Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Os 13 melhores filmes de 2022
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Não vou assistir a mais nenhum filme este ano! Bom, isso não deixa de ser verdade. 2022 chega ao fim como um momento de reconstrução, em que o cinema aos poucos vai se recuperando de uma pandemia que mudou o mundo. As regras da indústria mudaram e esperamos, ansiosos, como fica a arte de fazer e de ver filmes a partir de agora.
Ainda assim, foi um ano intenso e estranho. O cinema cravou seus pilares em nostalgia e em super-heróis, mesmo que estes, com a exceção de "Batman", ficaram em segundo plano no quesito espetáculo. O streaming se consolidou como força dominante, mas velhos conhecidos como James Cameron e Tom Cruise mostraram que não existe lugar como o cinema para ver um filme.
Não consegui assistir ainda em 2022 a alguns lançamentos que poderiam entrar na lista final, como "Os Fablemans", "Tár" e "Os Banshees de Inisherin". Outras produções que me empolgaram, como "Armageddon Time", "Marte Um" e o próprio "Batman", bateram na trave mas não fizeram o gol.
Amarrei, portanto, 13 filmes que deixaram meu ano mais criativo, empolgante, intenso e emocionante. Listas, claro, radiografam um momento e existem para ser discutidas, compartilhadas, aplaudidas e criticadas. Comente lá embaixo e nas redes sociais com suas escolhas. A ideia é justamente a gente dividir nossa paixão! Ah, e eu fechei em 13 filmes porque, convenhamos, é um número bem bacana neste 2023 que se avizinha!
13 TICO E TECO - DEFENSORES DA LEI
(Chip 'n Dale: Rescue Rangers, Akiva Schaffer)
Vem por outra o conceito mais absurdo emerge como um tapão no rosto. É o caso deste "Defensores da Lei". Herdeiro de "Uma Cilada Para Roger Rabbit", essa aventura com os esquilos animados Tico e Teco não tinha nem o direito de ser tão boa - mas é!
Em uma Los Angeles em que personagens de desenhos convivem com humanos, a dupla precisa reatar a amizade para resolver um mistério. Uma delícia de filme, que cresce na revisão bem ao estilo "Onde Está Wally?", e que rendeu o indiscutível personagem mais inusitado do ano: o Sonic Feio.
12 O HOMEM DO NORTE
(The Northman, Robert Eggers)
O épico viking do diretor de "A Bruxa" e "O Farol" é uma aventura brutal e empolgante que coloca Alexander Skarsgård como um guerreiro talhado em combate que envereda em uma trilha de vingança.
"O Homem do Norte" é um animal raro: é cinema de ação conduzido por ideias. A produção belíssima contrasta com a crueza das imagens captadas por Eggers, que flerta com tabus e não busca soluções fáceis. Talvez por isso seu filme foi pouco visto. Por esse mesmo motivo, está destinado a ser redescoberto.
11 AFTERSUN
(Charlotte Wells)
Pai e filha saem de férias em um resort mequetrefe na Turquia, sua felicidade aparente prestes a ceder ao peso de uma melancolia quase palpável. Paul Mescal é um gigante que encontra em Frankie Corio a parceira perfeita para contar essa história.
A diretora Charlotte Wells minou suas próprias lembranças em um filme de narrativa nada tradicional, mas emocionalmente rico: é um recorte, não uma história, que emoldura nada além de um momento. Mergulhar nesse momento é um exercício que depende da bagagem de quem está do lado de cá.
10 O PREDADOR: A CAÇADA
(Prey, Dan Trachtenberg)
Lançado em streaming, essa retomada da série "Predador" merecia tratamento em tela grande, até porque representa o resgate de uma marca há muito sofrendo em filmes de segunda linha.
Ambientando a ação três séculos atrás, com o caçador espacial enfrentando uma guerreira Comanche, "Prey" recupera a sensação de perigo e isolamento do filme original e encontra em Amber Midthunder a protagonista perfeita, que não faria feio ao lado de Arnold Schwarzenegger. Não é pouco.
9 RRR
(S.S. Rajamouli)
O cinema indiano equilibra-se há anos em uma fórmula de excessos: muita música, muito drama e muita ação. Com "RRR", o diretor S.S. Rajamouli foi além das fronteiras e criou um fenômeno mundial, amplificado pelo alcance do streaming. Tudo aqui grita "épico".
A trama, que pincela a história da Índia com tintas fantásticas, coloca cada elemento no volume máximo. Tudo é grandioso, exagerado, emocionante, intenso, levemente cafona e absolutamente sensacional. São mais de 3 horas em que ganhamos uma penca de filmes amarrados em um só. Vale cada segundo.
8 AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA
(Avatar: The Way of Water, James Cameron)
No momento em que eu escrevo essas linhas, o novo "Avatar" caminha a passos largos para se tornar o filme de maior bilheteria lançado em 2022. Números, no entanto, são só parte do jogo. "O Caminho da Água" é um espetáculo técnico que simplesmente não tem igual.
O visual existe, claro, para contar uma história, simples e eficiente, que reflete no tabuleiro da ficção científica os anseios de seu criador. Um filmaço que não só merece todo seu sucesso como existe também para reafirmar uma das grandes verdades do cinema: nunca duvide de James Cameron.
7 PINÓQUIO
(Guillermo Del Toro's Pinocchio, Guillermo Del Toro e Mark Gustafson)
A história do menino de madeira criada por Carlo Collodi no século 19 já teve dúzias de interpretações. Arrisco dizer que nenhuma chega aos pés dessa fantasia rodada em stop motion pelo maestro Guillermo Del Toro.
Se a essência da trama continua lá, o cineasta mexicano injeta várias camadas narrativas, dos perigos do fascismo à brevidade da vida, que fazem de seu "Pinóquio" uma aventura mais sombria e mais fascinante, executada com apuro estético e beleza indiscutível.
6 CARVÃO
(Carolina Markowicz)
Neste pequeno recorte de uma família levando a vida em um Brasil bem longe dos holofotes, a diretora Carolina Markowicz estilhaça a figura do "brasileiro cordial", revelando nossa total falta de freio moral quando as circunstâncias exigem.
Na superfície, "Carvão" é sobre pessoas comuns que abrigam um estranho em sua casa em troca de dinheiro. Quando olhamos mais de perto, a nova dinâmica traz a sombra da infidelidade e da violência. Você acha que já viu essa história antes? Então olhe mais perto: o abismo, acredite, vai encarar de volta.
5 GLASS ONION
(Rian Johnson)
Quem precisa de James Bond quando temos Benoit Blanc? Ao encerrar sua trajetória como o espião mais famoso da história, Daniel Craig adquiriu leveza insuspeita. É com esse tom ameno, mas nem por isso menos incisivo, que o ator encabeça aqui sua segunda aventura como o personagem criado por Rian Johnson.
Existe uma energia que lembra "Onze Homens e Um Segredo" tanto em "Ente Facas e Segredos" quanto, agora, em "Glass Onion". É o prazer de acompanhar um elenco nitidamente empolgado, travando um duelo de diálogos e personalidades afiadas em uma trama de mistério. Um filme que não busca nada além do prazer envolvente e irresistível de contar uma boa história. Queremos mais Blanc!
4 NÃO! NÃO OLHE
(Nope, Jordan Peele)
O cinema de gênero, notadamente o terror e a ficção científica, é o melhor terreno para contar histórias que abracem o comentário social. Jordan Peele, por sua vez, faz com que suas ideias nunca pareçam panfletárias, e sim um pulso inserido na trama que ele quer contar. Foi assim em "Corra!", em "Nós" e agora em "Não! Não Olhe".
Daniel Kaluuya e Keke Palmer são irmãos que trabalham juntos treinando cavalos para Hollywood. No céu acima de seu rancho, isolado do caos urbano, uma presença assustadora, fascinante e alienígena se faz notar. A ficção científica é o gatilho para Peele construir um filme sobre capitalismo, apropriação cultural e medo. Tudo isso sem perder, nem por um segundo, o senso do espetáculo. O homem sabe das coisas.
3 MOONAGE DAYDREAM
(Brett Morgen)
A vida de David Bowie dificilmente seria encapsulada em uma biografia formal. Ciente dessa verdade, o diretor Brett Morgen sequer arriscou esse caminho. Ao ter acesso ao vasto arquivo de Bowie, ele optou por uma colagem de momentos que, juntos, dão uma ideia da absoluta genialidade de um homem que de fato mudou o tecido cultural mundial.
"Moonage Daydream" é um acontecimento, um mergulho sem freios na mente criativa de Bowie. Não existem entrevistas ou depoimentos, nada existe para "desvendar" a mente de um gênio. Não existem respostas, e sim um caminho para entender as perguntas. Tudo isso embalado pela música mais espetacular que um homem poderia criar. David Bowie nos ensinou a sonhar. "Moonage Daydream" é uma celebração desse presente que ele nos legou.
2 TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO
(Everything Everywhere All At Once, Daniel Kwan e Daniel Scheinert)
"Multiverso" é o conceito da vez, uma coleção de planos de existência superpostos que podem se integrar, resultando em caos. Nas mãos dos Daniels, sua tradução em filme traz, sim, o caos. Mas também uma energia vibrante e irresistível, que estimula os sentidos para o máximo de impacto emocional.
"Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo" é também uma fantasia envolvente, um filme de ação empolgante e uma reflexão filosófica inusitada. Assim como o multiverso que lhe serve de tabuleiro, é um trabalho de diversas camadas, em que Michelle Yeoh tenta impedir a destruição de todos os universos. Quer mais? Jamie Lee Ciurtis nunca esteve melhor. Stephanie Hsu é uma revelação. E seja bem vindo de volta, Ke Huy Quan!
1 TOP GUN: MAVERICK
(Joseph Kosinski)
Quentin Tarantino ventilou há pouco tempo que os filmes da Marvel, espinha dorsal da cultura pop moderna, não produzem nenhum astro de cinema. Ele está certo, mesmo quando ampliamos o escopo. O cinema hoje não trabalha com astros, e sim com marcas. Celebridades ainda ajudam a vender um filme, mas são as propriedades intelectuais quem dominam o jogo. Dwayne Johnson que o diga.
Se a era dos astros é coisa do passado, esqueceram de avisar a Tom Cruise. Quando toda a indústria do entretenimento passou a buscar uma forma de se reinventar ao longo da pandemia, Cruise não se desviou de seu plano. Lugar de filme, para ele, é no cinema e exclusivamente no cinema. É lá onde somos transportados para mundos fantásticos criados para ocupar nossa cabeça. Como reflexão, sim. Como arte, certamente. Para Cruise, entretanto, o cinema é, acima de tudo, o templo do entretenimento.
"Top Gun: Maverick" representa o ápice desse conceito. É cinema à moda antiga, mas não em suas ferramentas, e sim em sua proposta. É uma aventura maior que a vida, uma fantasia hiper realista em que temos na figura de um astro de cinema nosso avatar (opa!) para conduzir a aventura.
O que não faz de "Top Gun: Maverick" um receptáculo oco. Pelo contrário. Existe, sim, espaço para a reflexão, especialmente em uma trama amarrada por tantos conflitos familiares e por conceitos de honra e dever. Existe arte em seu artesanato, em sua composição delicada de um mundo fictício que traz a dose precisa de realismo para que nos percamos nele.
A essa altura o fator entretenimento nem está em discussão. Criar uma continuação para um filme lançado há quase quatro décadas move as engrenagens da nostalgia, claro. Mas cada parte desse todo existe também para causar na plateia euforia, empolgação, medo. Para aumentar a pulsação e disparar uma reação triunfante em uníssono, uma experiência coletiva em uma sala escura.
Tom Cruise, o último e maior astro de cinema do planeta, sabe exatamente como funciona o mecanismo. Que ele não se aposente tão cedo, e que continue a fazer do cinema o lugar mais sensacional do mundo, com filmes tão brilhantes, divertidos e - sim! - perfeitos como "Top Gun: Maverick".
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