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Roberto Sadovski

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

10 astros da música que se aventuraram no cinema

Paulo Miklos em "O Homem Cordial" - O2 Play
Paulo Miklos em 'O Homem Cordial' Imagem: O2 Play

Colunista do UOL

11/05/2023 07h08

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A imagem de Paulo Miklos sempre esteve ligada aos Titãs, uma das maiores bandas de rock do Brasil. Mas desde que ele arriscou um segundo ofício, a música passou a caminhar em paralelo com seu trabalho como ator.

A mudança, iniciada em "O Invasor", que o diretor Beto Brant lançou em 2001, disparou uma carreira eclética em que Miklos pôde exercitar seus músculos dramáticos em thrillers, comédias, dramas e até em aventuras infantis. Ele agora está nos cinemas em "O Homem Cordial" e, pelo volume de projetos envolvendo seu nome, não deve sair de cartaz tão cedo.

Trocar os palcos pelas telas não é um movimento incomum, especialmente no cinemão americano. Bing Crosby pavimentou o caminho, passando de cantor de sucesso a ator de prestígio, ganhando o Oscar por "O Bom Pastor", de 1944. O público, pelo visto, gostava de acompanhar seus artistas favoritos em várias frentes.

Não é raro, portanto, descobrir que músicos são grandes performers em outras plataformas. Já vimos boas atuações de artistas com carreira sólida na música country (Kris Kristofferson, Dwight Yoakan, Dolly Parton), no hip hop (Queen Latifah, Ice Cube, Ice-T, Ludacris) e no mundo pop (Beyoncé, Mandy Moore, Mariah Carrey, Jennifer Lopez).

Uma estrela completa

Courtney Love teve seu momento no cinema no começo do século ("O Povo Contra Larry Flynt", "O Mundo de Andy"). Bette Midler deixou a Broadway e não olhou para trás desde o excepcional "A Rosa", de 1979. Cher ganhou o Oscar por "Feitiço da Lua" de 1987. E Jon Bon Jovi... bom, Jon Bon Jovi é um sujeito muito bacana!

Separei alguns casos emblemáticos de transições da música para o cinema, de saltos bem-sucedidos a casos que não pecaram por falta de vontade, passando por revelações surpreendentes e promessas prestes a se concretizar. Além de uma estrela completa em todas as áreas e de um bônus que não dava para ignorar.

Ah, o movimento contrário também existe. Mas não conheço muita gente que se entusiasmou com a parceria de Eddie Murphy com Michael Jackson, ou fãs de "The Return of Bruno", álbum de estreia de Bruce Willis. Não se pode acertar todas.

ELVIS PRESLEY

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Elvis Presley em 'Balada Sangrenta'
Imagem: Divulgação

O Rei do Rock nunca escondeu seu desejo em estender seu reinado para o cinema. Ele conseguiu... mas talvez não como esperava. Sob o comando firme de seu empresário, o Coronel Parker (que não era nem coronel e muito menos Parker), Elvis estrelou uma coleção de bobagens nos anos 1950 e 1960, em que romance e música davam o tom. Seu evidente talento dramático, porém, transparece em duas obras: "Balada Sangrenta" (1958) e "Estrela de Fogo" (1960). Foi pouco.

FRANK SINATRA

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Frank Sinatra em 'Sob o Domínio do Mal'
Imagem: United Artists/Divulgação

Frank Sinatra já era um cantor de enorme sucesso quando arriscou o cinema. Fez uma ponta em "Noites de Rumba" (1941) e em "Alvorada da Alegria" (1943) e teve papéis maiores em "A Lua a Seu Alcance" e "Vivendo de Brisa", ambos em 1944. Mas foi no musical "Marujos do Amor", com Kathryn Garson e Gene Kelly, que Sinatra viu seu nome no topo, disparando uma carreira com mais de cinquenta filmes, incluindo clássicos como "A Um Passo da Eternidade" (1953), "Garotos e Garotas" (1955), "O Homem do Braço de Ouro" (1955) e "Sob o Domínio do Mal" (1962),

BARBRA STREISAND

crossover barbra - Columbia/Divulgação - Columbia/Divulgação
Barbra Streisand em 'Funny Girl'
Imagem: Columbia/Divulgação

Poucos artistas são tão completos como Barbra Streisand. Sua carreira que já atravessa seis décadas, premiada com o Oscar, Emmy, Tony e Grammy, começou em casas noturnas e nos palcos de Nova York, gravando em 1963 o primeiro de seus mais de 70 álbuns. O cinema lhe abriu as portas em grande estilo cinco anos depois em "Funny Girl", adaptação do musical da Broadway em que ela já era a protagonista. Barbra ganhou seu primeiro (e único) Oscar e seguiu com uma carreira agitada na década seguinte. Nos anos 1980 ela estreou como diretora em "Yentl" (1983) e diminuiu o ritmo, dirigindo e atuando novamente em "O Príncipe das Marés" (1991) e "O Espelho Tem Duas Faces" (1996). Streisand desacelerou sua produção no novo século, basicamente se divertindo em duas sequencias de "Entrando Numa Fria" e em "Minha Mãe É Uma Viagem" em 2012.

ROBERTO CARLOS

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O divertido 'Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura'
Imagem: Divulgação

Não é à toa que Roberto Carlos é chamado frequentemente de "Rei". Roqueiro na Jovem Guarda dos anos 1960, ele transformou-se em cantor romântico na década seguinte e criou, frequentemente ao lado do amigo Erasmo Carlos, algumas das canções mais emblemáticas da música brasileira. Foram mais de uma centena de álbuns em mais de seis décadas de carreira. O cinema não ficou de fora, e Roberto protagonizou uma trilogia de ação divertidíssima, sempre sob a direção de Roberto Faria: "Em Ritmo de Aventura" (1968), "O Diamante Cor de Rosa" (1970) e "A Trezentos Quilômetros por Hora" (1971). Todos deliciosamente cafonas, todos indispensáveis para a história do cinema nacional. Roberto Carlos, sem nenhuma surpresa, tinha talento dramático real e segura os três sem derramar uma gota de suor!

DAVID BOWIE

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David Bowie em 'O Homem Que Caiu na Terra'
Imagem: BLF/Divulgação

David Bowie mudou não só a música, mas o tecido da cultura pop, ao longo de uma carreira em que ele nunca deixou de olhar para o futuro. Abraçar o cinema era uma evolução natural para um artista tão inquieto. Apesar de começar como protagonista em "O Homem Que Caiu na Terra" (1976), ficção científica que solidificava uma de suas personalidades nos palcos, Bowie sempre preferiu papéis coadjuvantes, como em "Fome de Viver" (1983), "Um Romance Muito Perigoso" (1987) e "A Última Tentação de Cristo" (1988). "Labirinto - A Magia do Tempo" o colocou em uma fantasia infantojuvenil entre George Lucas e Jim Henson, enquanto "Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer" foi um pedido feito ao próprio David Lynch. Um de seus últimos papéis foi em "O Grande Truque", de Christopher Nolan.

MADONNA

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Madonna em 'Evita'
Imagem: Buena Vista

O cinema sempre esteve entrelaçado com a carreira de Madonna. Desde que tomou o submundo artístico de Nova York no final dos anos 1970, ela combinava a música com experiências dramáticas, a começar pelo experimental "Um Certo Sacrifício", rodado em 1979 e lançado em 1985, quando a artista já começava sua dominação mundial. Mesmo que ela não fosse protagonista de "Procura-se Susan Desesperadamente", do mesmo ano, o filme foi visto como um projeto seu.

Enquanto o planeta se rendia à sua música e influência, que definiria a arte pop de maneira irrevogável, o cinema seguia como projeto paralelo, em filmes como "Quem É Esta Garota!", "Dick Tracy" e "Uma Equipe Muito Especial". Terminou reconhecida como grande atriz no musical "Evita", que Alan Parker dirigiu em 1996, mas as escolhas equivocadas subsequentes a fizeram escantear a carreira no cinema, mesmo depois de dirigir o drama histórico "W.E." em 2011. Madonna está alinhada para dirigir sua cinebiografia, "Little Sparrow", mas o projeto entrou num hiato por um motivo nobre: a turnê mundial que celebra seus 40 anos de carreira. Tudo bem. Prioridades.

MARK WAHLBERG

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Mark Wahlberg em 'Boogie Nights'
Imagem: Warner/New Line

Nem em um milhão de anos alguém poderia imaginar que a voz por trás do sucesso "Good Vibrations", a cara do grupo Marky Mark and the Funky Bunch, um jovem com um histórico de violência, poderia se tornar um ator respeitado. Mas foi por caminhos tortuosos que Mark Wahlberg passou de ídolo teen e modelo de cuecas a protagonista de filmes diversos como "Medo", "Planeta dos Macacos", "Ted" e dois "Transformers".

No fim, tudo se resume a boas escolhas. Wahlberg mostrou que tinha talento quando encabeçou "Boogie Nights", segundo filme de Paul Thomas Anderson. Mesmo com um ou outro produto inócuo no currículo, ele se destacou em filmes de David O. Russell ("Três Reis" e "O Vencedor"), Martin Scorsese ("Os Infiltrados"), James Gray ("Os Donos da Noite") e Ridley Scott ("Todo o Dinheiro do Mundo").

WILL SMITH

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Will Smith em 'Independence Day'
Imagem: Fox

A carreira de rapper e MC sempre pareceu colocar limites no talento de Will Smith. Mas foi seu sucesso como um artista de hip hop que fugia dos temas violentos e dos palavrões que, em 1990, a NBC construiu a série "O Dono do Pedaço" em torno de sua figura. "Seis Graus de Separação" (1993) e "Os Bad Boys" (1995) provaram sua viabilidade como protagonista no cinema, solidificada com o sucesso global de "Independence Day" em 1996.

Mesmo com o rap ainda presente em sua vida, o cinema tomou a dianteira, e nos anos seguintes Smith tornou-se um dos maiores astros do mundo, acumulando sucessos como "Homens de Preto", "Inimigo do Estado", "Eu, Robô", "Eu sou a Lenda", "Hancock" e "Aladin". Os blockbusters despertaram o desejo de também ser reconhecido por seu talento dramático, que ele mostrou em "Ali", "À Procura da Felicidade" e "King Richard", que finalmente lhe deu o Oscar. Um incidente envolvendo o comediante Chris Rock durante a cerimônia, quando Smith o agrediu ao vivo, colocou uma vírgula em sua carreira. Seguimos esperando cenas dos próximos capítulos.

JUSTIN TIMBERLAKE

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Justin Timberlake em 'A Rede Social'
Imagem: Sony

"O Clube do Mickey", série de TV decana da Disney, foi a primeira vitrine para Justin Timberlake, que foi parte do elenco do programa no começo dos anos 1990, ao lado dos futuros astros Britney Spears, Ryan Gosling e Keri Russell. Em 1995 veio o chamado da música pop com o grupo 'N Sinc, uma das maiores boy bands da história.

Timberlake, por sua vez, tratou de diversificar seu portfólio buscando papéis no cinema independente. A partir de 2005 vieram "Edison, Poder e Corrupção", "Alpha Dog", "Southland Tales" e "Entre o Céu e o Inferno", que o ajudaram a lapidar seu talento dramático. "A Rede Social" de 2010, o colocou no primeiro time, que ele seguiu com um par de comédias românticas ("Professora Sem Classe" e "Amizade Colorida") e outras tentativas como protagonista ("O Preço do Amanhã", "Aposta Máxima"). Equilibrar os dois mundos, da música e do cinema, é seu jogo.

LADY GAGA

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Lady Gaga em 'Casa Gucci'
Imagem: Universal

Lady Gaga quer muito, mas muito mesmo, ser reconhecida como uma grande atriz. É um desafio fácil de entender. Afinal, ela foi a artista pop que ajudou a definir a cara do novo milênio, não só com músicas excepcionais como "Poker Face" e "Bad Romance", mas com todo um trabalho de imagem e percepção que levou o entretenimento a outro patamar. O cinema, pelo visto, é a próxima fronteira.

Fronteira que ela começou a desbravar na TV, com um papel na quinta temporada de "American Horror Story". O trabalho no cinema começou com pontas em "Machete Mata" e em "Sin City: A Dama Fatal", saltando para o papel principal em "Nasce Uma Estrela", de Bradley Cooper. A esperada vitória no Oscar não veio, e ela foi esnobada mais uma vez com "Casa Gucci". Talento dramático não lhe falta. Talvez o reconhecimento que Lady Gaga espera venha na terceira tentativa, a continuação "Joker: Folie à Deux", em que ela surge, ao lado de Joaquin Phoenix, como a Arlequina.

Bonus round!
MICK JAGGER & KEITH RICHARDS

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Keith Richards como o Capitão Teague na série 'Piratas do Caribe'
Imagem: Disney

Os leads da maior banda de rock do planeta, os Rolling Stones, flertaram com o cinema sem nunca levar uma carreira paralela a sério. Mick Jagger foi mais longe, à frente de "Performance" e "A Forca Será Tua Recompensa" (como o criminoso australiano Ned Kelly), ambos em 1970, e depois como vilão em "Freejack: Os Imortais" (1992) e "Confissões de Um Sedutor" (2001). Ele tem uma produtora, a Jagged Films, então está na vantagem.

Mas eu garanto, sem a menor sombra de dúvida, que Mick não se divertiu tanto quanto seu parceiro Keith Richards em um set de filmagem. O lendário guitarrista dos Stones não podia se importar menos com cinema, mas viu seu visual e trejeitos surrupiados por Johnny Depp quando o astro criou o capitão Jack Sparrow em "Piratas do Caribe". Foi com zero surpresa que Keith apareceu como o pai do personagem de Depp, um certo Capitão Teague, em duas continuações do sucesso Disney. Quer saber? Keith Richards nem sequer precisou atuar.