Roberto Sadovski

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Opinião

Perfeitamente ignorável, 'Beekeeper' derrapa por Jason Statham não sangrar

"Duro de Matar" não se tornou um clássico moderno do cinema de ação à toa. Lançado em 1988, o filme de John McTiernan foi na contramão do padrão "exército de um homem só" e fez de seu protagonista, John McClane (Bruce Willis, claro), um sujeito normal, e não uma montanha de músculos invencível. Assim como nós, ele sangra, o que o torna mais humano.

Jason Statham definitivamente não é John McClane.

Em "Beekeeper - Rede de Vingança", o astro é Adam Clay, um "apicultor", código para agentes letais de um programa secreto que só existe mesmo na seara do cinema de ação. Aposentado, ele vira a chavinha quando a senhora boazinha que lhe aluga espaço num celeiro, enquanto ele cuida das abelhas (sim, é literal), cai num golpe cibernético que lhe raspa as economias. Desesperada, ela tira a própria vida.

Tudo isso acontece muito rápido, com a interação dos personagens em uma ou duas frases. "Beekeeper" tem pressa e coloca em cena a filha da vítima, uma agente do FBI (Emmy Raver-Lampman), e o bilionário (Josh Hutcherson) que controla as centrais telefônicas especializadas em roubar a pensão de aposentados. Quem tenta organizar o circo é Jeremy Irons, em momento de sonambulismo dramático. Enquanto isso, Clay/Statham quer vingança.

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Com direção de David Ayer, "Beekeeper" não se esforça para se diferenciar da avalanche de fitas de ação que substituem lógica por pancadaria. O problema aqui é que, em certos momentos, seus realizadores sequer parecem fazer questão. A violência é de desenho animado, os personagens têm consistência de pudim e a grande reviravolta só revira nossos olhos.

Em meio ao caos, Jason Statham segue como Jason Stahtam na estrutura padrão do gênero. Seus antagonistas descobrem o quanto ele é perigoso, e o "apicultor" enfrenta adversários em ondas. Sua substituta no programa, descrita como "totalmente louca", sequer ganha nome antes de ser removida. Depois vem um grupo de "fuzileiros e soldados" que não servem de muita coisa, até a inevitável "escória da sociedade".

Não importa a ameaça, nosso herói segue sem um arranhão, sem suar a camisa. Sangue mesmo só no combate final, quando Clay sai no braço com o minion-mor - que parece removido de alguma versão pirata de "GTA". Ainda assim, como diria Jack Slater em "O Último Grande Herói", todo ferimento foi "só de raspão". Pior: "Beekeeper", ao contrário do filme com Schwarza, se leva a sério.

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Jason Statham faz seu trabalho em 'Beekeeper'
Jason Statham faz seu trabalho em 'Beekeeper' Imagem: Diamond

David Ayer é um cineasta interessante, construiu sua carreira ao colocar a ação urbana com os pés fincados no chão. Primeiro ao escrever "Dia de Treinamento", depois como diretor em "Os Reis da Rua". Seu "Corações de Ferro" é um belíssimo filme de guerra em que a pirotecnia está em segundo plano. Depois de "Esquadrão Suicida", porém, ele ainda não recuperou seu mojo.

John McClane segue como melhor modelo de herói de ação porque sua criação colocou o homem comum no centro do gênero. Depois de "Duro de Matar", a pancadaria cinematográfica ficou mais acolhedora, os riscos se tornaram maiores, assim como nosso interesse. Entretanto, em algum momento, talvez por conta da profusão do cinema de super-heróis, o exército de um homem só voltou a vigorar. Uma pena.

"Beekeeper", com sua violência estilizada e seus personagens caricatos, é projeto para Ayer manter a bola em jogo e para Statham emplacar (mais) uma série como o brucutu irrefreável, uma variação do que já o vimos fazer em "Os Mercenários", em "Velozes & Furiosos", em "Megatubarão". Se ele sangrasse pra valer, se ele parecesse mais humano, se ele fosse menos Jason Statham, talvez seus filmes tivessem uma chance. Vã esperança. Pelo menos ainda temos Gerard Butler.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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