Nicolas Cage em 'Noir' é o Homem-Aranha que a gente nem sabia que precisava
"Nicolas Cage é o Homem-Aranha." Achei que fosse pegadinha, até confirmar o fato: o ator mais pop do planeta vai encabeçar uma série live action inserida no universo do herói Marvel. "Noir" será ambientada na Nova York dos anos 1930, com o astro no papel de um detetive calejado preso a seu passado como o único super-herói da cidade.
Se a premissa soa estranhamente familiar, você acertou. O Homem-Aranha Noir foi uma das variantes dimensionais do herói, apresentado como um dos protagonistas da animação oscarizada "Homem-Aranha no Aranhaverso", de 2018. O longa trazia Miles Morales, adolescente que ganha poderes aracnídeos e salva a realidade com a ajuda de versões-aranha de outras dimensões.
Uma delas era justamente o Homem-Aranha Noir, que veio de um mundo pré-Segunda Guerra Mundial, brutalizado e sem cor, e ganhou a voz, claro, de Nicolas Cage. Como a nova série será produzida por parte do time de "Aranhaverso" —Phil Lord, Chris Miller e Amy Pascal— não descarto que possa haver alguma intersecção de projetos em algum ponto. Se é para ter um multiverso, então é melhor mergulhar de vez.
A CATRACA GIRA
É compreensível que alguns fãs mais conservadores do Aranha tenham torcido o nariz. Ampliar o escopo do personagem, contudo, é inevitável até mesmo pela natureza da produção audiovisual. Nos quadrinhos há mais de seis décadas, o Homem-Aranha teve o luxo de protagonizar histórias mensais com autores que puderam, entre acertos e erros, ramificar sua personalidade ao longo dos anos.
O cinema —e, agora, as séries em streaming— habitam outro cenário. Quando Sam Raimi colocou Tobey Maguire para subir paredes em "Homem-Aranha", de 2002, o fenômeno que o filme despertou se deve muito em parte a seu ineditismo. De lá para cá, o teioso apareceu em mais uma dezena de filmes —outros dois com Maguire, mais dois com Andrew Garfield e cinco vezes na pele de Tom Holland. A catraca gira e o público, por fim, exige renovação.
900 PERSONAGENS
O segundo fator nessa equação são os direitos do Homem-Aranha, que hoje seguem nas mãos da Sony. Embora exista um acordo com a Marvel para produzir suas aventuras no universo compartilhado do estúdio, é razoável assumir que os donos da bola não vão ficar sentados em cima de mais de 900 personagens associados à marca "Homem-Aranha".
Como resultado dessa expansão, tivemos duas obras-primas em animação, "Homem-Aranha no Aranhaverso" e sua continuação, "Através do Aranhaverso". Mas também tivemos empreitadas por vezes divertidas, outras vezes artisticamente equivocadas. Tom Hardy fez "Venom" e sua continuação, "Tempo de Carnificina", que não ofendem se você ainda estiver na puberdade —o ator agora trabalha em um terceiro filme.
CADARÇOS DE TEIA
Menos sorte teve Jared Leto com o pavoroso "Morbius" e, recentemente, Dakota Johnson e o completo desastre "Madame Teia". Para este ano, o "universo do Aranha sem o Aranha" ainda reserva "Kraven, o Caçador", com Aaron Taylor-Johnson e Russell Crowe. Filmes genéricos que se aproveitam da muleta de uma marca poderosa. É do jogo.
Com "Noir", por outro lado, existe um conceito do Homem-Aranha nunca antes explorado, o que ganha pontos com a energia frenética de Nicolas Cage. É a primeira vez que o astro se compromete com uma série para a TV, e só não digo que também é o primeiro produto do Aranha na telinha porque tenho senioridade para dizer que assistia aos domingos a Nicholas Hammond disparando cadarços de sapato e escalando paredes como o Cabeça de Teia. Ah, a idade...
QUE VENHAM OS MEMES
Explorar uma propriedade intelectual é parte do trabalho de uma grande corporação, e até demorou para que a Sony capilarizasse seu ativo mais valioso. Além disso, super-heróis de época sempre tem um sabor diferente, especialmente quando suas aventuras são ambientadas justamente na época em que essa nova mitologia americana foi criada. Não sei mesmo como a Disney até hoje não bolou um crossover Capitão América/Indiana Jones/Rocketeer.
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Quero receberDesde que "X-Men" inaugurou a era dos super-heróis no novo milênio, todo tipo de personagem, grande ou pequeno, especialmente das gigantes Marvel e DC, são vistos como uma nova série em potencial. A fadiga de seres superpoderosos certamente é real, mas produtos como "X-Men '97" provam que, com cuidado, é possível reacender o interesse em velhos soldados. Com Nicolas Cage à frente, "Noir" já sai à frente de todos os seus pares. No mínimo, teremos uma nova coleção de memes.
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