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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'A Fera' é um bom filme que periga encontrar salas de cinema vazias

Idris Elba em "A Fera" - Universal
Idris Elba em 'A Fera' Imagem: Universal

Colunista do UOL

11/08/2022 13h19

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Em tempos ancestrais, "A Fera" seria um ótimo exemplo para ilustrar o que seria um "filme médio". Não é candidato a blockbuster carregando uma propriedade intelectual famosa, muito menos uma produção independente mirando o circuito alternativo.

O "filme médio" mantinha a engrenagem funcionando e os multiplexes em atividade entre os lançamentos mais parrudos. Contudo, em tempos de pós pandemia e de reposicionamento da própria experiência cinematográfica, ele é também uma relíquia de uma época que aparentemente não existe mais.

Enquanto engatinha para uma volta à normalidade, o cinema como produto precisa de um bom gancho para atrair o público que não liga para super-heróis ou personagens animados. "Top Gun: Maverick" teve Tom Cruise no modo astro super saiyajin. "Tudo Em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" surfou no boca a boca. É o nome do jogo.

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Idris Elba mantém a calma entre um ataque e outro da fera felina
Imagem: Universal

Não existe absolutamente nada de errado em "A Fera", exceto o fato de ser difícil apontar exatamente quem seria seu público. Idris Elba, enquanto um dos atores mais eletrizantes do cinema moderno, não é exatamente um rosto facilmente reconhecível.

Já o último grande lançamento com o tema "homem vs. natureza", descontando aventuras com dinossauros, foi "Predadores Assassinos" em 2019. Um filme médio.

Quem arriscar uma sessão de "A Fera", entretanto, será brindado com um thriller excelente, de tensão crescente em uma ambientação exótica. Além de Elba e de Sharlto Copley ("Distrito 9"), o filme de Baltasar Kormákur ("Evereste") traz efeitos especiais impressionantes que constroem um leão digital perigoso e violento.

"A Fera" traz todas as convenções de um bom filme de sobrevivência. Idris Elba é Nate Samuels, um médico de Nova York que, depois da morte da ex-mulher, leva as duas filhas adolescentes para a África do Sul, em uma reserva gerenciada por seu amigo, Martin (Sharlto Copley).

Existe animosidade entre o personagem de Elba e sua filha mais velha (papel de Iyanna Haley), que o culpa por não ter percebido a doença que terminaria por levar sua mulher. A viagem fora planejada como férias em família, mas agora tem função de curar as feridas e reconectar pai e filhas.

O que ninguém contava, entretanto, seria o ataque de um leão. Ferido previamente ao fugir de caçadores ilegais que mataram seu grupo, o animal é pura dor e ódio, caçando quem adentra seu território não para se alimentar, e sim para matar. Isolados na savana, sem ter como se comunicar, eles precisam driblar o bicho, os caçadores e a pressão irrefreável da natureza.

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O diretor Baltasar Kormákur orienta seu protagonista em 'A Fera'
Imagem: Universal

Longe de ser um documentário sobre o comportamento dos leões, "A Fera" dramatiza com eficiência sua trama, mesmo que não fuja de alguns exageros. Especialmente quando um improvável embate entre homem e animal não termina com um deles - e sabemos muito bem quem - totalmente estraçalhado.

Correto em sua execução (o Simba digital realmente impressiona) e redondinho em seu resultado, "A Fera" seria uma opção bacana para os cinemas se o cenário fosse outro. No planeta Terra de 2022, porém, ele funcionaria lindamente como um lançamento de ponta em algum serviço de streaming. Tempos estranhos.