Roberto Sadovski

Roberto Sadovski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Alexander Payne fala sobre a parceria com Paul Giamatti em 'Os Rejeitados'

"Mas é claro!" Alexander Payne mal deixa eu terminar minha primeira pergunta e já atropela com a resposta. É compreensível, e provavelmente ele a ouviu em todas as entrevistas ao longo da divulgação de "Os Rejeitados": "Seria possível fazer outro filme com Paul Giamatti sem ter de esperar outros 20 anos?"

Pois é. Pode não parecer, mas lá se vão duas décadas desde que eles trabalharam juntos em "Sideways - Entre Umas e Outras". Quarto trabalho de Payne como diretor, a comédia dramática de 2004 colocava Giamatti como um sommelier de vinhos amador que embarca numa road trip com um amigo prestes a casar — papel de Thomas Haden Church.

O personagem refinava as características dos protagonistas geralmente desenhados por Payne — o sujeito em crise que busca realinhar o foco de sua vida. Foi assim com Matthew Broderick (em "Eleição") e Jack Nicholson (em "As Confissões de Schmidt"), e em seguida com George Clooney ("Os Descendentes") e Bruce Dern ("Nebraska"). Nenhum deles, porém, materializou de uma forma tão perfeita quanto Paul Giamatti.

Alexander Payne no set de 'Os Rejeitados'
Alexander Payne no set de 'Os Rejeitados' Imagem: Universal

"O que nos deixa mais desconfortáveis com o personagem é o quanto nos enxergamos nele", continua Payne. "Essa empatia, pode acreditar, é mérito de Paul." É uma construção dramática que existe nos detalhes. É o tom de sua voz. O modo como ele repete fisicamente quem busca qualquer intimidade ao agitar os braços. O desconforto latente em alguém sem a menor bateria social.

Não é um personagem fora do repertório de Giamatti. Do drama à comédia, até em filmes de ação, o ator está habituado a dar vida a sujeitos pouco agradáveis. Foi assim com Harvey Pekar em "Anti-Herói Americano" e Marty Wolf em "O Grande Mentiroso". O desconforto era aparente em "A Minha Versão do Amor" e dolorosamente explícito em "O Espetacular Homem-Aranha 2".

"Os Rejeitados" lhe trouxe espaço para expandir esse escopo, e ainda assim ele permanece irritantemente simpático. "Acho que cada um enxerga no personagem um pouco de si", teoriza o diretor, que emenda uma provocação. "Ou talvez seja você que precise entender por que se identifica tanto com ele!"

Eu pego a deixa e, lembrando que seus filmes lidam com a dificuldade em pessoas interagirem umas com as outras, pergunto se nós, como seres humanos, somos incapazes de entender nossa própria natureza. "É algo que eu busco compreender quando faço meus filmes", pondera. "Acredito que levantar a questão já é parte dessa busca."

Em "Os Rejeitados", parte desse entendimento vem da interação de personagens de perfis muito diferentes, que precisam compartilhar sua dor em prol de sua convivência. Ao longo das filmagens, o diretor explica que não precisou se esforçar para ressaltar a sensação de isolamento. "Claro que é um filme, tínhamos uma equipe por trás das câmeras", explica. "Mas em cena é aquilo que você vê, três pessoas obrigadas a compartilhar um espaço limitado."

Continua após a publicidade

A ambientação nos anos 1970, época em que internatos como a fictícia Academia Barton eram mais comuns, ajuda a concentrar os personagens neles mesmo. "Não havia tecnologia para conectar as pessoas ao mundo na palma da mão", continua. "O que havia era interação humana real, e na situação do filme o choque entre os personagens seria inevitável."

Entre os personagens, sim. Entre os atores, o clima era outro. "Paul é o sujeito mais divertido para estar em um set", entrega, entusiasmado. "Sempre bem humorado, sempre acessível." Depois da estrada de "Sideways" e do internato de "Os Rejeitados", pergunto onde o cineasta quer levar Paul Giamatti uma próxima vez. "Ainda não tenho planos", conclui, enfático. "Mas eu garanto que não vai levar mais 20 anos!"

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes