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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Jurassic Park': 30 anos de uma revolução que mudou o cinema para sempre

"Jurassic Park" completa 30 anos - Universal
'Jurassic Park' completa 30 anos Imagem: Universal

Colunista do UOL

09/06/2023 04h14Atualizada em 09/06/2023 10h58

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Eu lembro como se fosse hoje. Dois jipes cortam a selva, levando os convidados de uma reserva biológica/parque temático exclusivo. Enquanto o trio conversa, os veículos param numa clareira, seus passageiros saindo de sua distração para olhar a maravilha bem ali, a seu lado: um dinossauro, vivo, respirando, dividindo o mesmo espaço com o homem.

Se na tela a majestade do momento era pontuada pela expressão incrédula de Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum, no cinema as reações do público espelhavam o mesmo espanto. Com "Jurassic Park", Steven Spielberg devolveu os dinossauros à vida usando tecnologia de ponta e artesanato cinematográfico. Para a plateia, porém, o que surgia entre luz e imagem era magia pura.

Três décadas depois, "Jurassic Park" continua surpreendentemente atual. A animação dos dinossauros gerada em computador, então um ato de pioneirismo, envelheceu tão bem que, em comparação com muitos pedaços de entretenimento modernos, ainda sai ganhando. As criaturas habitando a ilha Nublar seguem vivas.

O motivo não é outro além de talento. As imagens geradas por computador, ou CGI, engatinhavam no começo dos anos 1990. Experiências anteriores como "O Enigma da Pirâmide" e "Willow" ganharam força nas mãos de visionários - especialmente James Cameron. "O Segredo do Abismo" integrou os truques digitais com atores e cenários, ao passo que "O Exterminador do Futuro" o elevou à condição de protagonista com o eletrizante T-1000, o ciborgue de metal líquido.

Para "Jurassic Park", o jogo era outro. Embora a ideia fosse usar dinossauros animados com a técnica stop motion, em que miniaturas são fotografadas frame a frame para criar a ilusão de movimento, técnicos da Industrial Light + Magic mostraram a Spielberg uma alternativa digital que se integraria melhor com os outros elementos em cena. A trucagem foi completada ao equilibrar o CGI com bonecos animatrônicos, dinossauros construídos em escala manipulados eletronicamente. A fusão das técnicas teve resultado assombroso.

Se a tecnologia foi fundamental para criar "Jurassic Park", ela de nada valeria se não estivesse a serviço de uma trama sólida conduzida por personagens bem desenvolvidos. Baseado no livro de Michael Crichton, o filme traz o bilionário John Hammond (Richard Attenborough) levando especialistas para a ilha em que ele clonou dinossauros, com a ideia de revelar sua maravilha científica ao mundo.

Apesar do assombro inicial, os paleontólogos Alan Grant (Sam Neill) e Ellie Satler (Laura Dern), ao lado do matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum), tem sérias reservas quanto à segurança do local. "Humanos e dinossauros, duas espécies separadas por 65 milhões de anos de evolução", pondera Grant. "Quem pode ter a menor ideia do que acontece quando eles são reunidas?"

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Ariana Richards, Sam Neill e Joseph Mazzello: perdidos na selva
Imagem: Universal

A hesitação se mostra fundamentada quando as maquinações de um funcionário ganancioso (papel de Wayne Knight) sabota o sistema eletrônico que mantém o parque funcionando para roubar embriões de dinossauros. Isso deixa os protagonistas, ao lado dos netos de Hammond (interpretados por Ariana Richards e Joseph Mazzello), à deriva em meio à selva e a predadores jurássicos.

No começo dos anos 1990, Spielberg havia perdido parte do lustre que o fez dominar a década anterior, tanto como diretor como produtor. "Indiana Jones e a Última Cruzada", de 1989, foi seguido do drama "Além da Eternidade", um filme de valor sentimental para ele, e do equivocado "Hook - A Volta do Capitão Gancho". Parecia que o ex garoto prodígio de Hollywood havia exaurido seu fôlego.

Quando ele começou a produção de "Jurassic Park", o desafio tecnológico se estendeu para apuros durante as filmagens, em especial quando um furacão atingiu a produção, então locada no Havaí. Spielberg, no entanto, sabia exatamente o que estava fazendo. Usou os elementos, os avanços digitais e a própria mítica dos dinossauros a seu favor. Quando a campanha do filme foi disparada, logo o mundo não pensava em outra coisa a não ser conferir o que o diretor havia preparado.

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Laura Dern, Jeff Goldblum e Bob Peck: criaturas à espreita
Imagem: Universal

"Jurassic Park" chegou aos cinemas em 11 de junho de 1993 e foi um estouro. Poucas vezes um filme torna-se um verdadeiro fenômeno cultural, e seu "Parque dos Dinossauros" monopolizou a conversa cultural como "Batman" ou "O Exterminador do Futuro 2" fizeram anteriormente. Dinossauros voltaram a ser o centro das atenções, inclusive acadêmicas, com o aumento da busca por cursos voltados ao estudo do período. Nas bilheterias, o filme é um colosso que, até hoje, arrecadou mais de US$ 1 bilhão.

Todo esse pacote pop embalava uma aventura eletrizante, em que Spielberg demonstra seu total domínio na arte de empolgar a plateia. É a combinação de narrativa dinâmica, elenco afiado, tecnologia de ponta, trilha sonora inimitável (novamente assinada pelo maestro John Williams) e uma coleção de momentos emblemáticos que continuam capturando a imaginação do público.

Para o cinema, porém, o avanço tecnológico talvez seja o maior legado de "Jurassic Park". A imaginação tornou-se o único limite, e cada salto criativo que testemunhamos no cinema moderno, das proezas dos super-heróis à criação de novos mundos, teve aqui seu ponto de partida. Spielberg cercou-se das mentes mais brilhantes nos bastidores, em especial Dennis Muren, Phil Tippet e Stan Winston, para combinar diferentes técnicas e criar o futuro.

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Steven Spielberg e um dino amigo no set de 'Jurassic Park'
Imagem: Universal

O melhor exemplo desse caldeirão está na cena do ataque do T-Rex. Chove, nossos heróis estão presos em dois jipes, e logo percebem que estão à mercê do maior dos predadores. Toda a trucagem digital, todo o trabalho brilhante com animatrônicos, toda a combinação de trilha, edição e direção tornam-se invisíveis quando experimentamos medo, tensão e o inevitável jorro de adrenalina, cada pedaço operando em uníssono a serviço único da história.

De todos os filmes de Steven Spielberg, "Jurassic Park" foi o que gerou mais frutos na cultura pop. E não só das duas continuações do filme original (a segunda dirigida por Joe Johnston), ou da nova série "Jurassic World" que expande este mundo, mas também com produtos, brinquedos, atrações em parques temáticos, animações e colecionáveis. "Jurassic Park" chega aos 30 anos mais presente do que nunca.

Nenhum derivado, no entanto, chega perto do assombro do filme original, que chegou aos cinemas como uma incógnita e terminou como o testamento do talento inigualável de Steven Spielberg. Dinossauros ganharam vida, mas foi o elemento humano, lapidado de forma brilhante como em todos os trabalhos do diretor, que nos fizeram prestar atenção. Steven Spielberg teve um sonho. E somos afortunados que ele decidiu compartilha-lo com o mundo.

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