Roberto Sadovski

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Opinião

25 anos de 'A Ameaça Fantasma': como George Lucas ressuscitou 'Star Wars'

"É o pessoal da fila." Era verão em Nova York e eu estava na Forbidden Planet, comic book store perto da Union Square. Pessoas com sabres de luz de plástico entravam na loja para usar o banheiro, atraindo olhares de desdém e surpresa do pessoal atrás do balcão. Atravessando a rua, um multiplex United Theater agrupava em sua calçada uma turma curiosa, reunidos às dúzias seguindo um cartaz singelo feito a mão, colado em uma cadeira de praia: "A fila começa aqui".

Em poucos dias, "Star Wars - Episódio 1: A Ameaça Fantasma" estreava nos cinemas americanos, precisamente em 19 de maio de 1999, um quarto de século atrás. A euforia dos fãs da saga bolada por George Lucas, então dormente há 16 anos, havia contagiado o tecido do inconsciente coletivo, rompendo a bolha pop para se transformar, mais uma vez, em um fenômeno cultural. Com "A Ameaça Fantasma", "Star Wars" estava finalmente de volta ao cenário.

Para entender não só a euforia, mas também o impacto do retorno da família Skywalker como um colosso de marketing, é preciso um pouco de contexto. "Star Wars" não existia como fenômeno de massa desde 1983, ano do lançamento de "O Retorno de Jedi". O filme que encerrou a trilogia original fechou também as portas dessa mitologia moderna para o grande público. "Star Wars" passou a ser objeto de nicho, alimentado por livros, games, quadrinhos e brinquedos que miravam unicamente os iniciados.

Natalie Portman, Liam Neeson, Jake lloyd e Ewan McGregor em 'Star Wars: A Ameaça Fantasma'
Natalie Portman, Liam Neeson, Jake lloyd e Ewan McGregor em 'Star Wars: A Ameaça Fantasma' Imagem: LucasFilm

O inegável poder da marca, contudo, foi posto à prova em 1997, quando a LucasFilm deu um banho de loja nos filmes originais e os recolocou no cinema. Uma produção com duas décadas de idade, assistido ininterruptamente por gerações, voltou a fazer barulho. Além dos US$ 140 milhões faturados nos cinemas, as "edições especiais" retocadas por Lucas e seu time recuperaram a relevância pop de "Star Wars" - título internacional agora unificando, aposentando nosso "Guerra nas Estrelas".

Foi a tempestade perfeita. A internet aos poucos passava a ser a principal ferramenta do entretenimento, dando voz a fãs que não se contentavam mais em ser observadores passivos. As grandes convenções de quadrinhos, fantasia e ficção científica passaram a reverberar fora do nicho, chamando a atenção dos grandes estúdios como lugar perfeito para alardear seus produtos. E tudo havia começado de forma orgânica, como em filas em uma esquina de Nova York, antecipando o clima de celebração.

"Star Wars: A Ameaça Fantasma" foi, sem nenhuma surpresa, a maior bilheteria nos cinemas em 1999, com US$ 930 milhões em caixa - os relançamentos ajudaram o filme a bater na marca de 1 bilhão de Bidens. Não foi, claro, o melhor filme do ano: é uma aventura sem foco, incerta da história que quer de fato contar. Também não foi uma grande revolução cultural, que naquele ano se dividiu entre "Matrix" e "A Bruxa de Blair".

Darth Maul, o vilão de 'Star Wars: A Ameaça Fantasma'
Darth Maul, o vilão de 'Star Wars: A Ameaça Fantasma' Imagem: LucasFilm

Para Lucas, contudo, isso era o que menos importava. O burburinho em torno de "A Ameaça Fantasma" ampliou a mitologia de "Star Wars" com novos personagens, heróis e vilões, novos mundos e, também, novas tecnologias. Foi uma revolução com o uso de CGI, combinado a maquetes e miniaturas, e também no marketing de um filme, com o estúdio amarrando parcerias que colocaram a marca muito além de seu público-alvo principal. "A Ameaça Fantasma" limpou o terreno para que "Harry Potter", "O Senhor dos Anéis" e os super-herois da Marvel pudessem correr.

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George Lucas, claro, entendeu a capilarização inevitável que as propriedades intelectuais experimentariam no novo milênio, com os fãs se desdobrando na exploração de novas mídias. Ao contrário do mundo pós "O Retorno de Jedi", as múltiplas plataformas não falavam unicamente com o fã tradicional. Um bom exemplo é a série em animação "Clone Wars", que arrebanhou uma geração que nunca assistiu à trilogia original nos cinemas.

Respirando sem ajuda de aparelhos, "Star Wars" reconquistou seu lugar de direito na cultura pop e não diminuiu mais o ritmo. Quando a Disney adquiriu a LucasFilm em 2012, uma expansão ainda mais agressiva foi o passo natural. Ao lado de uma nova trilogia nos cinemas, todos sucessos de mais de US$ 1 bilhão, a série ganhou dois filmes fora da narrativa principal - "Rogue One" e "Han Solo" - e, pela primeira vez, levou sua excelência de produção para a TV.

Os Jedi entram em ação em 'Star Wars: A Ameaça Fantasma'
Os Jedi entram em ação em 'Star Wars: A Ameaça Fantasma' Imagem: LucasFilm

"The Mandalorian" trouxe o espírito do western para a saga, ao passo que séries como "Obi-Wan Kenobi", "Andor" e "Ahsoka" ampliaram suas possibilidades narrativas. Este ano, "The Acolyte" e "Skeleton Crew" buscam expandir a série de forma mais radical, abordando outros períodos de tempo e se afastando da história destrinchada ao longo de quase cinco décadas.

Esse novo fôlego, criativo e corporativo, foi disparado há 25 anos com "Star Wars: A Ameaça Fantasma", um fenômeno que trouxe uma nova forma de perceber e consumir cultura pop. Curiosamente, o filme com Ewan McGregotr, Natalie Portman e Liam Neeson está sendo redescoberto - e aplaudido - por uma geração que não acompanhou sua estreia em 1999. Jar Jar Binks, vai saber, ainda poderá ser celebrado como um grande herói.

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