Roberto Sadovski

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Opinião

'Feriado Sangrento' é terror trash, violento, bobo e absurdamente divertido

A primeira cena de "Feriado Sangrento", legítimo slasher dirigido por Eli Roth, acontece em uma loja de departamentos durante uma black friday caótica. A multidão aguarda a abertura como zumbis enfurecidos. O clima lembra as imagens de um certo supermercado carioca em dia de liquidação. A turma tem sangue nos olhos. É o inferno na Terra.

O fiapinho de trama, que logo apresenta de modo rasteiro todos os personagens, vai para o espaço quando as portas são abertas e o povaréu entra sem nenhum freio. Tem gente sendo pisoteada, mutilada, escalpelada, destroçada. É a materialização do pior pesadelo quando os preços são derrubados junto com qualquer resquício de sanidade e civilidade. A tragédia abala a cidade. E o filme mal começou!

"Feriado Sangrento" segue, a partir daí, uma descida sem escalas ao submundo do cinema trash, adicionando mais um tijolinho na sólida parede dos slasher films. De Michael Myers a Jason Voorhees a Ghostface, assassinos em série são uma instituição do gênero, e é sempre bacana ver um novo candidato a se tornar um boneco Funko Pop.

Mais bizarro ainda é pensar que tudo começou como uma piada. Em 2007, Quentin Tarantino e Robert Rodriguez encabeçaram o projeto "Grindhouse", uma experiêmncia que prometia reviver o clima das sessões dupla em cinemas-pulgueiro nos grotões da América. Os filmes dos amigos, "À Prova de Morte" e "Planeta Terror", eram entrecortados por trailers de produções falsas, criados por amigos dos cineastas.

Assim, o próprio Rodriguez bolou o trailer de "Machete", com Danny Trejo, apresentado ao lado de "Don´t", de Edgar Wright, "Werewolf Women of the SS", de Rob Zombie (com Nicolas Cage e Udo Kier), "Hobo With a Shotgun", que venceu um concurso de trailer bolado para promover "Grindhouse", e o próprio "Thanksgiving", ou "Feriado Sangrento", de Eli Roth.

"Machete" virou um filme de verdade em 2010 (com direito a uma continuação três anos depois), e "Hobo With a Shotgun" foi lançado em 2011 com Rutger Hauer à frente - aqui o título foi um genérico "O Vingador". Mais de uma década de silêncio depois e Eli Roth colocou seu bloco na rua - Wright e Zombie precisam completar a mão do pôquer!

Adolescente nunca tem chance em slasher films
Adolescente nunca tem chance em slasher films Imagem: Sony
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O espírito de "Feriado Sangrento" é mesmo o da galhofa. Um ano após a tragédia da black friday, o dono da loja decide repetir a liquidação, ao mesmo tempo em que sua filha e seus amigos adolescentes, sobreviventes do evento, passam a ser caçados por um sujeito misterioso fantasiada de peregrino. O visual do sujeito, baseado na figura histórica John Carver, armado com um machado pesado, lembra o herói de "V de Vingança" com uma máscara mais vagabunda.

A diversão aqui é entrar no oceano de clichês desfilado por Roth e pelas mortes extremas que ele consegue bolar - que vão de crânios esmagados e decapitações a torsos rompidos. Uma das vítimas é assada como um peru - coisa finíssima. É um momento, diga-se, alinhadíssimo com o tema do filme, ambientado no feriado de Ação de Graças na histórica Plymouth, no estado de Massachusetts.

Eli Roth, que tem no currículo bons exemplares do terror como "Cabana do Inferno", "O Albergue" e "Canibais", até finge estar fazendo um filme redondinho. Ele apresenta uma série de suspeitos com motivos para desenhar um plano de vingança, mas a certa altura o diretor cansa de colocar peças no tabuleiro e chuta o balde com força.

Peru assando, família feliz!
Peru assando, família feliz! Imagem: Sony

Daí a lógica sai para comprar cigarros e não volta mais. Roth simplesmente ignora metade dos personagens e das pistas deixadas ao longo do filme e aumenta o volume na insanidade para resolver a trama. E dá-lhe soluções inverossímeis, jump scares aos borbotões e, como em todo bom slasher, uma conclusão que deixa espaço para uma continuação. Tudo exagerado, tudo divertidíssimo.

"Feriado Sangrento" seria o filme perfeito para alugar em VHS no fim de semana (dois filmes, leva na sexta, devolve na segunda), um ritual que certamente embalou sessões no porão da casa do diretor ao lado de seus próprios amigos adolescentes. O susto dos anos 1980 é a ironia do novo século, sentimento aqui traduzido à perfeição. Mas é melhor Eli Roth correr se planeja uma continuação. O cinema de terror, afinal, está ficando sem feriados.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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