Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Monstros, heróis e Batman: a aposta radical de James Gunn para salvar a DC
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O diretor James Gunn, agora co-presidente da DC Studios ao lado do produtor Peter Safran, anunciou a primeira parte de seu calendário para revitalizar a marca no cinema. Entre super-heróis clássicos e histórias de terror e ficção científica, fica claro que o homem tem um plano arriscado, radical e - devo dizer - empolgante como nunca.
Desde que Gunn assumiu a carcaça fumegante que era a DC no cinema, ele tem sido alvo dos fãs mais radicais por conta de suas decisões. A mais evidente foi retirar Henry Cavill de futuros projetos envolvendo o Homem de Aço. O ator havia ressurgido como o Superman em uma ponta no fim de "Adão Negro", e semanas depois se despediu em definitivo do personagem.
Essa foi a primeira evidência que a faxina promovida por Gunn e Safran era séria. Bom, séria e necessária. Desde que Zack Snyder lançou "O Homem de Aço", que completa 10 anos em 2023, a DC tentou sem sucesso mimetizar a fórmula da Marvel: um universo conectado em que seus heróis eventualmente se reuniam para salvar o universo.
Ok, a nova DC vai ressaltar mais ainda a ideia de que todas as histórias, no cinema e em streaming, se passam no mesmo universo. Gunn, por sua vez, deixa claro que não vai seguir os passos da Marvel ao enfatizar a visão individual dos cineastas envolvidos em cada projeto.
Sua preocupação será a preservação da estética de cada artista e a liberdade para que eles possam contar uma boa história. O cineasta deixou claro que nenhum filme ou série entram em produção ser ter um roteiro absolutamente coeso e polido. Seus parceiros nessa primeira etapa são Tom King e Drew Goddard, Christal Henry e Chirstina Hodson. Ele se cercou de roteiristas, não de produtores ou executivos.
Fórmula de James Gunn contra a Marvel
Dessa forma, a fórmula encontrada por James Gunn e sua trupe para bater de frente com a Marvel é acentuar as diferenças. Nos quadrinhos, apesar de tudo envolver seres poderosos com trajes coloridos, as duas editoras são radicalmente diferentes.
Enquanto a Marvel é ambientada no "mundo real", com cidades, marcos e eventos reconhecíveis, a DC aposta na fantasia, com centros urbanos, como Metrópolis e Gotham City, criados como uma extensão de seus habitantes.
Dá para ir além. A Marvel tem herói nascidos da tragédia, pessoas comuns arremessadas em situações extraordinárias, seja o Homem-Aranha, o Quarteto Fantástico ou o Homem de Ferro.
O universo DC, por outro lado, tem em seus heróis arquétipos quase divinos, de uma Princesa Amazona ao Rei da Atlântida, de um policial espacial ao último filho de um mundo destruído. A exceção, que não por acaso é também seu personagem mais popular, é o Batman.
A volta do Superman
O plano de James Gunn e Peter Safran prevê, sim, um universo compartilhado. Mas não existe, ao menos neste momento, a sanha em enfileirar um monte de super-heróis com o único propósito de juntar todos em um evento cósmico para prevenir o apocalipse. Não há um Thanos. Não existe essa ameaça comum. Não há pressa.
O primeiro capítulo dessa reformulação, batizada "Deuses e Monstros", vai reapresentar justamente seu personagem símbolo. "Superman: Legacy", escrito por Gunn, está agendado para julho de 2025.
Não será um "filme de origem", embora lide com um herói em seus primeiros dias, equilibrando sua herança kryptoniana com sua criação na Terra. E nada da visão "sombria e violenta" de Snyder: aqui, o herói representa a verdade e a justiça, um escoteiro otimista em um mundo que subestima a bondade.
Se anunciar um novo "Superman" parece mais do mesmo - será o terceiro reboot moderno, seguindo "Superman - O Retorno" de 2006 e o próprio "O Homem de Aço" de 2013 -, boa parte da agenda anunciada por Gunn flerta com personagens esquisitos e desconhecidos, que nem sempre estão preocupados em salvar o universo.
Anti-heróis e criaturas sobrenaturais
No caso de "The Authority", contudo, o plano é mesmo salvar o planeta, mesmo que para isso eles tenham de assumir o controle. A série criada por Warren Ellis e Bryan Hitch era parte da Wildstorm, selo da Image Comics depois comprado pela DC e integrado a seu catálogo. Os quadrinhos originais trazem uma pegada política e social que remete a "Watchmen", de Alan Moore, temperado com ação bombástica, grandiosa e ultraviolenta.
Ainda no cinema, "Supergirl: A Mulher do Amanhã" reconstroi a imagem da prima do Superman como uma entidade superpoderosa que, ao contrário do parente mais famoso, não foi criada para respeitar valores morais básicos.
Pelo contrário, ela passou 14 anos em um pedaço de Krypton arremessado ao espaço quando o planeta explodiu e viu todos que ela amava morrerem lentamente antes de sua chegada à Terra. É ficção científica com um toque de anti-heroísmo.
Uma das surpresas na lista é "Monstro do Pântano", que definitivamente pertence ao mundo de terror do universo DC. O personagem, revigorado nos anos 1980 por Alan Moore, encabeçou dois filmes toscos no começo dos anos 1990 e, em 2019, esteve em uma série curtinha no já defunto canal DC Universe.
O novo filme, ao lado da série animada da HBO Max "Creature Commandos", vai mergulhar fundo em tramas sobrenaturais, que ainda terão conexão com outros projetos sob a asa de Gunn.
O que funciona a gente abraça
Explorar a simbiose entre cinema e streaming é parte do apelo dessa nova DC. Assim como acontece na concorrente, o elenco de cada projeto deve reprisar o papel em mídias diferentes - incluindo animação. A diferença é volume: dois filmes e duas séries por ano. Agradecemos o respiro.
Uma das melhores decisões desse renascimento, por exemplo, é manter Viola Davis como Amanda Waller, a líder do Esquadrão Suicida que manipula as cordinhas dessa coleção de seres estranhos. "Waller" segue os acontecimentos da primeira temporada de "O Pacificador" e mostra o quanto Gunn e Safran não tem problemas em manter o que já funciona na DC.
Por falar em herança, ainda temos quatro projetos com o selo do estúdio chegando aos cinemas este ano. Até segunda ordem, toda essa turma pode fazer parte da Nova DC. Mesmo que alguns filmes tenham sabor de despedida - como "Shazam! Fúria dos Deuses" -, outros parecem fundamentais para os planos.
Passado, presente e futuro do streaming
"The Flash" causou uma ótima impressão em James Gunn, mas o entusiasmo de quem precisa vender o peixe parece justificado. Afinal, o filme que marca a volta de Michael Keaton como o Batman é também o marco zero dessa nova cronologia, apertando o reset com o conceito do multiverso como pano de fundo. Nessa esteira, "Besouro Azul" e o segundo "Aquaman" podem fazer parte da nova DC.
A trama de "Aquaman", por sinal, leva a "Superman: Legacy", e o resto é o som de um novo universo compartilhado em nascimento. É o prenúncio de "Lanternas", série que coloca Hal Jordan e John Stewart, dois personagens que usam o nome Lanterna Verde, em uma trama de mistério ao estilo "True Detective". A série da HBO Max dispara a história principal que liga este universo.
Também na HBO Max se espera "Paraíso Perdido", drama de ação, intriga e política ambientado na ilha de Themyscira, muito antes do surgimento da Mulher-Maravilha - pense em "Game of Thrones", mas com amazonas. Já "Gladiador Dourado" é sobre um fracassado, um viajante do tempo que traz artefatos heroicos do futuro para ser adorado como super-herói em nossa era. Projetos diferentes para públicos diferentes, todos sob o mesmo manto.
O Cavaleiro das Trevas ressurge
Com algumas exceções, claro. A continuação de "Coringa", que vai juntar Joaquin Phoenix e Lady Gaga em um musical (?), terá o selo DC Elseworlds e não se encaixa nesse cenário desenhado por James Gunn. O mesmo se aplica a "The Batman: Part II", que dará continuidade ao "Universo de Crime do Batman" tocado por Matt Reeves. O próximo filme, com Robert Pattinson repetindo o papel do Homem-Morcego, está agendado para outubro de 2025.
Não que os planos de James Gunn para a DC excluam o Batman. Pelo contrário: eles aumentam seu escopo. "The Brave and the Bold" traz um Cavaleiro das Trevas veterano no combate ao crime, em ação ao lado de Robin - seu filho, Damien Wayne, um assassino feroz de 12 anos de idade.
Em vez de seguir o caminho do justiceiro solitário que o Batman trilha há anos, essa nova versão abre espaço para trazer à mesa sua enorme família de ciadjuvantes, como o Asa Noturna, a Caçadora e o Capuz Vermelho. Uma bat-família. Pela primeira vez em anos, a DC olha para seu futuro no cinema e respira aliviada.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.