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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jason Statham - e só ele! - leva o letárgico 'Megatubarão 2' super a sério

Jason Statham em "Megatubarão 2" - Warner
Jason Statham em 'Megatubarão 2' Imagem: Warner

Colunista do UOL

03/08/2023 06h00

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Em algum momento dos anos 1980, o estúdio com os direitos da série "Tubarão" contemplou um caminho diferente para a saga dos predadores do oceano. Em vez de apostar em mais uma mistura de aventura e terror, a ideia era mesmo chutar o balde e se assumir como uma paródia com o selo "National Lampoon", o mesmo de "Clube dos Cafajestes".

Era esse o espírito do roteiro de "Tubarão 3 X 0 Povo", que começava com o escritor Peter Benchley, autor do livro adaptado por Steven Spielberg como o primeiro blockbuster da era moderna, na beira da piscina em sua mansão, ao telefone com produtores de Hollywood. No meio de uma discussão sobre ser mesmo um vendido para o dinheiro dos estúdios, ele era subitamente devorado por um great white que saltava de sua piscina. Coisa fina.

"Megatubarão 2" seria beneficiado se assumisse esse tipo de galhofa como seu fio condutor. Em vez disso, o diretor Ben Wheatley fica na corda bamba, entre o suspense e a comédia, indeciso sobre o filme que quer fazer. Faltou alguém lhe pegar pela mão e dizer, "campeão, tudo que precisamos é de Jason Statham combatendo megalodontes, o ancestral pré-histórico do tubarão, então não inventa".

O que ele fez? Foi lá e inventou. "Meg 2" começa como uma trama de exploração submarina, evolui para um thriller de espionagem industrial/roubo de recursos naturais nas profundezas, torna-se um filme de ação com terroristas invadindo uma plataforma de pesquisas oceânicas e morre na praia, literalmente, com banhistas desavisados servindo de petisco para feras abissais. É tanta coisa que eu devo ter passado dois feriados e uma folga no cinema.

Jason Statham é, claro, o MVP da empreitada. É impossível não simpatizar com alguém tão dedicado a um papel, declamando cada linha de um roteiro absurdo com seriedade inabalável. É o extremo oposto de seus companheiros de cena. De Cliff Curtis ao astro chinês Wu Jing, ninguém esconde o deleite que é fazer parte de um projeto tão bizarro. Afinal, alguém precisa se divertir com a coisa toda.

A "coisa toda" acontece alguns anos depois do filme original. Jonas Taylor (Statham) é um "guerreiro ecológico" dedicado a derrotar piratas e poluidores, ao mesmo tempo em que trabalha com um grupo de pesquisadores que explora a fossa oceânica de onde os megalodontes emergiram. Um mergulho revela, além dos tubarões pré-históricos, um grupo clandestino minerando metais valiosos no abismo.

O encontro com os terroristas — liderados por Sergio Peris-Mencheta, que também foi vilão em "Rambo: Até o Fim" — deixa Taylor e sua equipe presos em uma base submarina, à mercê de outras criaturas do fosso e da traição de uma pessoa de seu time na superfície. A ação escala para um conflito na plataforma de pesquisas até o clímax em um resort paradisíaco.

meg2 jason - Warner - Warner
Jason Statham enfrenta um megalodon, e não há mais o que ser dito...
Imagem: Warner

A essa altura, "Megatubarão 2" já conta com, sei lá, umas 96 horas de projeção e pouquíssima ação com os megalodontes e outras criaturas. Ver Jason Statham quebrando crânios e fingindo que tudo ali é denso como Shakespeare é até bacana, mas não existe outro propósito para o filme existir se não for como uma aventura de monstros descerebrada e divertida. Até aqui, estamos presos com o primeiro predicado.

O trecho final tenta compensar a letargia e a total falta de coerência do filme jogando absolutamente tudo e a pia da cozinha em cena. Temos três megalodontes atacando a turma no resort (e um quarto que pode ou não ser bonzinho), Statham e cia. fugindo de mercenários armados, monstros marinhos atacando em terra como velociraptors e até um polvo gigante porque... bom, por que não, certo?

Fica meio óbvio que "Megatubarão 2" faz parte de uma linha de montagem de blockbusters médios que serve para girar as engrenagens e fazer volume nos cinemas. Mas ele sofre da mesma falta de foco mostrada em outros candidatos a filmes "tão ruins que são bons", como "O Urso do Pó Branco" e "65 - Ameaça Pré-Histórica", que são só ruins mesmo. Se um terceiro "Meg" ameaçar sair da gaveta, que pelo menos traga um megalodonte na piscina.