está longe de ter sua casa arrumada.
Quer saber? Eu chutaria o balde. Ben Affleck criou um Batman bacana em filmes execráveis, e nunca teve a chance de mostrar uma versão do Homem Morcego do jeito que o fã ranheta gosta: violento, sombrio e com um pé em suas origens fantásticas nos quadrinhos.
Em vez de assumir que gostam do homem no papel, os executivos ficam salpicando sua fachada em filmes de terceiros, de "The Flash" a "Aquaman e o Reino Perdido". Chega de brincar, é o Batman, caramba! "Batman: Gotham Knight", com Ben Affleck, em um universo unificado pós "crise nas infinitas terras". Eu apoio!
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