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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com Ben Affleck na direção, o ótimo "Air" vai além da origem de um tênis

Matt Damon em "Air - A História Por Trás do Logo" - Warner
Matt Damon em 'Air - A História Por Trás do Logo' Imagem: Warner

Colunista do UOL

07/04/2023 03h51

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No papel, um filme sobre a criação de um tênis parece tão empolgante quanto uma reunião de condomínio. São pessoas conversando, discutindo estratégias de marketing, aprovando o design, desenvolvendo uma marca, imaginando como empacotar e vender um produto.

Ben Affleck merece, portanto, aplausos por fazer de "Air - A História Por Trás do Logo" um filme genuinamente empolgante. Um recorte sobre a tenacidade de um homem que vislumbrou uma oportunidade única e, ao alinhar elementos absurdamente díspares, terminou por mudar a história do basquete.

Esse sujeito é Sonny Vaccaro (Matt Damon), que em meados dos anos 1980 assumiu, como estrategista de marketing, a função de revigorar a linha do esporte para a Nike. A empresa era, até então, líder no mercado de tênis para corrida, mas buscava atrelar sua marca ao mundo milionário do basquete - e ao consumidor jovem que até então lhe escapava

Vaccaro, contrariando a orientação de toda sua equipe, decidiu não investir sua verba, que já não era tão atraente, em um leque de jogadores. Em vez disso, insistiu que a empresa apostasse todo seu orçamento em um único atleta, um novato que começava na época sua carreira na NBA: Michael Jordan.

Como eu disse, no papel a ideia parece um convite a uma soneca. Nas mãos de Affleck, porém, "Air" eleva-se além do desenvolvimento de uma marca. É como uma versão da série "Mad Man" embalada por hair metal e synth pop, fazendo com que o mundo da propaganda pareça o caminho para o Santo Graal. É divertido, é empolgante, e faz com que uma simples reunião de negócios se torne um clímax emocionante.

Existe um movimento curioso no cinema atual que é retratar a história de marcas e produtos. "Fome de Poder" mostrou Michael Keaton como o executivo que fez do McDonald´s a maior rede de fast food do planeta. Os recentes "Tetris" e "Blackberry" são auto explicativos em suas propostas.

air viola - Warner - Warner
Matt Damon e Viola Davis discutem o futuro do basquete em 'Air'
Imagem: Warner

Esse "cinema de coisas", entretanto, é menos sobre produtos corporativos e mais sobre as pessoas que tiveram a disposição, a visão e a teimosia para provar que sua visão poderia, sim, concretizar-se além do mero capricho. Ok, é um pouco "cinema de coach", só que executado sem uma fração de picaretagem.

"Air" mostra, por fim, como a criação do Air Jordan, e o contrato da Nike com Michael Jordan, foram fundamentais para desenhar o basquete como negócio do modo que o esporte existe hoje. Histórias de bastidores como essa podem não incendiar as bilheterias além de suas intenções modestas. Mas como entretenimento e, por que não, como inspiração, Ben Affleck acertou todas as bolas na cesta.