'Donzela' traz Millie Bobby Brown tomando o controle de seu próprio destino
"Donzela" é um conto de fadas às avessas. Em vez de resgatar uma dama em perigo, é o príncipe quem atenta contra a vida de sua prometida, oferecendo-a literalmente em sacrifício a um dragão. A jovem, Elodie, também não espera ser salva por algum cavaleiro de armadura reluzente: é ela quem traça sua própria jornada para driblar a morte certa e ressurgir triunfante.
Millie Bobby Brown, por sua vez, nunca teve de encarar uma fera determinada a lhe fazer de churrasco. Mas à exemplo de Elodie, que ela interpreta em "Donzela", a jovem atriz tomou as rédeas de sua carreira e está traçando seu destino no cenário da cultura pop. Não somente na frente das câmeras, mas também no papel de produtora - além de escritora, diretora e ativista. Isso tudo antes de atingir a idade legal para beber cerveja nos Estados Unidos.
O ponto de partida da trajetória da jovem de 20 anos foi a série "Stranger Things", que se tornou em 2016 uma das séries mais sensacionais da Netflix. Agora caminhando para sua quinta e última temporada, a criação dos irmãos Matt e Ross Duffer, uma fantasia de ficção científica ambientada nos anos 1980, deixa como seu maior legado um elenco de jovens astros, responsável por uma bem-vinda renovação no rosto da cultura pop do novo milênio.
Entre conspirações governamentais, criaturas inter dimensionais e o resgate de uma estética nostálgica como ferramenta de marketing, a jovem paranormal Eleven, papel de Millie, logo foi elevada à posição de ícone pop. Boa parte do mérito se deve à atriz, que chamou a atenção de uma Hollywood ávida por novos talentos e passou a dividir as temporadas seguintes da série com projetos que culminaram com sua estreia no cinema, o que ocorreu em 2019 com "Godzilla: O Rei dos Monstros".
Esse tipo de atenção seria o bastante para tirar o foco de qualquer jovem galgando as escadarias da fama hollywoodiana. Não foi o caso de Millie Bobby Brown. Em vez de diluir sua "marca", ela negociou um contrato como produtora com a Netflix, criando uma série para chamar de sua, "Enola Holmes" - já em seus segundo filme. "Donzela" é a evolução desse acordo, em que a atriz seleciona projetos, os talentos envolvidos e os temas que são preciosos para uma jovem antenada com os anseios do novo século.
Para o diretor espanhol Juan Carlos Fresnadillo, trabalhar com uma jovem tão determinada foi uma boa surpresa. "Ela é muito jovem, mas sua alma é complexa, profunda e muito rica", derrete-se sobre sua protagonista. "Millie é uma pessoa muito atenta, e seus anos nessa indústria, em que ela começou tão jovem, lhe deram a experiência para entender a mecânica de uma produção que poucos atores de sua idade possuem."
Boa parte da ação em "Donzela" acontece com Millie sozinha, esgueirando-se pela caverna de uma fera mítica que cospe fogo. "Eu queria manter a câmera muito próxima a seu rosto para que o público experimentasse seu sofrimento", continua. "Millie adorou a ideia, mesmo que isso significasse que ela teria de fazer algumas cenas sem dublês em um trabalho físico mais rigoroso. E ela encarou tudo sempre com a mesma energia."
Robin Wright tinha 21 anos quando estrelou "A Princesa Prometida", e também se viu em meu ao atribulado jogo hollywoodiano. A atriz navegou a indústria em projetos de prestígio como "Forrest Gump", "Corpo Fechado" e, mais recentemente, se reconectou com o cinema fantástico ao fazer parte do elenco estendido da série "Mulher-Maravilha".
Foi na TV, contudo, que Robin encontrou sua personagem de maior sucesso, a implacável Claire Underwood de "House of Cards". Na série co-criada por David Fincher, ela terminou creditada como produtora executiva e, em dez episódios, também como diretora - posição que repetiu no cinema no drama "Um Lugar", de 2021.
Para ela, "Donzela" é a oportunidade de assistir à ascensão de uma jovem como Millie Bobby Brown em uma aventura que fala diretamente com essa nova geração. "O mais interessante é ver a própria dama se livrando do perigo", brinca. "Millie é uma potência, e é revigorante ver uma jovem com tamanha força." Quando pergunto qual a maior qualidade que ela enxerga na atriz, Robin é direta: "Sua honestidade! Quando ela está atuando eu não acredito que exista um osso falso em seu corpo!".
"Donzela" é parte do plano de amadurecimento de Millie Bobby Brown. Ela tinha 12 anos quando "Stranger Things" se tornou um fenômeno, e navegou por sua adolescência de forma cuidadosa - especialmente em tempos de superexposição e de redes sociais. Seus trabalhos seguintes a colocaram em plataformas diferentes.
Ela publicou "Nineteen Steps", romance inspirado na história de sua família, tornou-se embaixadora da UNICEF, é dona de sua própria marca de produtos de beleza, Florence by Mills, e estreou como diretora em um curta-metragem patrocinado pela Samsung. Para seu próximo filme, ela foi selecionada pelos diretores Joe e Anthony Russo como protagonista da ficção científica "The Electric State", dividindo a cena com Chris Pratt e Ke Huy Kuan.
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Quero receberSair sem arranhões do vale dos astros infantis não é fácil - especialmente quando a indústria dispara as expectativas. Alicia Silverstone e Lindsay Lohan tentaram ampliar seu alcance como produtoras e foram engolidas por Hollywood. Felizmente, a história não parece se repetir na trajetória de Millie Bobby Brown, que decifrou o mecanismo das celebridades no século 21 a seu favor. "Donzela" é o reflexo de uma jovem determinada a fazer sua própria história.
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