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Novo terror-sensação, 'Skinamarink' causa mais desconforto do que medo
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No século passado, quando serviços de streaming e redes sociais pertenciam à ficção científica, o templo sagrado para conhecer e discutir filmes que fugiam do circuito comercial eram os cineclubes.
Sessões à tarde se estendiam em conversas de bar à noite, com grupos de apaixonados compartilhando suas descobertas em super 8, VHS ou cópias em 35mm vindas de todo o mundo. A gente era feliz e, veja só, não sabia.
Assistir a este "Skinamarink - Canção de Ninar", foi como entrar numa cápsula do tempo. O filme de estreia de Kyle Edward Ball, mesmo chegando ao circuito comercial, tem o espírito (e, por vezes, a qualidade) dos achados de aficionados, que trocaram o boteco pelo TikTok, Reddit e Twitter.
Foi com a força do boca a boca que uma cópia do filme, vazada de uma plataforma digital para festivais de cinema, ganhou dimensão quase mítica. O público mais jovem, ainda na ressaca da pandemia que por meses trancou o planeta em casa, viu fragmentos em redes sociais e criou a demanda.
Longe de ser um produto polido, "Skinamarink" parecia um filme maldito, um pesadelo em forma de cinema experimental. Era como se as imagens amaldiçoadas de Samara, de "O Chamado", fossem esticadas em um longa supervisionado por David Lynch e filmado com a mesma estética tosca de "A Bruxa de Blair".
Não demorou para que este "Canção de Ninar" fosse alardeado como "um dos filmes mais assustadores de todos os tempos", o que posteriormente impulsionou um lançamento no cinema pela rede AMC via IFC Films.
Terror é uma coisa engraçada, porque o burburinho dispara algum gatilho que faz o público arriscar a experiência coletiva. No fim, o orçamento de US$ 15 mil, levantado em boa parte por financiamento coletivo, resultou em uma bilheteria global de US$ 2 milhões. O produtor brasileiro precisa ficar de olho.
Se essa performance foi ou não merecida, fica a gosto do freguês. Longe de seguir quaisquer convenções de um cinema de terror mais tradicional, "Skinamarink" mergulha fundo na tradição de filmes experimentais. No sentido literal: ao longo da trama, Ball parece testar diferentes formas, ângulos, cortes, sons e sensações. Na maioria das vezes, o resultado é o tédio.
A trama acompanha duas crianças, os irmãos Kevin e Kaylee, que acordam no meio da noite e se descobrem sozinhos em casa. Eles chamam seu pai. Nada. Assistindo a desenhos animados, logo a dupla percebe que eles podem não estar tão sozinhos assim. Quando portas e janelas desaparecem, a casa se torna uma prisão talhada no medo.
Toda a construção dramática de "Skinamarink" busca traduzir um estado de semiconsciência infantil, quando a madrugada traz de barulhos sem origem específica a figuras amorfas desenhadas na escuridão. A imaginação das crianças pode preencher lacunas, mas aqui seu pavor é real.
Kyle Ball traz uma composição visual esperta. Ele jamais mostra as crianças de corpo inteiro e, na maior parte do tempo, assume seu ponto de vista: na visão dos pequenos, de 4 e 6 anos, ângulos, saliências e pontos cegos da casa se agigantam na escuridão em um efeito claustrofóbico.
O resultado, contudo, exige muita paciência. "Skinmarink" parece perder o impacto ao longo de sua duração, o que me faz pensar se ele não deveria existir como um curta-metragem. Por outro lado, a oportunidade raríssima em ver em cartaz um produto tão desconectado da realidade do circuito comercial lhe confere um certo mérito.
Ainda assim, não é para tanto. Despido da máquina espontânea do hype, e do óbvio impacto que causou no cinema de gênero este ano, "Skinmarink" deixa um legado de surto coletivo, em que o incômodo de reviver pesadelos infantis pode ser assustador ou enfadonho. De minha parte, não foram poucas as vezes que eu conferi o relógio.
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