Roberto Sadovski

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Opinião

'Maestro': Bradley Cooper quer muito (mas muito mesmo!) ganhar um Oscar

Não é impossível que "Maestro", segundo filme com Bradley Cooper na direção, faça bonito na próxima festa do Oscar. Conservador e redondinho, a biografia de Leonard Bernstein é o tipo de drama classudo que a Academia elege para rechear de prêmios. Impossível, de fato, não é. Mas, a essa altura, é improvável.

O motivo é a beleza puramente superficial da obra de Cooper. Obviamente apaixonado pela vida e o legado de Bernstein, um dos maiores, mais talentosos e mais bem-sucedidos compositores da história, o diretor sentiu o peso e a responsabilidade de condensar sua vida na metragem de um filme. Sua opção foi por um recorte intimista, voltado para seu relacionamento com a atriz Felicia Montealegre.

A decisão ressaltou as imperfeições de "Maestro". Sem se assumir como uma celebração da música imortal de Bernstein, e carregando no melodrama em sua estrutura, o filme nunca encontra foco, nunca revela a cola que segura suas partes. Falta diálogo entre seus fragmentos, falta um centro emocional para que o público entenda o impacto de sua arte e como seu relacionamento e sua sexualidade desenharam suas escolhas.

Afinal, Leonard Bernstein foi uma figura complexa, cuja trajetória confunde-se com a própria história cultural contemporânea dos Estados Unidos. As polêmicas, tão poderosas quanto sua música, ganham aqui posição passiva, colocadas no banco do passageiro de um drama que flerta perigosamente com o clichê do romance trágico marcado por uma doença.

A seu favor, Bradley Cooper traz um imenso talento como realizador. Diretor nato, com olhar preciso para compor cada cena e para extrair o melhor de seu elenco, ele arquiteta cada cena como um palco, abrindo espaço para seus colegas brilharem. Carey Mulligan, no papel de Felicia, é o óbvio coração da trama, e é um deleite sempre que a história passa a ser narrada por seus olhos.

"Maestro" também consegue trazer a grandiosidade de Bernstein como artista, em especial em seu clímax, quando ele conduz a "Sinfonia Nº 2", de Gustav Mahler, em um concerto na Catedral de Ely, na Inglaterra. É um momento agridoce que ressalta toda a força de "Maestro", mas também revela sua maior fraqueza, que é o próprio Bradley Cooper no papel de Bernstein.

A essa altura, Cooper não precisa se provar como ator. Desde que deixou os papeis coadjuvantes de lado ao liderar o elenco de "Se Beber, Não Case!", em 2008, ele conseguiu equilibrar os requisitos de astro do cinema espetáculo com o protagonista de projetos mais intimistas. Foram nove indicações ao Oscar, sendo quatro como ator - uma como coadjuvante (em "Trapaça") e três na categoria principal ("O Lado Bom da Vida", "Sniper Americano" e "Nasce Uma Estrela").

Bradley Cooper e Carey Mulligan em 'Maestro'
Bradley Cooper e Carey Mulligan em 'Maestro' Imagem: Netflix
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Este último, terceira refilmagem do drama clássico de 1937, marcou sua estreia como diretor e um salto considerável em seu capital hollywoodiano. Sem abrir mão do bom humor em outros projetos - como a performance vocal como Rocket na série "Guardiões da Galáxia" e as pontas em "Licorice Pizza" e em "Dungeons & Dragons" -, ele optou por trabalhos na direção que apontam para uma consagração artística validada pelo Oscar.

"Maestro", de fotografia impecável, direção de arte cuidadosa e riqueza de elementos de produção, é um chamariz para a estatueta, um filme com os predicados que supostamente conquistam a Academia. Embora tenha executado uma obra de beleza inegável, o pecado de Bradley Cooper foi tentar demais. Como resultado, cada elemento de "Maestro" exige atenção para si, prejudicando o filme como o conjunto de suas partes.

Cooper, em especial, fez de seu Leonard Bernstein um personagem que, embora rico em suas nuances, por vezes beira o caricato. É o que acontece quando a necessidade em mostrar a técnica emperra a naturalidade da atuação. Esse exibicionismo deixa claro o quanto ele quer um Oscar para chamar de seu. Bradley Cooper certamente merece. Mas não deve ser desta vez.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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