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'Sombras de Um Crime' traz Liam Neeson em uma trama policial quase decente
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É fácil esquecer o quanto Liam Neeson é um grande ator quando seu ganha-pão se resume a infinitas variações do "idoso casca grossa" que ele inaugurou com "Busca Implacável". O astro ainda se mostra bom de briga, mas não é esse o foco de "Sombras de Um Crime".
A ação aqui vai para os anos 1930, quando o detetive Philip Marlowe vive em uma Los Angeles movida a crime, traição, figuras suspeitas e, claro, pela ilusão adocicada de Hollywood. É neste cenário que ele é contratado por uma socialite (Diane Kruger) para encontrar seu amante. Logo, a trama estende seus tentáculos pelo submundo sujo da capital dos sonhos.
Philip Marlowe é, claro, criação do escritor Raymond Chandler, que o apresentou em 1939 no romance "O Sono Eterno". O detetive imerso na América das histórias de crime logo se tornou um sucesso, migrando para o rádio, TV e cinema, ganhando em Humphrey Bogart sua tradução mais perfeita em 1946 no clássico "À Beira do Abismo".
Liam Neeson, aqui em seu centésimo (!) filme, mostra-se um intérprete à altura para traduzir o equilíbrio de régua moral elevada e indiferença à violência de Marlowe. Pena que "Sombras de Um Crime" não faça justiça ao personagem, mesmo com o peso do talento atrelado ao projeto. A começar pelo diretor Neil Jordan.
O cineasta irlandês mostrou seu enorme talento já na largada, com a fantasia "A Companhia dos Lobos" e o thriller "Mona Lisa". "Traídos Pelo Desejo" lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro, e "Entrevista com o Vampiro" o colocou no jogo dos blockbusters - onde ele, para ser honesto, nunca se sentiu confortável.
A parceria com Liam Neeson começou no drama histórico "Michael Collins", e o ator voltou à sua direção em um papel de coadjuvante no drama "Café da Manhã em Plutão". Adaptar o personagem de Raymond Chandler parecia uma receita óbvia não só para Jordan voltar aos holofotes, mas também para quebrar a caixa em que o próprio Neeson se colocou.
O cinema noir e a literatura pulp, combustíveis de "Sombras de Um Crime", trazem uma receita de detetives durões, vilões amorais e mulheres fatais que precisa de cuidado para não desandar. É uma linha tênue entre reverência com o formato e ousadia para lhe imprimir personalidade e sensibilidade contemporâneas.
O resultado, porém, ficou no meio do caminho. O elenco esforçado - além de Neeson e Kruger, o filme traz Jessica Lange, Alan Cumming e Danny Huston - e a produção mega caprichada não escondem a fragilidade do texto, por vezes sem nenhum ritmo e perdido entre tantos personagens e reviravoltas.
Ainda assim, "Sombras de Um Crime" é um decente o bastante para uma sessão sem compromisso. Se não chega perto da excelência de "Los Angeles - Cidade Proibida", ao menos não encontra a mediocridade de "Caça aos Gângsters". Mas não espere Liam Neeson encabeçando uma série de filmes como Philip Marlowe: nessa viagem ao submundo do crime em Hollywood, sua arma só tem munição para um único tiro.
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