Disfarçado de musical, 'One Piece Film Red' é triunfo além de fãs da série

"One Piece" é uma das marcas mais poderosas e lucrativas da cultura pop. O mangá, criado em 1997, gerou mais de mil capítulos em uma centena de volumes, tornando-se uma das séries de quadrinhos mais vendida em todos os tempos.

Entre card games, videogames e outras traquitanas licenciadas, foi o anime, lançado em 1999, que ajudou em sua popularização em todo o mundo. O desenho também gerou uma série de filmes para o cinema, somando quinze com este "One Piece Film Red".

Como toda propriedade intelectual que experimenta tamanha longevidade, "One Piece" também sofre com um certo hermetismo. É tarefa difícil entrar na saga no meio do caminho e entender tudo que está acontecendo. Não que faça diferença: lançado em agosto, "Film Red" já é a maior bilheteria do ano no Japão, batendo em US$ 150 milhões nos cinemas mundiais.

A série acompanha as aventuras de Monkey Luffy, líder dos Chapéus de Palha, um grupo de piratas em um mundo de fantasia. Ao contrário de outros mangás/animes que dominam o entretenimento nipônico, como "Dragon Ball" ou "Naruto", "One Piece" adiciona uma dose intensa de humor em sua fórmula de ação e aventura.

"One Piece Film Red" não foge dessa mistura. O filme apresenta uma nova personagem, a cantora cósmica Uta. Ao revelar sua identidade para o mundo, ela também desperta uma força destrutiva escondida em sua música. A marinha e os piratas buscam detê-la, mas só a conexão de seu passado com Luffy e com o pirata Shanks pode virar o jogo.

A estrutura das animações estilo shonen - geralmente derivados da revista "Shonen Jump" e voltados para um público adolescente - não traz muita variedade. Os heróis, conhecidos em suas séries na TV, encontram uma nova ameaça, mostram-se incapazes de igualar seu poder e, depois de uma jornada, descobrem o segredo para derrotá-la.

O que coloca "One Piece Film Red" acima da média é a decisão do diretor Goro Taniguchi em fazer do filme um grande musical. Cada canção entoada por Uta - executada pela cantora adolescente Ado -, é um chiclete J-pop que ajuda a preencher as lacunas da personagem, servindo como ferramenta narrativa.

Mesmo apelando para o sentimentalismo deliciosamente cafona de seus pares, e de também abusar de cenas de combate intermináveis, "Film Red" encanta com uma produção colorida e absurdamente inventiva. É como se os desenhos para a garotada tomassem ácido antes de partir para o abraço.

Nos últimos anos, animes lançados no cinema, como os exemplares recentes de "Dragon Ball" e "Demon Slayer", alcançaram um público além de sua imensa base de fãs. "One Piece Film Red" ainda precisa de bagagem demais para ser saboreado sem ressalvas. Sua mistura de música, aventura e comédia, entretanto, é um passo importante para romper essa barreira. Quem arriscar dificilmente vai se arrepender.