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Brad Pitt e Margot Robbie navegam na bagunça fascinante de 'Babilônia'
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"Babilônia" começa com um elefante e uma orgia. A permissividade desenfreada da Hollywood dos anos 1920 é o estopim para o diretor Damien Chazelle contemporizar a história da cidade que o acolheu em um épico sobre escolhas incertas, sobre paixão desmedida. Sobre a dama exigente que é o cinema.
O resultado é uma viagem parte brilhante, parte desastrosa, amarrada por um clímax tão lisérgico quanto inevitável. São três horas de uma jornada que, quando acerta, apresenta com clareza a voz e a visão de um dos mais interessantes cineastas modernos. Quando erra, por outro lado, só nos resta coçar a cabeça.
É impossível, contudo, não reconhecer a ousadia por trás de cada decisão criativa de Chazelle. Longe de ser uma homenagem aos anos dourados do cinema ianque, "Babilônia" busca, em meio a seu caos hedonista, entender as engrenagens de uma indústria movida a sonhos, mas também a decisões erradas, negociatas escusas e abusos de toda forma. Ou seja, o tempo passou, pouca coisa mudou.
Talvez seja justamente essa constância imperfeita que exerça tamanho fascínio sobre o cineasta. Para entender o estado das coisas e o chão que ele escolheu pisar, se fez necessário este salto ao passado. Ao nos levar junto em sua viagem, Chazelle escolhe três diferentes personagens que se completam no mosaico de aleatoriedades que impulsiona o cinema.
Brad Pitt é o primeiro desses arquétipos. Ele é Jack Conrad, ator do cinema mudo, totalmente confortável em seu papel de astro do cinema, que salta de esposa em esposa com desenvoltura desconcertante. Equilibrando a embriaguez perene e o tino comercial preciso para lapidar seus filmes, Jack enxerga a chegada do cinema falado como uma oportunidade de reinvenção, mas também como o precursor de seu próprio fim.
O segundo arquétipo é Nellie LaRoy, estereótipo da garota oriunda de um lar fragmentado que sai do interior e chega à Hollywood determinada a consolidar o que ela sente que já é: uma estrela. Sua fragilidade, intercalada por uma compulsão irrefreável de aproveitar o estado de festa permanente da capital do cinema, é defendida com fúria por Margot Robbie.
O terceiro elo da cadeia enfileirada por Chazelle é, infelizmente, o mais fraco. Manny Torres é um imigrante mexicano absorto pela opulência de Hollywood. Ele trata de se reinventar constantemente para se fazer absolutamente necessário em cada etapa do caminho para o sucesso. É o verdadeiro protagonista de "Babilônia", mas falta ao mexicano Diego Calva ("Narcos: México") o carisma - e a humanidade - para nos conectar à trama.
"Babilônia" é o resultado de um diretor atropelado por sua própria ambição. Afinal, é uma escolha arriscada abrir mão de uma narrativa linear e amarrar seu filme em fragmentos. "Whiplash", "La La Land" e "O Primeiro Homem" mostram que Damien Chazelle domina o artesanato cinematográfico à perfeição, aqui amparado pela fotografia multifacetada de Linus Sandgren e pelo trabalho hercúleo de Tom Cross na montagem.
Falta a ele, porém, uma certa finesse para conectar todos os pontos em um projeto com esse escopo. Ele não é P.T. Anderson ou Alejandro Iñárritu. Como resultado, "Babilônia" é uma experiência por vezes sem foco, sua falta de coesão compensada pela genialidade de seus fragmentos, por cenas em que a paixão absoluta pelo cinema transcende quaisquer tropeços e jogam luz no potencial da história rabiscada por Chazelle.
Não por acaso, são momentos em que o cinema fala sobre cinema. Como por exemplo a cena que mostra os bastidores da transição do cinema mudo para o falado. Enquanto a equipe se desdobra atrás das câmeras para acertar os detalhes técnicos, Nellie LaRoy se esforça para entender a dinâmica deste novo mundo. É uma sequência frenética, ao mesmo tempo engraçada e trágica, e mostra um diretor em total domínio de suas habilidades.
Impressiona, portanto, como depois de uma hora e meia absolutamente hipnotizantes, "Babilônia" muda o tom e adota uma postura acusatória, mergulhando em todos os clichês do cinema e seus bastidores. É irritante, para dizer o mínimo, voltar ao mundano depois de ser exposto ao divino, e Chazelle pena para recuperar a ousadia que o filme até então carregava.
Brad Pitt e Margot Robbie, por sua vez, dão o seu melhor e muitas vezes seguram "Babilônia" com puro charme. Não atrapalha eles estarem cercados de coadjuvantes em grande forma, de Jean Smart a Lukas Haas, passando por Flea e Eric Roberts. E é preciso ver para crer em Tobey Maguire, hipnotizante e assustador quando surge já na reta final como um gângster.
Damien Chazelle radiografa com precisão o caos necessário para fazer com que um lugar como Hollywood exista. Mesmo com suas três horas de projeção, "Babilônia" em nenhum momento é enfadonho, apesar de tentar dizer muita coisa e perder o foco ao longo do caminho.
Toda a experiência faz sentido nos momentos finais, quando a sugestão da metalinguagem torna-se explícita e "Cantando na Chuva" toma a tela. O grande clássico, que retrata a mudança cultural explosiva do cinema mudo para o falado, camufla a realidade da proverbial babilônia hollywoodiana em meio aos passos de Gene Kelly sob uma melodia imortal.
O momento mais poderoso de "Babilônia" é também evidência do narcisismo de Damien Chazelle, que não se contém no didatismo e nos empurra, sem sutileza, uma overdose de cinema condensado. Ele entende, entretanto, a brevidade de seu próprio momento. Quando todos os jogadores se tornam notas de rodapé, "Babilônia" mostra que os artistas, dos mais geniais aos mais efêmeros, estão aqui por não mais do que um instante. A arte, contudo, perdura.
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