'Jogos Mortais X' é beco sem saída criativo em banho de sangue habitual
Algumas coisas não têm mais espaço no mundo moderno. Como disquetes. O acendedor de postes. Pochetes. E a série "Jogos Mortais". A série de terror sádico, que popularizou o termo pornô de tortura, teve seu momento de glória na primeira década do século 21, mas perdeu a força quando outros estilos entraram em cena. Aparências enganam.
"Jogos Mortais X" é um recomeço com cheiro de naftalina. Ambientado poucas semanas depois dos eventos do primeiro filme, a nova produção recupera seu protagonista original, John Kramer (Tobin Bell), o assassino que se torna conhecido por Jigsaw. Com ele, também retornam a ultraviolência e as vítimas mutiladas que fazem a festa dos fãs.
Não que jogar um perfume faça alguma diferença. A bem da verdade, só o primeiro filme, dirigido por James Wan em 2004, trazia alguma originalidade em seu conceito, com as vítimas presas em instrumentos de tortura bem elaborados, que precisam fazer um sacrifício físico doloroso para escapar com vida. Jigsaw era o arquiteto por trás de tudo, um doente terminal que buscava ensinar o "valor da vida" as pessoas de péssimo caráter.
Barato e lucrativo, "Jogos Mortais" se tornou uma marca valiosa para a produtora Twisted Pictures. Os filmes posteriores, no entanto, muitas vezes jogavam qualquer lógica ou desenvolvimento dramático no mato para se concentrar em seu maior atrativo: as armadilhas cada vez mais intrincadas desenhadas para imolar o corpo humano até o limite.
Depois de uma tentativa frustrada em ressignificar a série com "Espiral", um fracasso comercial encabeçado por Chris Rock em 2021, "Jogos Mortais X" optou por não mexer no time campeão. O fiapo de história leva John Kramer ao México em busca de um tratamento perigoso e revolucionário para seu câncer. Quando se dá conta que tudo não passa de um esquema fraudulento para arrancar dinheiro de pacientes moribundos, ele sequestra os golpistas e os prende em suas geringonças de tortura.
O diretor Kevin Greutert, um veterano da série, armar todo o cenário com paciência, numa tentativa de sugerir algum peso dramático para as decisões de Kramer e buscar alguma simpatia para suas ações. Mas nem precisava. Entre cabeças decepadas, crânios fragmentados e membros estilhaçados, a graça de um filme como "Jogos Mortais X" está em ver o que vão bolar para despachar seu elenco.
A corda, no entanto, arrebentou. A produção é mais pobre que o habitual — basicamente tudo acontece em um único galpão —, os atores são qualquer nota e as armadilhas, embora possam provocar náuseas, não causam mais espanto. "Jogos Mortais X" é um beco sem saída criativo que existe unicamente para espremer o que sobrou da marca. Talvez seja a hora de Jigsaw finalmente descansar. Honestamente, duvido muito que deixem.
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