Roberto Sadovski

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Opinião

'Caos Mutante': as Tartarugas Ninja estão de volta em seu melhor filme

"As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" é um barato. Não, risca isso, deixa eu corrigir: As Tartarugas Ninja são um barato! Desde que brotaram da imaginação da dupla Kevin Eastman e Peter Laird como uma HQ independente na primeira metade dos anos 1980, os heróis adolescentes se firmaram como uma das criações mais originais e bem-sucedidas da cultura pop.

Este sucesso foi alavancado por uma linha de brinquedos e um desenho animado na TV que iniciaram uma mania mundial e formaram uma legião de fãs. Um deles era Seth Rogen, que não tinha nem sequer dez anos no auge da "tartarugamania". Agora, como produtor e roteirista, é Rogen a força motriz por trás de "Caos Mutante", que recupera os personagens no cinema no que se tornou, de longe, sua melhor versão.

Dirigido por Jeff Rowe (de "A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas"), "As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" mistura recortes de todas as diferentes encarnações dos personagens para extrair o que eles têm de melhor. Existe aqui uma pitada de X-Men e do Demolidor de Frank Miller, inspiração dos gibis originais; o tom "para toda a família" e o design colorido da animação dos anos 1980; as artes marciais que eram destaque no filme live action de 1990; e uma dose generosa de ficção científica presente em seus videogames.

Antes de mais nada, "Caos Mutante" é um filme de origem, recontando como Donatello, Michelangelo, Leonardo e Raphael, quatro filhotes de tartaruga, são banhados acidentalmente por uma gosma mutagênica e se tornam animais antropomórficos. Escondidos nos esgotos de Nova York, eles são treinados na arte do ninjitsu pelo rato Splinter, que também evoluiu graças ao líquido mutante, para se defender da reação dos humanos caso descubram sua existência.

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"Caos Mutante" parte da premissa de que os quatro irmãos e seu mestre/figura paterna não foram os únicos alterados pela gosma. Quinze anos depois do incidente, Nova York encontra-se apavorada com a ameaça de um ladrão de tecnologia que não costuma deixar sobreviventes. Ele revela ser o Super-Mosca, a primeira cobaia do cientista que criou o mutagênico.

O moscão trabalha com um grupo de outros bichos alterados — incluindo aí os velhos conhecidos Rocksteady e Bebop — em um plano para criar uma máquina capaz de alterar e evoluir cada animal do planeta, removendo o ser humano como espécie dominante. Mesmo empolgados em descobrir a existência de outros mutantes, as Tartarugas decidem combater a gangue para salvar o mundo.

"As Tartarugas Ninja: Caos Mutante" é uma festa para os olhos. Aprendendo a lição de "Homem-Aranha no Aranhaverso", o filme é construído com um estilo de animação digital quase abstrato, como se as vinhetas mais alucinadas da MTV clássica fossem pintadas em uma tela com um pincel digital. É uma escolha ousada e revigorante, diferente do padrão homogêneo que hoje impera no eixo Disney/Pixar/DreamWorks.

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O Super-Mosca e sua gangue de mutantes tocam o terror!
O Super-Mosca e sua gangue de mutantes tocam o terror! Imagem: Paramount

O impacto visual é, contudo, apenas parte do apelo universal do filme. Apesar da ambientação fantástica, o coração da história está nos quatro adolescentes que, isolados por um pai superprotetor, observam o mundo com um olhar curioso, desejando fazer parte dele. Embora sejam mutantes e ninjas, tudo que as Tartarugas querem é ser adolescentes normais — pelo menos o máximo possível.

Em uma das "excursões" por Nova York em busca de suprimentos (e pizza), o quarteto conhece a estudante de jornalismo April O'Neill (voz de Ayo Edebiri, de "O Urso") — que, por sua vez, tem investigado as ações do Super-Mosca. A amizade evolui para um plano, e todo o caos termina em um clímax explosivo, com a metrópole finalmente exposta a uma ameaça impossível de ficar nas sombras. Mesmo sem saber se serão aceitos como heróis, as Tartarugas Ninja não hesitam em agir.

As sequências de ação, de lotas a perseguição de carros, seguem o nível de excelência de "Aranhaverso", a maior diferença sendo o tom juvenil tanto dos heróis como, também, dos vilões. Embora o clima seja ameaçador, o texto de Rogen — escrito com Rowe, Ewan Goldberg e Brendan O'Brien — nunca esconde o fato que são adolescentes incompreendidos em ambos os lados do conflito. É uma linha narrativa simples de seguir, que abre espaço para o apuro visual correr sem amarras.

April O'Neill descobre os segredos das Tartarugas Ninja
April O'Neill descobre os segredos das Tartarugas Ninja Imagem: Paramount

Acima de tudo, "Caos Mutante" é uma ação entre amigos, com Rogen recrutando os "parças" para emprestar seu talento vocal e elevar o jogo. Além de Edeberi, personagens ganham a performance de Jackie Chan, Ice Cube, Rose Byrne, John Cena, Giarcarlo Esposito, Mata Rudolph e um tal de Paul Rudd, que segundo os créditos faz aqui sua estreia.

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A melhor decisão, porém, foi a escolha de quatro atores adolescentes para interpretar Mike, Don, Rafa e Leo. Existe uma inocência e um entusiasmo que até então encontrava-se ausente das outras versões das Tartarugas Ninja para o cinema — em especial na encarnação crossfit produzida por Michael Bay. Aqui você não vai achar músculos pipocando, e sim o equilíbrio perfeito de ação, comédia e coração.

"Caos Mutante" é uma aventura malandra, que transborda criatividade e imaginação, embalada por hip hop, criaturas esquisitas e artes marciais. Seja um adulto nostálgico, um adolescente empolgado ou uma criança curiosa, o filme tem um pouco para todo mundo. É um deleite, e é também a melhor coisa com a marca "As Tartarugas Ninja" desde sempre. Para um quarteto que está na área há quatro décadas, é um feito e tanto!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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