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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Saga 'Crepúsculo' volta ao cinema: Nostalgia é legal, mas sem exagero!

Robert Pattinson e Kristen Stewart em "Crepúsculo" - Paris
Robert Pattinson e Kristen Stewart em 'Crepúsculo' Imagem: Paris

Colunista do UOL

11/12/2022 06h00

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"Eu era adolescente." Uma década depois de a saga "Crepúsculo" terminar, com a estreia da segunda parte de "Amanhecer", boas parte dos fãs olha para trás com carinho, sim, mas também com a justificativa na ponta da língua.

É natural. A série de filmes adaptada dos livros de Stephenie Meyer fez parte dos anos formativos de muita gente, que enxergava no romance açucarado da jovem Bella com o não tão jovem vampiro Edward uma metáfora para o despertar sexual.

Para gerações anteriores, o filme que cumpria essa função era "Labirinto", em que uma Jennifer Connely adolescente era seduzida a um mundo mágico pelo Rei dos Duendes, interpretado por David Bowie. Quem não tem Jareth, caça com Taylor Lautner mesmo.

O retorno de todos os filmes da série ao cinema tem aquele brilho de celebração. 2022 mostrou, afinal, que a nostalgia segue como ferramenta poderosa para recuperar um público que adotou o streaming durante a pandemia e ainda não deu o ar da graça. Funcionou com "Top Gun: Maverick", certo?

Por outro lado, a nostalgia sozinha não faz nem marola. Precisa haver demanda, precisa haver paixão, precisa da fagulha que desperte o desejo para experimentar um sentimento às vezes adormecido. Não tenho tanta certeza se a saga "Crepúsculo" reune esses predicados.

O pensamento sempre volta às três palavrinhas que abriram esse texto. Existe o carinho, existem as memórias de uma época bacana da vida. Mas também existe um certo constrangimento.

"Crepúsculo", além de não ter deixado rastros tangíveis na cultura pop, parece fazer parte de ícones que muitos de seus defensores parecem contentes em deixar repousando na década passada, como Ed Westwick, Paris Hilton e o NX Zero.

A melhor comparação, mesmo que o conteúdo seja bem diferente, é com a série "Harry Potter". Ambas surgiram de livros de sucesso escrito por mulheres. Ambas traziam um elenco adolescente que envelhecia junto a seu público. A presença de "Harry Potter" na cultura pop, contudo, continua gigante.

Os livros ganham continuamente novas edições, os filmes vez por outra voltam aos cinemas sempre com salas cheias. São colecionáveis, games, convenções de fãs, uma peça de teatro e a vontade de seus guardiões em trazer novas aventuras no cinema. "Crepúsculo", por sua vez, não tem nada disso.

twilight fim - Paris - Paris
Edward e Bella se preparam para o combate em 'Amanhecer: Parte 2'
Imagem: Paris

Não duvido que algumas fãs da história de amor de Bella e Edward arrisquem uma sessão. Mas a comoção presente em outras marcas do entretenimento, algumas até com impacto menor à época de seu lançamento, não é encontrada aqui.

A verdade é que "Crepúsculo", que nunca foi grande coisa, envelheceu muito mal. Alguns temas e situações retratados principalmente nos filmes ganha hoje, longe do hype da época, contornos de relacionamento abusivo.

O problema da criação de Meyer nunca foi seus vampiros que brilham no Sol ou seus lobisomens que não passam de doguinhos anabolizados. A trama é mal escrita, desleixada e não se sustenta.

Até seus protagonistas já deixaram o oba oba em torno da saga no passado. Robert Pattinson usou a vitrine proporcionada por "Crepúsculo" para viabilizar e protagonizar ótimos filmes independentes, como "Cosmópolis", "The Rover" e "Bom Comportamento". Esse ano ele voltou ao cinemão em grande estilo como o Homem-Morcego em "Batman".

Kristen Stewart, por sua vez, sempre equilibrou sua carreira em projetos ecléticos. Ela não teve pudores em encarar outra grande produção em "Branca de Neve e o Caçador", mas ganhou mais prestígio em filmes como "Marcados pela Guerra", "Para Sempre Alice" e "Personal Shopper". Seu trabalho como a princesa Diana em "Spencer" lhe rendeu uma indicação ao Oscar.

Uma década depois de seu fim, a saga "Crepúsculo" se posiciona menos como um fenômeno duradouro e mais como um recorte curioso. Não devemos, portanto, superestimar sua importância na história do cinema. E tudo bem! Taylor Lautner, ao menos, deve comemorar. Com sua carreira como ator empacada, ele pode garantir um troco vendendo fotos autografadas para fãs nostálgicas.