'Garfield - Fora de Casa' é bom retorno do gato mais famoso da cultura pop
"Garfield - Fora de Casa" é um filme seguro. Não existem entrelinhas na aventura do personagem criado por Jim Davis. Nada de refletir questões do mundo real ou de tecer comentários sobre a condição humana. Ao contrário de outras tiras, como "Peanuts" ou "Mafalda", não há nenhum espaço para considerações políticas ou sociais. Existe, por outro lado, pizza, lasanha e desdém pela segunda-feira. Prioridades.
Esse pragmatismo é uma decisão acertadíssima do diretor Mark Dindai ("A Nova Onda do Imperador", "Chicken Lottle") e deixa seu filme alinhado com o trabalho de Jim Davis. Desde o final dos anos 1970, quando surgiu pela primeira vez em jornais americanos, "Garfield" optou pela celebração da preguiça, representada nas curvas generosas do gato laranja que se tornou um dos grandes ícones da cultura pop.
O novo filme tem um alvo bastante específico: crianças bem longe da puberdade, que se encantam com o humor pueril, se assustam com as ameaças lúdicas e se emocionam quando o filme toca o coração. "Garfield - Fora de Casa" é uma tentativa de reiniciar a trajetória do personagem no cinema depois de duas versões mezzo live action, em que o felino digital trazia a voz de Bill Murray.
A trama aqui remete às origens de Garfield. Ainda filhote, ele é abandonado por uma figura misteriosa em um beco e, seguindo o faro e o estômago, esbarra em quem seria seu tutor, Jon, em uma cantina. Adotado, Garfield divide a casa não só com Jon, mas com o cãozinho Odie, um bobalhão adorável dedicado a servir nosso herói laranja de todas as formas.
A trama de "Fora de Casa" recupera essa figura do passado de Garfield que calha de ser seu pai, Vic, que reaparece em sua vida graças a maquinações da gata ardilosa Jinx. O plano é forçar Garfield e Vic a roubar uma fazenda de leite, e no processo os dois são obrigados a se reconciliar com seu passado — isso se não forem capturados pela carrocinha. É um filme fofinho, de fácil compreensão e executado com leveza.
Não espere em "Garfield - Fora de Casa", portanto, nenhuma sofisticação visual ou narrativa. A experiência não traz o apuro de um "Toy Story": é assumidamente um produto, trabalhado por um comitê, com cuidado para ser inofensivo, para ser redondinho em uma trama careta. Você não sai da sessão pensando sobre a vida ou maravilhado com inovações narrativas, ou tecnológicas. E nem precisa.
A sessão que acompanhei, coalhada de crianças, mostrou que os responsáveis por esse retorno de Garfield acertaram no alvo, com a plateia mirim aplaudindo a aventura de um herói que ela sequer sabia que gostava. Que ninguém se engane: movimentando quase US$ 1 bilhão em merchandising por ano, Garfield é onipresente. Mesmo sendo um produto, seu novo filme é uma graça. Às vezes é o que basta.
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