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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Novo 'Sobrenatural' mostra que cinema de terror ainda é o melhor negócio

Patrick Wilson, que protagoniza e dirige o terror "Sobrenatural - A Porta Vermelha" - Sony
Patrick Wilson, que protagoniza e dirige o terror 'Sobrenatural - A Porta Vermelha' Imagem: Sony

Colunista do UOL

06/07/2023 05h14

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Na matemática de Hollywood, não existe nada mais confiável que um filme de terror. É só fazer as contas. Um blockbuster como "A Pequena Sereia", que colocou US$ 530 milhões nos cofres da Disney, é um "sucesso moderado". "Velozes & Furiosos 10", que encostou em US$ 720 milhões, é visto como decepção. Já "M3gan", com US$ 180 milhões arrecadados em todo o mundo, é um sucesso avassalador.

A contabilidade que faz números fabulosos se tornarem resultados fracassados tem uma explicação fácil: fazer um filme em Hollywood está cada vez mais caro. É impensável exigir que cada novo blockbuster cruze a barreira de US$ 1 bilhão nas bilheterias, mas quando o preço desse tipo de filme gira entre US$ 250 e US$ 300 milhões, os nove dígitos são a única régua para buscar lucro. "M3gan"? Ah, esse custou US$ 12 milhões. Só alegria.

Não é nenhuma novidade. Entra ano e sai ano, o cinema de sustos e arrepios continua custando pouco, causando impacto em todo o mundo e enchendo os bolsos de produtores espertos. É o caso de Jason Blum, da Blumhouse, responsável por "M3gan" e pelo novo "Sobrenatural - A Porta Vermelha", que estreia nesta semana e, assim como 'Pânico 6', 'Boogeyman' e 'A Morte do Demônio', será um dos filmes mais lucrativos do ano.

A fórmula da Blumhouse é de uma lógica assustadora: orçamento pequeno, grandes lucros. "Atividade Paranormal" abriu as portas em 2009. De lá para cá, a produtora se tornou uma pequena fábrica de hits como "A Entidade", "Ouija", "Uma Noite de Crime" e, claro, "Sobrenatural". Em comum, além dos orçamentos nanicos, todos se tornaram séries de sucesso.

O primeiro "Sobrenatural", que James Wan dirigiu em 2011, explora a arquitetura da casa mal assombrada de forma assustadora e original. Entre ele e este "A Porta Vermelha", a série gerou mais três capítulos de qualidade duvidosa, mas com charme de filme B e a presença sempre confiável da incrível Lin Shaye. Esse novo episódio, que custou pálidos US$ 10 milhões, deixa de lado as tramas paralelas dos filmes três e quatro para recuperar a família assombrada do original.

No centro da história ainda estão Danton, o garotinho perturbado por uma entidade maligna em 2011, e seu pai, Josh, ele mesmo um ímã de espíritos do mal. No segundo filme, ambos tiveram suas memórias dos incidentes apavorantes e de suas experiências no plano astral, chamado aqui "O Além", apagadas por hipnose. Essa lacuna fez de Josh um sujeito errático e de Dalton um jovem distante.

"A Porta Vermelha" se passa uma década depois dos ataques sobrenaturais, quando Dalton, interpretado pelo mesmo Ty Simpkins, sai de casa para estudar artes na faculdade. A busca de uma identidade artística destrava seus bloqueios mentais e abre as portas para os mortos malignos flertarem mais uma vez com nosso mundo.

É a mesma sensação experimentada por Josh (Patrick Wilson), divorciado e distante da família (Rose Byrne deve ter filmado suas cenas em uma tarde), que volta a ver fantasmas e precisa descobrir respostas para perguntas que ele mesmo não sabe formular.

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Ty Simpkins, todo crescido e devidamente encapetado, em 'Sobrenatural - A Porta Vermelha'
Imagem: Sony

Existe uma dinâmica interessante entre pai e filho na primeira metade de "Sobrenatural - A Porta Vermelha", que sugere uma camada mais sólida para desenvolver sua trama. A narrativa sofisticada, porém, fica só na sugestão, já que o filme logo abraça os sustos fáceis e os fantasmas reciclados para fazer a plateia saltar da poltrona. Funciona, mas é um reflexo imediatista, não uma resposta emocional.

O problema aqui, como sempre, é o texto. Embora a série tenha desenvolvido seu rascunho de mitologia, desta vez a ideia estaciona na porta, real e metafórica, que Dalton e Josh precisam trancar para se livrar da entidade malvada da vez. A alegoria é pobre, mas "Sobrenatural - A Porta Vermelha" é menos um projeto criativo e mais um esforço dos parceiros para que Patrick Wilson faça sua estreia como diretor em ambiente seguro e familiar.

Vale duas horinhas no escuro, vai render uma bica e todo mundo fica feliz. O próximo da lista? A continuação de "O Exorcista", feita pelo mesmo time da nova trilogia "Halloween", com Ellen Burstyn reprisando seu papel do filme original. Jason Blum não dá ponto sem nó.