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'Gênio Indomável': 25 anos da invenção de Ben Affleck e Matt Damon
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Não existe uma fórmula para o sucesso em Hollywood. Às vezes, o estrelato te atinge no peito. Outras, manter-se no topo se mostra tarefa impossível. É o proverbial tiro no escuro. O filme certo no momento certo, porém, pode colocar um nome no mapa e iniciar uma jornada. Para Matt Damon e Ben Affleck, este filme foi "Gênio Indomável".
Se existe uma dupla de atores - de artistas! - que soube se equilibrar no topo depois de um grande momento, Ben e Matt certamente se encaixam no perfil. Um quarto de século depois de sua revelação que, vale lembrar, rendeu à dupla o Oscar de melhor roteiro original, ele continuam à frente do jogo hollywoodiano. Não foi, entretanto, um caminho sem percalços.
"Gênio Indomável" não foi o primeiro filme de Matt Damon ou Ben Affleck. Quando o drama chegou aos cinemas, ele já eram veteranos tentando navegar o complicado sistema de castas na indústria, abraçando papéis para jovens aspirantes a astro e, em suas próprias palavras, torcendo para conseguir algum personagem rejeitado por Chris O'Donnell.
"Campo dos Sonhos", de 1989, foi o primeiro filme em que os atores compartilharam o crédito. Mas foi "Código de Honra", lançado três anos depois, que mostrou-se uma vitrine maior para a dupla - mesmo que o filme tenha lançado, em primeiro lugar, as carreiras de Brendan Fraser e, quem diria, Chris O'Donnell.
Ben Affleck encontrou no diretor Kevin Smith seu grande parceiro. Primeiro o ator ganhou o papel de "vilão" na comédia "Barrados no Shopping" (1995), antes de ser o protagonista de "Procura-se Amy" em 1997. Matt Damon, por sua vez, ganhou destaque no drama "Coragem Sob Fogo", trabalhando com Denzel Washington como um soldado viciado em heroína.
Em 1997, eles decidiram criar sua própria oportunidade. Até então, o roteiro de "Gênio Indomável" havia atravessado dúzias de encarnações, inclusive como um filme de ação em que Will, o jovem superdotado, salva o mundo de um desastre nuclear. Com a entrada do diretor Gus Van Sant, porém, a trama foi lapidada como um drama sensível sobre solidão e aceitar quem você é.
O maior trunfo da produção, entretanto, foi a entrada de Robin Williams como Sean, o terapeuta que auxilia Will em sua jornada. Apesar do holofote sobre o personagem de Matt Damon, a dupla escreveu ao menos uma cena memorável para Chuckie, seu melhor amigo e papel de Ben Affleck.
Mesmo com o verniz de filme independente, o mundo aos poucos foi descobrindo "Gênio Indomável". A concorrência nas bilheterias era ferrenha, com "Alien - A Ressurreição" em cartaz, e uma temporada inacreditável à frente, com as estreias de "007 - O Amanhã Nunca Morre", "Melhor É Impossível", "Jackie Brown" e um filme modesto chamado "Titanic".
Ainda assim, havia algo em "Gênio Indomável". Não só a direção delicada de Van Sant, ou a performance inspirada de Robin Williams - que lhe rendeu seu único Oscar -, mas também o texto de Affleck e Damon, que capturou em filme a camaradagem e a cumplicidade dos dois amigos. Mais de US$ 200 milhões nas bilheterias mostraram que Hollywood podia usar, sim, uma nova dupla de jovens atores.
Não poderia haver planos de carreira mais distintos que os de Matt Damon e Ben Affleck. O primeiro tratou de buscar diretores de prestígio em filmes de impacto artístico e comercial. Ele já trabalhara com Francis Ford Coppola em "O Homem Que Fazia Chover", lançado pouco antes de "Gênio Indomável". Seguiu a mesma filosofia atuando para Steven Spielberg ("O Resgate do Soldado Ryan"), Anthony Minghella ("O Talentoso Ripley"), e Robert Redford ("Lendas da Vida").
Ben, por sua vez, foi experimentar o que seria a vida de um astro de cinema. "Armageddon", de Michael Bay, fez dele ator de filmes de ação. "Forças do Destino", "Jogo Duro" e "Pearl Harbor" mostraram que seu nome estampava bem o topo de um cartaz. Quando " A Soma de Todos os Medos" estreou em 2002, Affleck já havia estabelecido sua marca no cinemão.
O novo século, entretanto, mostrou o quanto Ben e Matt, embora melhores amigos, seguiam filosofias diferentes em suas carreiras. Damon soube dosar suas escolhas e entender o melhor momento para abraçar um projeto. Foi esperto ao entrar no elenco imenso de "Onze Homens e Um Segredo", ao lado de George Clooney e Brad Pitt, e se mostrou um dos pilares da produção. Quando finalmente decidiu testar a fórmula do filme de ação, seguiu um caminho cerebral em 2002 com "A Identidade Bourne".
Affleck, por sua vez, patinava em suas escolhas. "Demolidor" não foi exatamente um grande filme de super-heróis. Ele também acompanhou um John Woo pouco inspirado em "O Pagamento" e, ao lado da então namorada Jennifer Lopez, encabeçou um par de desastres: o incompreensível "Contato de Risco", um dos piores filmes da história, e o drama equivocado "Menina dos Olhos", tremendo escorregão do parceiro Kevin Smith.
Enquanto Matt Damon se firmava como um dos astros mais confiáveis do cinema, com filmes aplaudidos como "Syriana", "Os Infiltrados" e "O Bom Pastor" costurados entre continuações de "Bourne" e "Ocean's", Ben Affleck se perdia em bobagens como "Sobrevivendo ao Natal" e "Um Cara Quase Perfeito", que ninguém dava bola. Bons filmes como "Hollywoodland", Affleck à frente, eram sumariamente ignorados.
Nos bastidores, a dupla sempre sugeria uma nova parceria como roteiristas, um novo filme que os uniria à frente das câmeras que não fosse alguma colaboração com Kevin Smith. Nada, entretanto, saia do papel. O respiro para Ben Affleck, contudo, veio justamente atrás das câmeras, quando ele tomou a decisão de dirigir, em 2007, o drama "Medo da Verdade".
O sucesso de crítica e entre seus pares revitalizou a carreira de Affleck, e logo ele emendou uma segunda produção como diretor, reservando também o papel de protagonista. "Atração Perigosa" mostrou-se um thriller absurdamente eficiente, provando que o astro ainda tinha muitos cartuchos para queimar. "Argo" veio em seguida e, com ele, sete indicações ao Oscar, traduzidas em três vitórias, inclusive melhor filme.
A diferença fundamental entre Matt Damon e Ben Affleck logo ficou mais uma vez aparente. "Zona Verde", "Além da Vida", "Bravura Indômita" e "Contágio" mostraram que Damon seguia escolhendo trabalhar com os melhores diretores. Nem tropeços como "Compramos um Zoológico" ou "Caçadores de Obras-Primas" danificaram seu mojo. Affleck, por sua vez, fez "Garota Exemplar" para David Fincher mas decidiu ser o Batman nos filmes da DC conduzidos por Zack Snyder. Vai entender.
Foi Ridley Scott quem fez a dupla colocar mais uma vez a mão na massa em um roteiro. O diretor havia trabalhado com Damon em "Perdido em Marte", e executou o texto que ambos escreveram, ao lado de Nicole Holofcener, para o drama épico "O Último Duelo". Como bônus, os dois voltaram a dividir a cena, com Damon mais uma vez à frente.
Foi a fagulha que eles precisavam para chacoalhar a poeira e reenergizar sua relação de trabalho. A vida pessoal de Ben Affleck, conturbada entre relacionamentos e projetos gigantes que parecem consumir sua alma, encontra equilíbrio com o convívio pessoal com seu amigo. Sim, Affleck ainda não largou o capuz do Cavaleiro das Trevas - "The Flash" e o segundo "Aquaman" que o digam. Sim, Matt Damon parece gostar de um ritmo de trabalho insano.
"Air Jordan", por sua vez, parece o projeto perfeito para eles demonstrarem o que tem de melhor. A trama, assinada pelos dois, acompanha Sonny Vaccaro (papel de Damon), vendedor de sapatos que alavancou a Nike ao buscar o lendário Michael Jordan para se tornar o rosto da marca. A direção é de Ben Affleck, que também está no elenco ao lado de Jason Bateman, Viola Davis e Chris Tucker.
Um quarto de século. 25 anos desde que "Gênio Indomável" abriu as portas do mundo para que dois jovens que cresceram em Boston, Massachusetts, se tornassem astros de cinema. Apesar da jornada por vezes acidentada, é um testemunho a seu talento que eles permaneçam relevantes no complicado tabuleiro de Hollywood.
Seu próximo projeto, que vai além de um novo filme, é inaugurar um estúdio, o Artists Equity, um ambiente colaborativo em que cineastas terão total liberdade criativa e participação igualitária nos lucros. É a forma de Matt Damon e Ben Affleck devolverem à comunidade artística um pouco do que eles conseguiram ao longos desses anos. O melhor de tudo? Há muito tempo eles não precisam brigar pelas sobras de Chris O'Donnell.
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