Roberto Sadovski

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Opinião

Cerimônia tardia do Emmy foi festival de cafonice e obviedades

O Emmy 2023 devia ter sido transmitido em setembro. As greves em Hollywood, de roteiristas e de atores, empurraram a cerimônia para este começo de ano, atolando ainda mais uma temporada já coalhada de premiações. Los Angeles adora uma festa, mas a turma precisa encontrar um limite.

A overdose de informação teve uma consequência imediata: o Emmy transcorreu com zero novidades. Seus premiados espelharam o que tem acontecido em outras celebrações. Neste caso em particular, muitos vencedores subiram a um palco no dia anterior, no Critic's Choice Awards, gastando discursos e figurinos. Chegar até o Oscar será como correr uma maratona.

Claro que houve pontos iluminados neste Emmy, que celebrou a 75ª edição do prêmio. O principal foi a escolha de Anthony Anderson como host. Ao contrário da metralhadora de grosserias e humor anêmico de Jo Koy, um desastre na condução do Globo de Ouro há algumas semanas, Anderson foi gracioso, teve pulso para dar dinamismo à festa e, o principal, foi engraçado na medida certa.

Outras inovações não tiveram tanto sucesso assim. A ideia de reproduzir no palco cenários de séries emblemáticas da TV americana parecia boa em teoria. Na prática, contudo, o que vimos foram atores, velhos e novos, levemente perdidos em meio a uma cenografia que lembrava o palco de "A Praça É Nossa" — e, não, não é um elogio.

'Succession' ganha prêmio de Melhor Série de Drama no 75º Emmy Awards
'Succession' ganha prêmio de Melhor Série de Drama no 75º Emmy Awards Imagem: Kevin Winter/Getty Images

Os premiados, por sua vez, foram a frustração de qualquer casa de apostas. Sem absolutamente nenhuma surpresa, "Succession" sagrou-se como drama, "O Urso" como comédia (!), com prêmios sobrando também para "Treta". A diversidade temática é um bom sinal, mas não se justifica, com o volume de boas produções no ar, uma ou outra série ter até quatro (!) indicados na mesma categoria.

Isso é sintoma não da competência da produção do Emmy, e sim de um momento em que a TV procura firmar mais uma vez seu pé ante um cenário elevado à enésima potência. São emissoras veteranas e canais a cabo, redes independentes e plataformas de streaming, tudo ao mesmo tempo produzindo um oceano de novos filmes e séries. Arrisco que muitos dos votantes preferem, então, votar em nomes populares e hypados, deixando o garimpo de lado.

Mas essa é a natureza dessa temporada, em que o funil se estreita e os títulos mais badalados celebram seu sucesso coletivo — no caso de "Succession", sobrou estatueta do Emmy para todo mundo. A qualidade da série é indiscutível, mas a sensação de "troféu de participação" embaça um pouco de seu brilho.

Em setembro, se o planeta girar sem problemas em torno do Sol, teremos mais uma celebração da TV — desta vez um Emmy 2024 sem deixar dúvidas. A esperança é que a festa traga algum tempero para sacudir sua obviedade. Dedos cruzados. Ah: "O Urso", por favor, não é comédia!

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'O Urso' ganha como Melhor Série de Comédia no 75º Emmy Awards
'O Urso' ganha como Melhor Série de Comédia no 75º Emmy Awards Imagem: Kevin Winter/Getty Images

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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