Amy Winehouse não merecia um filme medíocre como 'Back to Black'
Amy Winehouse foi uma das personalidades mais vibrantes da cultura pop moderna. Dona de um vozeirão único e com muita personalidade, compositora de imenso talento, ela aninhou-se num cruzamento entre o jazz e o pop e o ilustrou com letras confessionais, ácidas e estruturalmente complexas, ainda que extremamente acessíveis. Viveu sem fazer concessões, na velocidade da luz, e terminou vítima de seus próprios excessos.
"Back to Black", biografia da cantora, deixa tudo isso de lado. Nas mãos da diretora Sam Taylor-Johnson ("O Garoto de Liverpool", "Cinquenta Tons de Cinza"), não existe celebração de seus triunfos ou mesmo alguma reflexão ante suas tragédias. Amy é reduzida ao clichê da artista trágica, enlaçada por uma história de amor obsessiva e enfadonha.
Sua música é deixada de lado, assim como sua influência no cenário pop britânico moderno. "Back to Black" opta pelo caminho mais óbvio sem fazer o dever de casa básico em uma biografia: tentar entender o biografado, tentar se aprofundar no dilema entre o sucesso e a personalidade autodestrutiva. Na falta de uma visão clara, sobra o moralismo tacanho e a vontade, ainda que velada, em vilanizar a vítima.
A trama é linear, inicia quando Amy cantava nos pubs de Camden Town, bairro que adotou como seu em Londres. Ela vive uma estrutura familiar fragmentada que o filme não tem o menor interesse em explorar. O sucesso veio cedo, assim como o primeiro contrato e o primeiro álbum, desenhado sobre suas experiências amorosas —momentos chave que o filme ignora sem o menor pudor.
A pressa de Taylor-Johnson é promover o encontro de Amy, já famosa, e Blake Fielder-Civil, por quem ela se apaixona perdidamente. A partir daí, "Back to Black" se torna um novelão sob a perspectiva dos tabloides, retratando a cantora como uma diva violenta, constantemente embriagada e enlaçada em um casamento tóxico, o que fez a festa dos paparazzi —a presença dos fotógrafos é tão intensa que aproxima perigosamente sua narrativa da paródia.
Apesar da escolha pelo recorte amoroso, o público fica à deriva para entender como Amy se agarrou tão ferozmente a Blake. A música que ela fez para enfrentar seus demônios termina, mais uma vez, à margem da trama.
São opções artísticas incompreensíveis, esperadas em alguma produção televisiva barata, mas que ganham volume neste filme que não tem nada a dizer sobre Amy Winehouse, sua influência, sua vida ou sua música. É uma obra feita por robôs.
A maior vítima da empreitada termina sendo a atriz Marisa Abela. Com o dever de casa pronto, ela se esforça para dar alguma dimensão a Amy Winehouse, e sua ótima presença cênica quase compensa o desinteresse, o ritmo glacial e, por fim, o total desrespeito à sua protagonista. Quase. Como filme, "Back to Black" é, quando muito, medíocre. Como biografia de uma das cantoras mais celebradas da música moderna, é um completo desastre.
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